PALPITAÇÃO

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PALPITAÇÃO
ADAM

MISSÃO: 00129.32
TIPO: RESGATE
EQUIPE: MAD DOGS
LOCALIZAÇÃO: SOMÁLIA, ÁFRICA
COORDENADAS: 2.03333. 45. 35. 1' 65'
TEMPO DE MISSÃO: 10 HORAS
LOCAL DE RESGATE: COSTA LITORANÊA DO QUÊNIA

O Sol a pino continuava a queimar no topo do céu. Alongo o pescoço. Tiro o olho da mira, com o corpo esticado sobre um telhado de uma antiga construção em ruinas, localizada em uma área remota da Somália.

Uma área destruída e esquecida. O esconderijo perfeito para o grupo terrorista local, com tuneis que se comunicavam com boa parte da cidade. Prédios vazios, destruídos por ataques e esquecidos pelo tempo. O local perfeito para esconder um americano como refém.

Quem era o americano feito de refém? Não sabíamos. Muitas missões se resumiam a um rosto. Olhávamos uma foto, decorávamos traços, características e marcas especificas. Depois a foto era consumida pelo fogo e todos os detalhes necessários estavam em nossas cabeças.

Essa era mais uma das malditas missões secretas, sem grupo de apoio próximo ou socorro acessível. Era entrar e sair como se nunca tivéssemos passado por ali. Ou entrar e morrer. Meus lábios tremulam ao soprar o ar.

Trago a espessa saliva. Agarro a carteira no bolso do colete sobre a camiseta verde coco. Verde coco. Palavras de Tomás Baylor: Você vai largar tudo, uma carreira milionária para desfilar por aí como um coco ambulante naqueles uniformes camuflados. Só falta raspar a cabeça feito um condenado. Você é idiota, Adam. Se passar por aquela porta, você não será mais o meu filho.

Mandei o velho se foder. Não queria ser a merda do seu filho. Não queria ser um Baylor, não depois de tudo. Então se era para sair feito um coco ambulante eu sairia. E saí nos últimos anos da minha vida. Os mesmos anos que tinha permanecido afastado do meu pai. As únicas noticias que tinha dele era através do meu tio James Baylor, ou Jim para a maioria da minha cidade natal, Bayfield.

O uniforme gruda no meu corpo. Usar calça cheia de bolsos, camiseta, colete aprova de bala, capacete, meia grossa e coturno, carregar armas trançadas no corpo, outra pistola presa na coxa e ainda a faca no meu tornozelo não era uma tarefa fácil debaixo daquele calor de quase 50 graus.

A chama queima a ponta do cigarro, trago a nicotina que sai em forma de fumaça pelas minhas narinas. Enfio os cigarros e isqueiro no bolso. Abaixo a cabeça e olho pela mira do rifle M-14. Nada. Nenhum movimento nas edificações abaixo.

— Tudo tranquilo aqui — o comentário de Vargas chega pelo comunicador enfiado na minha orelha.

José Vargas estava a alguns andares abaixo de mim. A missão de extração era simples e rotineira: estávamos divididos em dois grupos Jansen, Willians e Stone, a equipe responsável pelo resgate em terra. Finley, Vargas e eu éramos o apoio de retaguarda. Qualquer movimento ou pessoa suspeita deveríamos abater e guardar a integridade da missão.

— Nada de estranho — um lado do meu lábio segura o cigarro o outro se abre para cuspir a fumaça com as palavras.

— Aqui também — Finley é o último a se pronunciar, em um prédio um pouco mais distante.

— Você não falou ainda da morena casada, Baylor? — Vargas insiste.

Trago nicotina. Remexo meu corpo sobre o telhado empoeirado, com o olho na mira focada no prédio indicado como local do resgate.

— Você não falou da loira virgem, Vargas — recordo.

A porra da noite anterior tinha sido um desastre. Tínhamos passado os últimos três dias em uma cidadezinha no Quênia, articulando aquela missão. Pegar moradoras locais não estava nos meus planos. Mas entre uma bebida e outra. Aquele corpo moreno sensual me convidado para fazer merda. E eu fiz merda. Comi a mulher. Meia hora depois, ainda deitados na cama o marido aparece. Eu saio pela janela ileso. Cuspo a fumaça de nicotina.

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