Confronto

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                Dizem que a vida passa diante dos olhos quando se está prestes a morrer. Seja lá quem foi o idiota que criou essa frase não estava naquela situação pavorosa. Tudo o que ela via era aquelas botas gastas e pesadas, ensanguentadas vindo em sua direção com um machado que era arrastado logo atrás. Os passos eram pesados. Pisando carne, osso, besouros, vísceras. Com um barulho molhado que preenchia o ambiente, sobrepondo os grunhidos agonizantes do grisalho que tivera o rosto partido ao meio e se retorcia histericamente ao fundo da cena.

                À medida que as botas de aproximavam os corpos pendurados eram empurrados para o lado, dando passagem ao ser que as portava, revelando sua forma. Era um corpo masculino alto e largo, gordo. Os braços peludos e sebosos estavam repletos de queimaduras e cicatrizes de feridas mal cuidadas. A mão esquerda, que empurrava os corpos pendurados, era disforme, cheia de bolhas e sem os dedos mínimo e anelar.  No ombro direito havia uma ferida aberta. Funda. Que expunha as fibras musculares do deltoide e parte do trapézio. Estava forrada de cacos de vidro. Algumas moscas pousavam ali. O braço direito vinha estendido atrás do corpo arrastando o machado. O homem cobria a boca com uma espécie de máscara de gás suja. Pouco cabelo na cabeça queimada, deformada e com arame farpado enrolado logo abaixo ao pomo de adão, causando uma ferida horrenda, repleta de pus. Sangue era visível por todo avental do algoz, bem como nos braços, torso e salpicado no rosto. Tinha olhos vagos e distantes. Num tom acinzentado ameaçador. Falava num idioma ininteligível, ainda mais com a forma como o ar saia da máscara.

                Ela sentiu um que sua hora havia chegado, de fato. Mesmo assim fez o impossível pra se soltar das correntes. Seu corpo começava a obedecer. Talvez tivesse sido drogada. Embora estivesse fazendo de tudo pra se soltar a única coisa que conseguiu foi afundar as feridas. Fechou os olhos chorosos e gritou chacoalhando todo seu corpo num último esforço. E ao perceber que seu último esforço fora em vão o grito virou soluço de prantos. Ela chorava tanto que sua saliva descia pelo rosto e se misturava às lágrimas.

                Ao abrir os olhos deparou-se com seu carrasco. Ele a fitava inexpressivo e bem de perto.

                O homem a examinava de cima a baixo com calma.

                Ela implorava para que nada daquilo fosse real.

               

          Ele levou a mão deformada à perna esquerda daquela mulher pendurada, verificando a tatuagem de um unicórnio que havia pouco acima do joelho. A mulher tremia.

                - Não toca em mim, seu monstro! Monstro! Tira a mão de mim! - Ela gritava histérica - Por favor... Por favor... - Completou em voz mais baixa implorando.

                Ele disse algo que ela não conseguiu entender e continuou examinando o corpo de sua presa, que lutava inutilmente pra se afastar.

                Após examinar, soltou o machado no chão e levou a mão direita às costas. Pegou a faca KA-BAR que carregava com sigo.

                - Ai, meu Deus! Não! Por favor, não! - Ela suplicava - O que foi que eu te fiz? - soluçou.

                Ele pronunciou algo de forma ríspida, como se estivesse com raiva e agarrou a perna com a tatuagem, fazendo pressão sobre a mesma para que o desenho enrugasse e sem a menor cerimônia cravou a faca na perna a fim de descarnar a tatuagem.

                 Ela gritava como nunca antes em sua vida. E quanto mais gritava mais o homem afundava a faca e puxava a pele.

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⏰ Última atualização: Oct 01, 2014 ⏰

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Incauto - Parte IIOnde histórias criam vida. Descubra agora