10 | NÃO ENTRE

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     NÃO ENTRE
ADAM

5 MESES ANTES
O DIA QUE ELA ENTROU SEM BATER
COMEÇO DO OUTONO EM BAYFIELD

Agarro a embalagem de carnes entregada pelo açougueiro do outro lado do refrigerador. Era péssimo em fazer compras. Os meus armários tinham só poeira e uma ou outra garrafa de bebida guardada. A geladeira só recebia cervejas e leite. Não tinha tempo para aquilo. Em toda a minha vida adulta nunca tive um endereço físico ou uma lista de compras semanais para fazer. Comia o que dava, onde dava e quando podia.

Essa era a realidade de um homem solteiro. Ou fodido que mais enfiava álcool na goela do que alimentos. Tomás Baylor não era muito diferente. Tinha puxado ele naquilo: ser péssimo. Ser péssimo em muitas coisas. Detestava ter que escolher o que comprar. Odiava as intermináveis filas. Ficava entediado com a longa lista de perguntas no caixa, que iam desde a forma de pagamento, oferta para me associar a algum programa de fidelidade ou qualquer outra oferta que não queria saber.

Os caixas rápidos e sem atendente só aceitavam e merda de um cartão. E o único dinheiro que tinha ficava no meu bolso.

Porém, nas últimas semanas as coisas tinham mudado um pouco. Os jantares de domingos tinham se estendidos para a semana. Vigiar um viciado em apostas estava sendo uma tarefa que bagunçou toda a minha miserável rotina. E lá estava eu, no mercado, em um dia da semana, comprando filés para assar na churrasqueira.

Vou até o corredor de bebidas. Enfiando dois fardos de cerveja dentro da cesta. Caminho por mais alguns corredores principais a procura do homem alto, cabelos grisalhos penteados para trás, usando uma camisa xadrez. Passar mais noites com o meu velho, significava fazer mais compras com ele.

Chego no corredor dos congelados. O último corredor. O corredor com refrigeradores nas paredes. Paro. Estreito os olhos com o que encontro.

— Essa marca de comida congelada é uma delicia — uma voz familiar ecoa em minha direção — Parece comida caseira.

Reconheceria aquela voz de olhos fechados. Malditamente. Aquela voz estava começando a impregnar nos meus sonhos. Fechava os olhos e lá estava aquela voz com perguntas, sugestões e ordens. Aquela garota estava em todos os lugares.

Agora estava lá, ao lado do meu pai, com as madeixas claras soltas sobre as suas costas. O vestido floral com fundo vermelho escuro e uma jaqueta de couro preta sobre os ombros.

Sunshine.

— Gostei — meu pai responde todo sorridente e enfiando três caixas de comida dentro da cesta pendurada na sua mão — Vou experimentar.

Ela sorri satisfeita em ajudar. Bufo. Marcho até eles irritado.

— Já peguei os files, pai — anuncio minha chegada.

Meu velho sorri. Os olhos cor de mel que tinham me observado boa parte do dia param em mim surpresos.

— Adam!? — a surpresa está na sua voz e rosto.

Comprimo os lábios sem humor e impaciente. Tudo que eu precisava estava diante dos meus olhos, a minha chefe falando com o meu pai. O cara que sabia pouco ou quase nada sobre o Hell's Reform. A garota tagarela que soltava múltiplas palavras em segundos.

— Tate — devolvo desgostoso.

Os olhos castanhos do meu pai me encaram surpresos. Com um tremulo sorriso que revira meu estômago.

— Vocês se conhecem? — seu indicador balança entre nós.

— Ela é a irmã do Elliot — antecipo desgostoso.

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