Carinho

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É um longo corredor, são quatro portas escuras, e atrás delas tranco os meus sentimentos. A vontade de jogar algumas das chaves fora é forte, mas sei que não posso fazer isso, as vezes vejo a necessidade de abrir uma das portas para sentir algo dentro de mim novamente.

O corredor é branco, o piso de mármore branco se estende até sua parede final. Duas portas pretas em cada lado, sei que não são apenas coisas ruins, sei que preciso delas.

Não há mais nenhuma outra saída, essa é minha diversão entrar em um dos quartos e em alguns deles tentar não chorar. Então começo a caminhar por esse corredor, e a luz me acalma, quase como um lembrete do que está por vir. Jovem, bonita, atraente. A primeira porta começa a mostrar suas primeiras impressões.

É um vislumbre, ramos de rosas vermelhas sendo pintas em um fundo preto, mas elas não escondem seus espinhos, porem o seu perfume me faz se enganar. Aproximo minha mão delicada da maçaneta dourada, e abro a porta, e agora estou dentro de primeiro quarto.


Carinho

Ele era impressionante, seu sorriso e a forma como me olhava de longe, parecendo não tocar os pés no chão. Ele coloca uma rosa entre seus lábios e bate palmas enquanto dança a melodia flamenga. O cabelo preto como a noite, sua pele bronzeada e luminosa.

Ele não tira seus olhos de mim. Uma outra mulher se aproxima dançando com seu vestido vermelho longo e rodado, na ponta de seus dedos, castanholas. Ele parece não a perceber, seus olhos verdes ainda estão em mim.

Continuo aonde estou, sentada em uma mesa solitária, afastada da dançaria, foi um deslizo, não deveria ter feito, mas meus lábios deu o sorriso malandro e foi como um imã para que começasse a se aproximar. Não era o lugar onde deveria estar, minha mãe espera que eu fosse a igreja, como em todas as quintas, era como uma comunhão onde todos, mas vi todos ali, em uma rua bagunçada, fiquei observando por um tempo, até finalmente me sentar em uma das mesas vazias.

Se eu me visse de longe naquele momento, se fosse uma telespectadora, veria uma jovem mulher usando um vestido florido até os joelhos, o cabelo longo preto penteado em uma trança, volumosa por si só, o corpo um instrumento musical, os lábios vermelhos carnudos, os olhos meio perdidos, como se estivesse desconfortável com o homem que se aproxima.

Mas não, não era a espectadora, era eu mesma sentada a mesa quando o jovem rapaz com a barba por fazer se aproximou e estendeu a mão com um convite para dançar.

Ele moveu os lábios com delicadeza, da mesma forma que me tocou quando lhe dei a mão levantando-me da cadeira. A melodia que a música tocava era agitada ele logo me rodopiou fazendo-me flutuar e me agarrou com seus braços fortes.

Sua mão pesada pressionou meu corpo ao seu e eu senti o choque de nossos corpos. Uma erupção de sentimentos.

A forma como ele mexia os ombros, as mãos, a forma como eu mexia o quadril. Tudo tinha uma conexão. Até mesmo no final premeditado da música, quando ele me puxou para mais perto me desconectando do mundo, nossos lábios perto o suficiente para que eu sentisse sua respiração calma e controlada. Meu coração estava acelerado, não que estivesse com medo, eu apenas sentia tudo ao mesmo tempo. Com a mão no seu peito o afastei, e como um lençol voa ao vento fui embora. E ainda de longe ele conseguia me capturar com seu olhar.

O tempo em sua total perfeição fez com que nos encontrássemos novamente, desta vez no dia nos mortos, um dos feriados mais lindos de minha cultura. Em meu rosto a pintura de uma caveira, em minha cabeça uma coroa de rosas vermelhas, em minhas pequenas mãos respingos reluzentes. Eu o vi de longe, ele sorriu.

Estava perto da minha família e pude ouvir minha mãe perguntar com sua voz angelical por que o jovem rapaz sorria um tanto para mim. E quando ela viu o meu sorriso pode perceber sobre o que se tratava. Ela viu a paixão em meus olhos.

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⏰ Last updated: Jun 01, 2019 ⏰

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4 QuartosWhere stories live. Discover now