VULCÃO

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Olivia tentava fazer um acordo com o delegado, mas aparentemente Vinícius ficaria por 2 anos preso no hospício, passando por diversos tratamentos.  Não sabia desse lado violento do amigo, conhecia uma pouco da Borderline que o pequeno homem esguio carregava, o transtorno de personalidade o fazia viver literalmente na "borda" da sanidade, muitas vezes sofria com neuroses e psicoses. Vinícius estava mantendo o transtorno controlado por algum tempo, mas Borderline não se deixa controlar. Relacionamentos interpessoais eram complicados para ele, ficava dependente, estressado e ao mesmo tempo amoroso, mudava sua personalidade a cada pessoa com quem se relacionava. A auto imagem era um ponto fraco, nunca entendia como era seu corpo de verdade, muito menos sua alma, suas neuroses tomavam conta em todos os momentos de reflexão. As razões desse transtorno era várias e isso acentuava suas crises, tinha predisposição genética, além de instabilidade familiar, no momento em que foi rejeitado pela sua família, espancado por seu pai e ameaçado de ser expulso de casa, fugiu. Sua impulsividade não deixava que ele pensasse mais devagar sobre o caso, ou ao menos tentar mudar a mente dos seus progenitores, mesmo que isso fosse quase impossível naquela família. Aos 16 anos, estava trabalhando em uma rede de fast food, ganhando pouquíssimo dinheiro, conseguiu fazer faculdade com um apadrinhamento de um famoso e bilionário que conheceu enquanto trabalhava em uma festa como garçom. Haviam namorado por um tempo e logo seu transtorno melhorou com os tratamentos que eram dispostos a ele. Mas quando o término veio a acontecer, Vinícius teve suas piores crises, tentou suicídio 3 vezes, todas falharam por muito pouco. Ele era um vulcão pronto para explodir a qualquer momento.

pov Vinícius
Eu não queria ser assim, não é uma escolha. Meus traumas me perseguem e minha insônia piora minhas neuroses, mesmo com todas as técnicas e terapia, eu não consigo controlar esse monstro dentro de mim. Dessa vez, eu sei que ele tomou conta de mim e foi longe demais.  Aquele senhor não fez nada contra mim, eu que estava transtornado, ele não se machucou muito, dói mais em mim por dentro. Olho os nós vermelhos da minha mão e tudo volta, a sensação de raiva e ódio por ele estar falando sozinho, não faz sentido, durou mais do que estou acostumado. 4 horas surtado, como eles me chamam, fora da realidade, num paralelo, sem controle. E isso só me faz perder mais uma vez o controle, me sinto abandonado e me corroe, me mata por dentro. Tudo vai piorar, eu sei, eu já conheço. Minha impulsividade já ataca, meus pontos são compulsão por compras e as drogas, principalmente cocaína, já sinto necessidade novamente. Levanto da cama branca do hospital de custódia, tendo me movimentar o mais rápido possível, finjo comprar coisas, gastar muito dinheiro que supostamente tenho, enceno cheirar e injetar cocaína. Os médicos chegaram rápido para entender o que eu fazia, continuei encenando, depois de 6 internações já não me preocupo mais com médicos olhando o que faço, olho o relógio de longe, 14 horas, às 15h recebo visitas, todos os dias Alice vem. As vezes Olivia e Vanessa, mas nunca de certeza, só Alice que está comigo. Eu sei que vou passar um bom tempo aqui, mas queria trabalhar, ocupar minha mente, eu me conheço e sei o que é melhor para mim! Só queria acalmar esse vulcão! Rapidamente já eram 15 horas, Alice chegou com biscoitos amanteigados que o hospital permite, pedi ao guarda que fica na minha porta duas xícaras de chá de hibisco para tomarmos com os biscoitos. Passamos uma hora conversando sobre o que estava acontecendo lá fora, fiquei com vontade de passear, 18 horas eu tenho aula de artesanato, odeio isso! Vou dormir ao invés disso.

pov Narradora
Mesmo com Alice, Vinícius se sentia ainda sozinho naquele mundo, mas entendia que aquilo era necessário para melhorar. Entendia que precisava acalmar sua alma vulcão.

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