Capítulo 4

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Hoje está completando 1 mês de consulta com a Dr Sara, confesso que sempre anseio pela dia de ir. Sempre conversamos sobre poesias e artes, semana passada ela me fez jurar que eu iria levar uma de minhas "obras", tentei fazer algo novo nessa semana mas nada de bom saía.

Então no momento aqui estou eu, andando de um lado para o outro confuso, enquanto tem uma fileira de quadros na minha frente, sei que no momento estou uma pilha de nervos e se eu não me acalmar, não vou conseguir nem sair de casa. Graças a Deus minha mãe não está aqui, se ela me visse assim não deixaria eu nem pisar no jardim.

Sei que deve ser estranho essa proteção toda de minha mãe, e realmente é de se parar para pensar de tão exagerado que é, mas ela sempre me dizia quando eu era pequeno, que desde que papai foi embora só restou eu e ela, e é claro, a herança.

Não sei ao certo mas pelo o que a Dona Andréia (minha mãe) me falou, eu comecei a ter esses problemas logo após o falecimento de papai, minha mãe teve que lidar com tudo isso muito sozinha, por este motivo, não ouso questionar suas atitudes comigo.

Olho para o relógio em meu pulso e já era 13:30, sentia o suor escorrer pela minha testa e a minha pulsação acelerada. Podem me obrigar a fazer qualquer coisa, mas pelo amor de Deus, não me dêem a angustia da dúvida de escolher alguma coisa. É o pior sentimento que existe em alguém que tem tanta insegurança que nem eu.

Ouço Meri bater e a chamo para entrar, me avisa sobre o Jack já estar a minha espera mas, antes de sair a chamo novamente.

- Sim?

- Eu sei que é estranho, mas você é minha última e única opção no momento, por favor me ajuda a escolher um quadro pra levar na consulta hoje...??

- Ah... sim... é pra eu escolher um destes daqui? - me pergunta apontado para a mesa que continha os quadros.

- Estes mesmo.

Já estava agoniado de ficar vendo ela olhar um e depois o outro, mas quando eu penso que ela finalmente escolheu um... ela me coloca ele sobre a mesa de novo. Olho mais uma vez o meu relógio, vejo que já se passaram 7 minutos e nada ainda, começo a me arrepender de ter pedido a ajuda dela.

- Este senhor - me estende um quadro com um pano branco em cima, pego quase no desespero e vejo ser uns dos últimos que eu estava pensando em escolher. Maldição.

Ele é todo verde escuro com alguns pinheiros pintados de preto, no começo quis retratar uma floresta, mas acabou que saindo um desastre. Havia um certo contorno da lua logo no fundo que era a única tinta clara que tinha ali, quem olhasse bem saberia o que era, mas eu exagerei tanto em cores escuras que é de se fazer qualquer um ficar na dúvida do que se tratava.

- Por que este, Meri?

- Eu gostei de como destacou a lua em meio a tanta escuridão, isso de certa forma mostra que apesar dos problemas, o senhor ainda consegue ver esperança de que vai sair dessa, e que ainda vai brilhar muito, como está lua faz no quadro.

Eu não sabia se falava algo, se tentava engolir o choro que estava carregado em meus olhos, ou se simplesmente a abraçava.

- Ér... Fiquei sem palavras, obrigado.

- Magina, mas agora acho melhor o senhor se apressar porque falta só 20 minutos para a consulta.

Em um pulo me recomponho, dou um beijo apressado em sua bochecha o que a deixa levemente assustada, sei que nunca fiz isso, mas hoje ela foi digna. Desço as escadas rapidamente e parto para o carro de Jack.

- Acelera aí Jack pelo amor de Deus, estamos indo para um velório?

- Não posso senhor, o limite dessa rua é de 60 km/h.

- Mas agora eu estou mandando você acelerar, deixa que a multa depois eu pago.

- Sim senhor.

Voltei a encostar no meu banco assim que vi que ele realmente tinha acelerado, mas um certo pensamento ficou preso em mim.

Como vou pagar a multa dele se eu não tenho um centavo?

Deixei isso de lado quando senti o carro estacionar, nem esperei Jack vir abrir a porta, logo sai quase que correndo para a porta do consultório.

Logo vejo a secretária de Sara em sua mesa, cujo nome é Marina, descobri isso em uma de minhas consultas, ela e Sara são amigas de longa data.

- Boa tarde Marina, Sara está a minha espera né? Desculpe o atraso, eu... -Eu ia continuar, quando ela me interrompeu.

- Se acalme Noah, não precisa se justificar - Sorrio simpática, então eu pude relaxar - Pensei que tinha visto o recado que deixei com o senhor.

- Recado? Que recado?

- Eu liguei hoje de manhã no fixo da sua casa, uma mulher que diz ser sua mãe atendeu, então eu pedi para avisá-lo que a Sara iria atrasar 30 minutos hoje.

- Porquê? O que aconteceu com ela?

- Não precisa de preocupar, ela só foi encontrar com o namorado que chegou hoje de viajem.

Namorado? Ela não me disse que tinha namorado, estranho. Estou um tanto quanto chateado por não saber disso, eu já contei tantas coisas sobre mim, mas e ela? Só sei que perdeu um irmão e que se chama Sara, o que já sabia antes mesmo de conhecê-la.

Me sentei em um sofá de couro preto que tinha ao lado da mesa, coloquei delicadamente o quadro nos meio das minhas pernas e comecei a olhar da porta de entrada para o relógio em meu pulso.

Parecia que a pilha do relógio estava acabando de tão devagar que os minutos passavam, mas em exatos 27 minutos dos 30, uma Sara toda sorridente e de cabelos bagunçados devido ao vento lá fora, entra. Ela retira o casaco e coloca em seu braço, sorri para a Marina e a mesma retribui, até que sua atenção se volta para o todo desajeitado e atrapalhado homem que está sentado com um quadro no meio das pernas.

Maravilha.

- Desculpe a demora Noah, isso raramente acontece e irei recompensa-lo, prometo! - Sorri amigavelmente e abre a porta de seu consultório, faz um sinal com a mão para eu entrar. Levanto, coloco o quadro dentre o braço direito e entro acompanhado da moça toda sorridente.

Ela me escolheuOnde histórias criam vida. Descubra agora