Serendipity

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Uma vez Uraraka falou para ele que ser advogado era como ser uma espécie de psicólogo. Você escuta os problemas das pessoas e, baseado no que você ouviu, tenta ajudá-las a resolver as dificuldades. Às vezes você consegue, às vezes não. Às vezes a pessoa aceita bem, outras vezes quer jogar a culpa de toda em você. Mais um dia normal.

  Bakugou seria um péssimo advogado.

  Ele não gostava de escutar os problemas de outras pessoas, de ajudar outras pessoas, de ser irritado por outras pessoas. Ele não gostava de pessoas em geral. O que era sempre problema quando ele tinha que ir ao escritório de advocacia dela. Ele pensou que, tendo sido casado com ela um dia, o mínimo que ela poderia fazer era atendê-lo de forma preferencial.

  Mas não, claro que não.

  — Você vai ter que marcar um horário e esperar como qualquer outra pessoa. — Ela disse pelo telefone.

  — Qual é Cara de anjo, eu sou o pai da tua filha, você não deveria se importar um pouquinho mais comigo? Pra que ter uma posição de poder se você não vai usar o bom e velho nepotismo?

  — Nepotismo é para pessoas ricas, eu tenho contas pra pagar e um horário sexta pra você.

  Então ali estava ele, Bakugou Katsuki, no escrito de sua ex-esposa, esperando ela dar o ar de sua graça. Porquê é claro que ela tinha escolhido um dos horários mais tarde para ele. É claro que ela iria se atrasar. E é claro que, enquanto ele estava sentado na sala de espera, ia aparecer uma mulher irritante para chorar no ouvido dele.

  — VOCÊ CONSEGUE ACREDITAR QUE ALGUÉM SERIA TÃO CRUEL??? E DEPOIS DE TANTOS ANOS? –– A voz da mulher ecoou no cômodo.

  Ele não sabe exatamente quando ela começou a falar sua história de vida. Alguma coisa sobre o marido dela ter traído ela, ou ela traiu ele? Ele estava tentando ignorar ela o máximo que podia, tentando transmitir a ideia de que ele não poderia ligar menos para o assunto, mas ela simplesmente não parava.

  Ele queria dar uns berros, mandar ela calar a porra da boca. — NINGUÉM LIGA PRA CARALHA DOS SEUS PROBLEMAS AMOROSOS DESGRAÇADA. — Mas ele conseguia escutar a voz da Uraraka dizendo "Você tem que se comportar pelo menos aqui. Esse é meu trabalho". E ele não ia dar para ela a satisfação de jogar isso na cara dele. Não que ela tivesse o hábito de fazer isso, mas ela teria o direito de fazer, e isso seria tão ruim quanto.

  Em vez disso, ele olhou ao redor, tentando se concentrar em qualquer coisa que não fossem os gritos. Na sala onde eles estavam, além dele e da mulher irritante, havia um homem que parecia ter a idade de Bakugou. Ele conversava animado com alguém no telefone e parecia totalmente ignorar a cena, como se aquela mulher fazendo um show não desse o mínimo desconforto.

  Ele estava irritantemente feliz, e sua expressão suave não combinava muito com seu cabelo exageradamente vermelho. Mas certamente combinava com o par absurdamente horrível de crocs vermelhos que ele estava usando. Katsuki podia jurar que apenas médicos e pessoas velhas sem o mínimo de noção usavam crocs. Ou pessoas que já desistiram da vida, é claro.

  Mas eles não estavam em um hospital para ser o primeiro, o cara à sua frente não tinha idade para ser o segundo, e o terceiro caso estava fora de questão. Na verdade, apesar dos sapatos ridículos, ele tinha uma boa aparência; era bonito, muito bonito, e pelo que se via com sua camisa de manga curta, ele tinha braços musculosos, talvez fosse mais definido embaixo também...Não que isso importasse para Bakugou. Ao contrário do que a ex-esposa dizia, ele não precisava de romance na própria vida.

  Desde o divórcio ele estava indo muito bem, trabalhando como animador em um desenho famoso, fazendo sucesso e é claro, tomando conta da própria filha. A última coisa que ele precisava era algum tipo de drama romântico para trazer problemas. Ele estava muito bem, obrigado, de nada.

What Family MeansOnde histórias criam vida. Descubra agora