Capítulo 4

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Às oito em ponto eu estava em frente ao hotel, conforme havia sido combinado.

Tinha me surpreendido com o conteúdo da sacola. Dentro tinha um frasco de perfume, lacrado, uma gargantilha em ouro com um ponto de luz e brincos pequenos e brilhantes. O sapato era belíssimo, com saltos, mas não muito altos que, com o vestido, ficaram um arraso.

Não fiquei nem cinco minutos esperando e uma limusine preta parou, o motorista saiu e abriu a porta, encarando-me.

— Por favor, Gabriella, queira entrar.

Fechei os olhos e respirei fundo. Dentro, estava escuro e a primeira coisa que percebi foi o perfume másculo que emanava do homem sentado na extremidade oposta do banco.

— Muito prazer, sou Ronaldo. Você é ainda mais bonita pessoalmente. O vestido ficou perfeito em você.

Sua voz era grossa, rouca e transmitia segurança.

— O prazer é meu, Dr. Ronaldo.

Ele escorregou no banco, para mais perto de mim e a claridade da rua iluminou seu rosto por alguns segundos. Ele era muito bonito e aparentava ter cerca de cinquenta anos.

O evento foi muito gostoso e Dr. Ronaldo muito respeitador. No final da noite ele me levou para a pousada e despediu-se com um beijo em meu rosto.

— Essa noite foi muito agradável. Obrigado por sua companhia. Aqui, esse é seu, por todo o seu carinho. — Me entregou um envelope. — Você é diferente das outras garotas, Gabriella. Preocupada e uma companhia agradabilíssima.

— Obrigada, Dr. Ronaldo. Também gostei muito.

— Até a próxima, Gabriella.

Desci do carro e entrei na pousada, atraindo olhares de todos que estavam por ali. Minha roupa estava chamando a atenção. Percebi olhares que iam da cobiça à repugnância. Subi para meu quarto tomando o cuidado de trancar a porta assim que entrei.

Coloquei o envelope sobre a cômoda, ainda sem coragem de verificar seu conteúdo. Retirei o vestido e as joias com cuidado, devolvendo-os a seus lugares originais.

Com um suspiro me dirigi ao banheiro e me surpreendi com a imagem refletida no espelho. Ali uma mulher confiante e enigmática me encarava.

Aquela estranha me deu a confiança necessária para seguir em frente. Aquilo tudo seria como um papel em uma peça, uma vida paralela cujo final caberia só a mim escrever.

Retirei a maquiagem e, após um banho rápido, escovei meus dentes. Parei em frente a cômoda e peguei um pijama confortável e antigo, que me trazia muitas lembranças de casa. Assim que me vesti, meu olhar caiu sobre o envelope. Com cuidado o peguei e abri, revelando uma boa quantidade de notas de cem.

Uau! Tudo aquilo por apenas umas horas de trabalho, as quais foram muito satisfatórias, com pessoas sofisticadas e extremamente educadas, regada a boa bebida e comida. E era apenas um bônus.

Guardei-o no fundo da última gaveta da cômoda e fui me deitar, afinal na manhã seguinte eu teria aula.

***

— Bom dia Janaína — sorri para ela, estendendo o vestido e a sacola que ela havia me entregue no dia anterior.

— Gabriella, essas coisas são suas. Tudo o que os clientes disponibilizarem para você será seu. Recomendo que você os guarde, separando por clientes, pois elas expressam os gostos dos mesmos. Por exemplo o perfume. Toda vez que sair com o cliente de ontem, use-o. Isso irá agradá-lo e as chances de haver uma próxima vez aumentará.

Anotei tudo mentalmente. Eu havia gostado muito da minha primeira vez como acompanhante e havia sido completamente diferente de tudo o que eu pensava sobre.

— Obrigada Jana.

— Não me agradeça, afinal não fiz nada. Passe na sala do Jorge. Ele gostará de saber como foi a noite de ontem.

Concordei e me despedi dela. Caminhei até a sala dele e batia na porta.

— Pode entrar Gabriella! Me conte, como foi sua primeira vez?

— Ah, o Dr. Ronaldo é um homem muito educado e a noite foi muito gostosa.

— Ele também gostou muito e inclusive já agendou seu próximo encontro. Será sexta que vem, mesmo horário. Não se esqueça de passar aqui à tarde para pegar a roupa para a noite. Esse é seu pagamento.

Peguei o envelope e o guardei na bolsa. Logo ele começou a me explicar sobre a próxima sessão de fotos e após me passar o endereço do local, retornei para a pensão.

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