Nora

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           O fardo era pesado, mas foi ela que escolhera isso. Literalmente.

Afinal, Nora estava voltando do supermercado com duas sacolas cheias e pesadas. “São apenas dez minutos de caminhada”, pensou a garota de olhos castanhos e cabelo liso e escuro. Segundo sua própria irmã, Nora era uma garota de vinte e dois anos que gostava de se vestir ao mesmo modo da avó. Isso era uma tentativa de zombar de seu estilo, ou da falta dele, só que Nora não ligava. Pelo menos ela não precisava se preocupar com o seu físico, ao contrário da irmã. Nora é o tipo de garota que pode comer o quanto quiser e isso não alterará em nada a sua vida. “Se ao menos isso fizesse alguma diferença para conseguir meus objetivos”, pensou de forma frustrada ao observar o quanto as sacolas pesavam. Ela se apressou para chegar em casa.

A caminhada era tranquila. Naquele domingo havia poucos carros na rua. Além de ela ser a única a caminhar naquele trecho.

Nora olhou para trás e disse de forma pensativa:

- Eu caminhei muito para chegar até aqui.

Quem visse a cena, acharia que a garota estava exagerando. Mas Nora não estava se referindo à caminhada feita ao supermercado. Ela estava pensando nos três anos que passara estudando para finalmente ser aceita na universidade de sua escolha, na cidade que sempre quis morar. Nora agora era moradora de São Paulo e estava prestes a começar o curso de Direito na USP.

Aquela tinha sido a mais longa caminhada que tinha feito. Fracasso após fracasso, ela não fraquejou e continuou tentando, até conseguir a aprovação. Agora o desafio era esse novo começo, onde teria que viver em uma metrópole e estudar muito para terminar com excelência o curso. Isso tudo longe de sua família, que morava em Cuiabá, no estado do Mato Grosso.             

De certa forma Nora se sentia triste e aliviada. De início, ela não tinha planejado escolher uma universidade que ficava em outro estado, no entanto, ao ler mais sobre a renomada USP, ela sabia que queria fazer parte daquela instituição. Teria sido uma forma de fuga inconsciente? Talvez.  Sempre talvez. Nora já estava cansada da própria indecisão.

A garota viveu toda a sua vida na casa de seu tio, um homem muito sério que exigia que sua palavra fosse lei. Ela, sua irmã e sua mãe foram abrigadas pelo tio quando seu pai desistiu de ter uma família. Como ele decidiu comunicá-las sobre isso? Da única forma que achou adequada. Apenas sumindo.

Desde então, o tio virou a figura paterna em sua vida. Ela era muito grata por tudo o que ele tinha proporcionado a ela e a sua família. Mas Nora não podia negar o que estava sentindo, viver sem dar explicações para ninguém era BOM DEMAIS!

Finalmente, a garota chegara em sua casa. Ela tinha alugado um pequeno apartamento no bairro de Santa Cecília, área onde ela descobrira ser escolhida por muitos universitários. Lugar ideal por um preço ideal.

Na semana seguinte as aulas iriam se iniciar e Nora finalmente teria uma rotina de novo. Por enquanto, ela estava apenas se adaptando à nova moradia, à nova vizinhança e à nova cidade. Quando abriu a porta do apartamento, deu de cara com o motivo de ter de acordar cedo para fazer compras: Blue.

Não. Não era o apelido de seu namorado ou de seu cachorro. Ela não tinha nenhum dos dois, em todo o caso. Aquele era o nome de um gato. Um gato que nem seu, ele era.

Blue tinha pelos brancos, olhos azuis e possuía uma pequena coleira dourada com a letra B gravada.

- Por que eu decidi cuidar de você mesmo? – disse Nora, indagando ao gato como se ele pudesse responder.

A garota tratou de abrir uma das sacolas e pegou a ração que comprara para Blue. O gato já estava ao seu lado esperando impacientemente.

- Ok. Ok. Aqui está!  – falou enquanto entregava a ração ao animal faminto.

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⏰ Última atualização: Oct 03, 2014 ⏰

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