Acelere

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Estavam atrasados já. Mesmo que mal houvesse tempo com que se atrasar. Mas pararam o carro. Não dava para passar. Havia muitos pombos no meio do caminho. Centenas de pombos. Milhares de pombos. Um mar de pombos. Vários pombos. Diferentes pombos unidos numa única coisa só: um mar de pombos. Um mar de pombos redondos e rechonchudos, arrulhando a toa. Vários pombos.

Não podiam perder o tempo que já não tinham mais.

Aceleraram o carro. Os pombos não saíam do meio da rua. Um pombo foi atropelado. Seu atropelamento tinha o som do estouro de um balão.

Pluc!

Alguns pombos voaram para trás. Outros não: pluc! Ploc! Plac! Pluc! Plic! Pluc!

O caminho era aberto por entre atropelamento de pombos que explodiam como balões. Pluc! O carro seguia adiante e os pombos seguiam à morte.

Surgia por entre o vento gaseificado da morte, um pombo enorme e gigante. Atrás do carro, arrulhava agressivo. Pru-pruu!!!

O carro seguia adiante, com medo do pombo gigante.

O pombo seguia adiante, avançando contra o carro cheio de gente.

Perninhas grossas, uma atrás da outra, correndo, obedecendo à física e não voando. Era do tamanho de um carro o pombo inteiro. Será que não era o próprio carro?

O carro seguia com mais pressa, e a cada atropelamento que ainda causava, o pombo grande aumentava mais e mais de tamanho.

O pombo estremeceu de ódio, com um agressivo Pruuuuu!, e pulou, voou e voltou, depois voou e avançou, bem mais perto do carro agora. Bicou o teto. Furou. Fincou o bico no teto.

As pessoas esvoaçaram para fora, esvaziando a pressa do carro furado. O pombo ficou com o bico preso, mal fazia mais pruu.

As pessoas correram, caíram e rolaram.
O pombo livrou o bico do carro e lá em cima subiu.

PRUUUUUUU!

E todos seguiram caminhos distintos.
Que adiantaria chegar ao destino agora?

Pruuu!Onde histórias criam vida. Descubra agora