Oi caderno. Às vezes me pergunto por quê ainda me digno a escrever aqui, sendo que todos os momentos que estão descritos em suas páginas amassadas por lágrimas ou manchadas de sangue, me deprimem ainda mais....
Bem, antes que eu esqueça, irei contar o que aconteceu hoje na escola. Entraram três alunos novos, um do primeiro ano, outro do terceiro. O que entrou na minha sala foi um esqueleto de ossos escuros, ligeiramente mais baixo que eu, com estranhas marcas azuis abaixo dos olhos.
Ele não se apresentou, apenas observou superficialmente os rostos da sala, focando mais tempo em meu olhar cansado e sem vida.
Hoje foi um dos dias em que não pareço ter sentimentos, mas isso não vem ao caso. Lancei um sorriso fraco para ele, apontando para a única cadeira disponível, ao meu lado. (Sento na última cadeira da fileira, ao lado da parede. Ninguém senta do meu lado por me achar idiota demais.) Ele deu de ombros, se sentando na mesma.
Alguns minutos passaram, enquanto eu observava minhas mãos cobertas pelas luvas. O olhar do novato estava fixado em mim, podia sentir. Então, alguma coisa me deixou realmente muito triste, não sei. Escondi meu rosto no enorme cachecol que uso, soltando um soluço bastante alto.
A sala, antes barulhenta, se tornou um mar de sussurros, e vários pares de olhos para minha direção. Levantei o rosto devagar, com a visão embaçada e um sorriso forçado. Contei alguma piada estúpida sobre lágrimas e meus "amigos" sorriram despreocupadamente, voltando a conversarem entre si.
Me levantei lentamente, com as mãos tremendo. Depois de atravessar a porta, o caminho para o banheiro se tornou um borrão, com as vozes dos alunos e professores em suas salas. Quando dei por mim, tentava desesperadamente tirar uma das luvas, não reprimindo meu choro.
Depois de muito forçar, consegui arrancar a luva, levantando as duas camadas de mangas em meu braço, deixando expostas minhas mutilações. No momento em que recostei a minha fiel lâmina mo braço, a porta do banheiro foi aberta com força. Era o novato, que me observava com seriedade e espanto.
-Que merda você pensa que está fazendo?!?
Ele se aproximou rapidamente, retirando a lâmina de minha mão, e a jogando o mais longe possível de nós. Fechei os olhos com força, sentindo o contato de suas falanges em meu braço, acariciando cada cicatriz. Foi uma boa sensação, admito. Depois de criar coragem, retirei meu braço de seu agarre, colocando as cadas de roupa outra vez, substituindo meu rosto choroso por um sorridente.
Seu olhar perfurava meu ser, arrepiando meu corpo. Ele tinha que levantar um pouco a cabeça para focar meus olhos, o que achei fofo.
- Por que você faz isso..?- Sua voz saiu como um sussurro baixo, mas consegui ouvir.- Não dói?..
- Não é nada de mais! E por que motivo isso iria doer?- Respondi, sentindo meu sorriso se alargar.- Estou perfeitamente bem, se isso te preocupa, Novato.
- Não, você não está bem. Seu sorriso é mentiroso.
Então...Desculpe, não lembro mais o que aconteceu, só sei que sinto um pequeno e estranho alívio em meu peito...
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Pensamentos De Um Depressivo |∆|Inkerror|∆| (Pausada)
ФанфикMeus gritos, minhas emoçōes, meus temores, minhas tristezas, minhas desilusōes, minhas tentativas de morte.... Tudo aqui. Para alguém lê-las e que consiga finalmente me salvar....