Queridos Pai e Mãe.
Mais uma semana se passou, então isso quer dizer que estamos sabendo contornar essa situação. Temos grandes novidades…. Vamos nos mudar para o Amazonas… espero que a gente consiga sobreviver.
Eu consiga ver o sorriso das pessoas, a alegria em seus olhos, sentia os abraços apertados dos meus parentes, mas para mim aquilo era parecido como uma execução. Mais uma vez, a minha tia resolveu se mudar. E eu não podia fazer nada. A não ser acompanhá-la nessa roubada. Tudo bem, eu entendo, eu era um pobre órfão vivendo as custas dela, então lógico para sustentar a mim e meus irmão era necessário que ela arrumasse empregos que pagassem bem.
Eu já estava familiarizado com os aeroportos. A viagem até o Amazonas levaria pelo menos 10 horas. Quem viaja 10 horas? Provavelmente eu.
Tenho 16 anos. Sou gordinho, se considerar alguém com 100kg, gordinho. Sou branco e sem qualquer tipo de habilidade. Minha tia ficou preocupada comigo, depois da morte dos meus pais tive alguns surtos. Tenho dois irmãos, a Giovanna, 12 anos, e o Richard, 9 anos. Eles puxaram para os meus pais, eles eram lindos. Prometi aos meus pais que cuidaria deles, então é o que eu faço há dois anos. Como a minha tia trabalha cabe a mim cuidar deles. Faço muitas coisas que os garotos da minha idade não sabem fazer, como lavar roupa, cozinhar, dar remédio para crianças.
Andamos até a sala de embarque do aeroporto. Richard correu na minha frente e tropeçou, tem algo de errado com esse menino, ele é muito hiperativo. Será que devo me preocupar? Acho que não. A Giovanna por outro lado é bem popular, chorou muito quando soube que iriamos mudar. Acho que não tenho nenhum traço deles em mim.
Olivia: - Vai ficar com essa cara de desânimo? - questionou minha tia me assustando.
Yuri: - O quê?
Olivia: - Qual o motivo para tanto desânimo?
Yuri: - Não estou desanimado tia… é que… pela terceira vez vamos nos mudar e….
Olivia: - Eu sei querido, mas nessa empresa nova vão pagar o triplo do valor que eu ganho aqui. Fora que o teu pai tem aquela propriedade em Manaus. Não vamos pagar aluguel. (pegando na minha cabeça)
Odeio quando ela faz isso. É tão infantil. Na verdade eu odeio o contato humano como um todo. Isso é culpa da Jéssica Tavares que estudou comigo no maternal. Aquela vacazinha sem coração me beijou no meio da classe toda. Eu lembro disso. Foi a maior vergonha. Vai dizer que não lembra das coisas que fez quando tinha 4 anos? Eu lembro.
Giovanna: - Yuri. Tira uma foto minha aqui na frente do avião.
Yuri: - Quantas fotos você já tirou hoje?
Giovanna: - 394, mas quem tá contando?
Yuri: - Credo.
Olivia: (entregando remédios para Yuri) – Tome agora. Antes de subirmos.
Yuri: - Tia… não é necessário…
Giovanna: - Da última vez você mijou nas calças.
Richard: - Você vai fazer xixi de novo?
Olivia: - Ninguém vai fazer nada… (olhando para Richard). - Vamos amor, tome logo.
Yuri: (pegando o remédio para ansiedade)
Olivia: - Vamos crianças. (subindo as escadas do avião)
Aviões. Cruzes. Como essas coisas podem voar? Sempre tenho ataque de ansiedade quando viajo em aviões. Da última vez, a minha bexiga não ajudou muito e eu fiz o serviço ali na frente de todo mundo. Viajei o resto do percurso dentro do banheiro e permaneci lá por quatro horas. Fora que para as pessoas com o bumbum mais avantajado como eu, aquelas cadeiras são horríveis, ficamos apertados e o espaço entre as fileiras é mínimo. Malditas empresas capitalistas.