Durante muito tempo, criaturas terríveis, conhecidas como dragões ou ba'ashis, viviam pela chamada região das grandes montanhas do sul. Essas gigantescas criaturas tinham um corpo alongado, e podiam medir em torno de cinquenta pés, desde a ponta da cauda até a cabeça. Tinham asas longas, e pernas curtas, e possuíam garras longas e afiadas. Sua cabeça era recoberta por uma carapaça. E tinham um hálito superaquecido, que era capaz de derreter até mesmo rochas. Nessa região, também viviam os primeiros homens da terra, também chamados de povos primitivos. Esses povos viviam pacificamente, em aldeias situadas por toda a região, até que os dragões começaram a se tornar uma grande ameaça para eles. Pois estes, além de destruírem suas terras, as tornando inférteis para o plantio, devoravam as suas criações de animais e também os seus filhos.
Os primitivos se juntaram, e então, começaram a contra-atacar os dragões, o que acabou resultando em uma longa e sangrenta guerra, que perdurou por muitos e muitos anos, e ficou conhecida como a guerra do fogo. Após um longo período de tempo, de sucessivas batalhas, os primitivos finalmente conseguiram vencer os dragões, e não se ouviu mais em falar em nenhum dragão ali por aquela região.
O tempo ia se passando, e os dragões passaram a ser apenas histórias contadas de geração em geração. Encantada por essas magnificas histórias, uma jovem primitiva, chamada Qenya, resolveu subir até a mais alta montanha da região, afim de encontrar algo que tivesse alguma relação com os ditos dragões. Ela levou nove dias e meio para chegar ao cume da montanha, que é conhecida como o limite do mundo. Ela se deitou exausta, porém feliz, aquela paisagem era realmente incrível. O sol estava quase se pondo e deixava o céu todo avermelhado, as nuvens cruzavam os topos das montanhas, e o céu estava tão perto que ela tinha a impressão que poderia toca-lo a qual quer momento. O mar além daquelas montanhas não havia fim, e aquilo a deixava intrigada, ninguém sabia o que havia depois daquela imensidão azul. Toda aquela visão única , enchia seus os olhos verdes e cintilantes. Mas ela se levantou, respirou fundo e seguiu em frente. Andando mais a frente, ela se deparou com carcaças de alguns dragões. Lhe cortava o fôlego, só de imaginar o que uma daquelas enormes criaturas poderia fazer se estivesse viva. – Devem ter morrido de fome aqui em cima – Pensou ela, enquanto caminhava por cima das carcaças, as observando atentamente. Seu coração parou por um instante, ela não conseguia respirar, e nem sequer esboçar alguma reação, ao ver que um filhote de dragão estava se mexendo. Qenya correu e pegou aquele pequeno dragão em seus braços, e percebeu o quanto seu corpo era ardente, e aquilo a fascinava. Naquele instante, ela se esqueceu de que aquela frágil e indefesa criatura era na verdade uma besta terrível e mortal. Ela queria leva-lo consigo para a sua aldeia, mas certamente, o seu povo iria matá-lo da pior forma possível. – Você é tão pequeno... E está sozinho. Não posso te deixar aqui, venha, vou te levar comigo. – Então ela o levou e o escondeu em uma caverna, bem afastada de sua aldeia, e todo dia ela ia até lá para alimenta-lo com um animal pequeno, como um peixe ou um rato. E continuou fazendo isso por um bom tempo.
Certo dia, quando Qenya estava indo até a tal caverna, um jovem primitivo, chamado Drahall, que era o filho do chefe de sua aldeia, a seguiu sorrateiramente. Ela entrou na caverna, toda cautelosa, e se aproximou do dragão, e lhe deu um peixe para comer. Drahall se aproximou em silêncio e a agarrou por trás.
– Me solta! – Gritava ela, se debatendo.
– Seja minha, Qenya! – Dizia ele enquanto a agarrava com força.
– Me solta! – Insistia ela.
Drahall tapou sua boca, e começou a arrancar sua roupa. Um som surgiu do escuro e ecoou pela caverna, o deixando apavorado. Ele ainda não tinha visto o dragão, que surgiu do escuro e o atacou, ferindo gravemente sua perna. Totalmente aterrorizado com aquilo, o jovem primitivo fugiu da caverna. Qenya vestiu sua roupa, e aos prantos, abraçou forte o dragão, como forma de agradece-lo por tê-la salvado.
Drahall contou para o seu pai, e para os anciões, que tinham autoridade para decidir o que deveria acontecer com todos do seu povo, sobre o que tinha acontecido com ele. Não com todos os detalhes, obviamente. Qenya, então, foi acusada e condenada por traição. Traição por ter mantido algum vínculo com um dragão, o maior inimigo que seu povo já teve. Como pena por traição, ela teria que atravessar o caminho das brasas, antes de ser banida para sempre. Enquanto ela caminhava sobre as brasas, todos ali a atacava, jogando pedras e paus. – Traidora! Traidora! – Gritavam eles. A cada passo que dava, ela sentia seus pés queimando em meio as brasas, porém, nada dizia. No meio do tumulto, se ouviu um rugido vindo do céu, e uma sombra cobriu a multidão.
Apavorados, todos olharam para o alto, e foi então quando viram o jovem dragão se aproximando deles. Ele pousou majestosamente sobre as brasas, fazendo elas subirem e se espalharem sobre seu corpo dourado. Qenya nunca havia se sentido tão segura como naquele momento. Dominado pela fúria, Drahall tomou a frente da multidão e ficou de cara a cara com o dragão.
– Eu tomarei sua vida, fera dos infernos! - Disse Drahall, apontando sua lança, forjada de ouro e prata.
– Não se aproxime, Drahall, você não sabe do que ele é capaz de fazer. – Advertiu Qenya.
Sem dar ouvidos, Drahall avançou, mas o dragão respirou fundo e soprou um ar superaquecido, que o fez queimar até os ossos. Os demais ficaram aterrorizados e saíram de perto. Qenya, então, saiu do caminho das brasas e se aproximou do dragão.
– Draekor é o seu nome – Disse ela, enquanto afagava sua cabeça.
Então todos que estavam ali, aqueles que a chamaram de traidora se ajoelharam, e a aclamaram rainha. Assim Qenya se tornou a primeira rainha dos povos primitivos, e a primeira pessoa na história a domar um dragão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dança do Fogo
FantasyDança do fogo não é um livro com histórias contínuas, ao invés disso, esse livro trás vários contos dispersos, mas interligados entre si em um mesmo universo fictício.