Lose the battle, win the war; único

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Aviso importante de gatilho: ofensas LGBTfóbicas. Se te afeta, não leia.

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No último banco do ônibus, sentado no canto, sendo agraciado pelo vento provindo da janela, está Kim Namjoon. Os olhos rolando de um ponto ao outro pela tela de seu tablet, mexendo aqui e ali nos aplicativos de redes sociais, e-mail e seu website. A pessoa ao seu lado curiosamente espiou o que fazia e se espantou ao ver tantas cores e figuras de mesmo sexo e gêneros distintos demonstrando afetos uns aos outros.

Sim, Namjoon faz parte do movimento pró-LGBTQI. Cria e organiza projetos e eventos para a comunidade. Todos os dias, a caminho do trabalho, ele verifica as notícias e notificações. Principalmente agora com a aproximação da Parada LGBTQI. Junto com outros amigos, está encarregado de negociar com as atrações. Até o momento, estão confirmados o DJ Sugar Fingers, a Drag Queen, cantora e dançarina, Hope Jewels, o cantor abertamente bissexual Park Jimin e a dupla musical barra casal gay V-cious. Artistas em evidências, que lutam, sempre espalham palavras estimulantes e de amor a todos, além de se tornarem peças chave para a busca pelos direitos igualitários. Será a maior celebração do vale que o país já presenciou. Está ansioso para que o dia chegue logo.

Ao se aproximar de seu ponto de parada, salvou tudo na nuvem, fechou os aplicativos e limpou o histórico e o cachê. Seria um perigo se alguém do trabalho descobrisse. Apesar de se empenhar em prol de seus semelhantes, Namjoon entende que há hora e lugar para mostrar a normalidade de alguém não hétero. A firma de contabilidade é muito rígida e tradicional. Primeiro precisam ver que ele é como qualquer outro trabalhador. Entender que a orientação sexual não afeta a capacidade dos seres. Se descobrirem sobre si, terão de aceitar com naturalidade. Pelo menos, é o que deseja.

Como de costume, cumprimentou todos os funcionários com quem cruzou o caminho. Ao chegar no setor que trabalha, alguns colegas já se encontravam em suas mesas, ajeitando as calculadoras e ligando os computadores. Principalmente o mais novo de todos, tanto em idade quanto em serviço, Jeon Jungkook. Ele é muito interessante para si, na verdade. É o segundo LGBTQ que conhece na empresa. Descobriu por acaso meses atrás.

Na hora do almoço, o rapaz se afunda na cadeira e mexe no celular. Um dia, passou por trás dele e viu que usava um aplicativo de encontros, o Grindr. Especificamente de encontros nada heteronormativos. Ele, simplesmente, não esconde. Parece que confia que nunca ousarão espiar o que faz. Até o momento, não há fofocas, então, ninguém ainda o flagrou além de si. Contudo, o rapaz precisa ser cuidadoso.

Namjoon já pensou em alertá-lo, mas sempre trava. Não são próximos. Suas funções são distintas, mal se falam além de algo breve sobre o que precisam para o serviço de ambos. E o Jeon sempre evita encará-lo, como agora. Ele é retraído, o Kim entende. O problema é: por que também fica assim quando está perto dele?

Jungkook é fofo e dedicado. Passa os perfis do app com sua típica boca comprimida e covinhas tímidas, olhos vidrados e receosos. Uma vez, pareceu dar match em alguém. Ficou animado por poucos dias e, logo, voltou a esboçar um semblante entristecido. Se procura por algo além de casualidade, ele está usando o aplicativo errado. O mais velho sabe o quão difícil é conseguir encontrar alguém compatível que quer um relacionamento sério. Mesmo alarmado, Namjoon não queria tirar o direito do Jeon de fazer o que bem entende em seu momento de descanso e sorrir tão lindamente quanto antes.

Após uma retribuição de cumprimento nada cortês vindo do outro, Kim se sentou e se preparou para a rotina de trabalho. Calcular e preencher uma planilha semestral de despesas é bem exaustivo. Fez no automático, como o usual. Sequer notou que havia passado uns minutos da hora do almoço. O setor tinha poucas pessoas comendo e conversando.

One day, we'll win • NamkookOnde histórias criam vida. Descubra agora