~ CRIS POV ~
Ok, isso estava ficando 'pior' a cada encontro. E por pior, eu quero dizer mais constrangedor. E eu tenho que olhar pro rosto dele absolutamente todo dia. Não que isso seja um sacrifício. Com uns olhos como aquele, que fazem você se perder neles, e esquecer de absolutamente qualquer outra coisa... Foco, Cris!
Eu vim pra Rosa Branca com o meu namorado, agora noivo, Alain Dutra, há mais ou menos uma semana. Finalmente consegui que ele realizasse o desejo de seu avô no seu leito de morte, que era filmar um filme, intitulado Amor Infinito. Tínhamos vindo pra cá, só eu e Alain, umas semanas atrás, para que ele pudesse ver o avô pela última vez antes de sua morte. Tomamos conhecimento do desejo dele, e da história do filme. O amor trágico de Júlia Castelo e Danilo Breton. E Alain de algum jeito achou que eu era a atriz certa para o papel de Júlia. E eu acabei aceitando, porque senti, que de algum jeito, a história dessa moça que viveu nos anos 1930, pertencia a mim, era a minha história.
Agora estamos aqui, na fase de pré produção, com a equipe toda com a gente. E eu e Alain estamos hospedados na casa da Margot, viúva do avô dele. Agora voltando ao meu problema inicial. No primeiro dia que voltamos pra cá, eu conheci o Daniel. Daniel Borges. Neto de nossa anfitriã. Quando estive aqui da outra vez, ele estava em viagem, fotografando em Portugal. Ele... Bom. Eu não sei porque, nem como, mas meu coração parou quando Margot nos apresentou. Naqueles breves segundos nada mais importou do que nossos corpos naquele espaço, coexistindo. Uma espécie de gravidade, nos puxando um para o outro. A conexão dos nossos olhares, que pareciam teimar em não querer quebrar o contato. Na noite daquele mesmo dia de nossa chegada, de algum jeito sonhei com Júlia e Danilo, só que eu era Júlia. Era o primeiro encontro deles! E adivinha? DANIEL E DANILO SÃO A MESMA PESSOA! E eu tive a exata mesma sensação... O que eu senti ao ver o Daniel pela primeira vez, eu senti ao ver o Danilo também. Ai, são E's demais...
Estou descendo as escadas para o café da manha. Adoro aproveitar as primeiras horas de luz do sol. Ele com certeza vai estar lá na mesa. Meu corpo, teimosamente, contra a minha vontade, se empolga quando sei que vou vê-lo. Dos pelos dos braços, até meus olhos, que insistem em segui-lo a cada movimento seu.
Cheguei perto da mesa, da qual se desprendia um delicioso aroma.
- Bom Dia. - disse, me sentando, e em seguida pegando a jarra de suco para me servir.
- Bom Dia Cristina. - respondeu Daniel, com um leve sotaque português, em tom suave. Apesar de ter nascido no Brasil, seu pai o levou para Portugal muito pequeno. Sempre vindo passar as férias aqui com sua avó. Até agora, eu não deixara de notar cada vez que ele me chamara de Cristina, e como ele pronunciava meu nome todo . Ninguém tinha o costume de me chamar assim. Sempre fui só Cris.
~ DANIEL POV ~
Como você encara todo dia uma mulher que acabou de conhecer, com a qual anda tendo sonhos em que vocês dois vivem momentos incrivelmente vividos e pessoais, momentos esses que provavelmente pertencem a uma vida anterior de vocês? Não sei o que faria se não pudesse recorrer á minha avó, acho que enlouqueceria. Corri pra ela no dia seguinte ao sonho, no qual era apresentado a uma mulher chamada Júlia, igual a Cristina Valência que fora apresentado horas antes. Não importava a versão de qual época, ela era linda, linda. E me hipnotizava de um jeito, que me fazia sentir como se eu pudesse passar o resto dos tempos fazendo nada além de olhar pra cada pedacinho dela.
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Cris e Daniel continuaram tendo sonhos recorrentes durante semanas. Sentindo a eletricidade invisível, mas quase palpável, que existia em cada segundo perto um do outro. Descobrindo a cada momento, ao mesmo tempo, mesmo sem saber, os beijos, sorrisos e lágrimas que fizeram parte do caminho que levou suas existências passadas a terem o fim trágico que tiveram.
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Era tarde da noite já, e Daniel estava estacionando na frente da casa de Margot, acabara de voltar de Limoeiro, que ficava perto de Rosa Branca, onde tinha um restaurante em que era permitido tocar o piano que se encontrava lá. Ele adorava tocar, compor. Fazia isso quando se sentia particularmente solitário. O último sonho tinha sido tinha doloroso, agora deu pra sonhar com outras vidas de Cris além de Júlia, nessa ela era Beatriz, e morria nos seus braços. Estremeceu pela lembrança, enquanto encaixava a chave na fechadura da porta da casa de sua avó.
Cochilando no sofá da sala de Margot, Cris se remexia durante o sonho, irrequieta.
"Só saio daqui com a minha mulher."
"Não, não faça isso. Meu pai, não faça isso, pelo amor de Deus. O senhor vai se arrepender pelo resto da vida, não faça isso."
"Desgraçou minha família. Não merece viver. E é assim que vai ser."
Um som de tiro. Uma dor insuportável.
"Danilo, eu amo você.
"A gente... a gente ainda vai se encontrar. Vai se encontrar, meu amor"
Sentiu lágrimas quentes que não pertenciam a ela caindo no seu rosto, que se juntavam as suas.
A dor de Danilo se misturava a sua própria. O emocional em frangalhos. e a dor física dilacerante lhe pesavam na alma.
- Danilo, eu sinto muito. Eu sinto muito, meu amor. Não posso te deixar mais uma vez.
Daniel ouviu Cris falando essas palavras, em voz alta o suficiente que dava pra ser ouvida da porta e reconheceu a quem pertencia a voz imediatamente. Correu na direção do sofá, de onde vinha o som. Encontrou Cris em lágrimas, em algum pesadelo, repetindo essas mesmas palavras sem parar, transmitindo uma angústia impensável através delas. Daniel sem pensar, envolveu os braços dela.
- Cristina... Cris. - chamava, enquanto enxugava as lágrimas dela com os próprios lábios, através de beijos.
- Danilo, não posso te abandonar novamente. - repetia
- Júlia. - tentou Daniel instintivamente, com mais urgência na voz.
Cris abriu os olhos, vendo Danilo primeiramente. E depois Daniel. Abraçou ele como se sua vida dependesse disso. Distribuindo beijos em todas partes do ombro dele que ela conseguia alcançar. Cris se afastou um pouco, e não aguentou mais e pôs tudo que estava entalado em sua garganta, pra fora:
-Chega, chega... certeza que você vai me achar ainda mais maluca agora, mas eu não aguento mais! Não aguento te ver todo dia e não poder te tocar, abraçar, te consolar, dizer que te amo, acordar do seu lado...
Cris continuava falando, as palavras tropeçando umas nas outras, mexendo no cabelo nervosamente ao mesmo tempo, com Daniel a sua frente, ainda de joelhos. Ele não conseguiu se conter e elevou um pouco mais a voz:
- Cristina, minha Cristina. - uma só lágrima escorria, e seus olhos se encontravam vermelhos já. - Minha Júlia, minha Beatriz. Eu sonho com você, com nós dois, desde que você pôs os pés nessa cidade.
Cris ouvia, e observava cada detalhe do rosto de Daniel, os cílios dourados, o nariz, a barba já por fazer.
- O que eu senti, enquanto dormia, nos meus sonhos com a Júlia, eu tenho certeza que nunca senti algo parecido, ou vou voltar a sentir igual, em todas as minhas existências. Eu vivi momentos que pareceram uma vida inteira, com você, em sonhos, como Danilo. E mal posso esperar pra começarmos a viver essa vida, aqui e agora, como Daniel e Cristina Valência. - Daniel terminou de pronunciar as últimas palavras, sem conseguir desviar os olhos dos lábios de Cris, que ela umedecia inconscientemente.
Ao mesmo tempo, os dois eliminaram a distância entre seus lábios. Encontrando na boca um do outro, o calmante para todas as suas ansiedades. Se dependesse dos dois, essa distância nunca mais voltaria a existir.
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Retratos de Duas Almas Apaixonadas
RomanceReunião dos meus contos postados no DanCris Fanfic Challenge.