Guantanamera

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Deixem seus reviews, por favor, me deixaria muito contente saber o que acharam! Boa leitura:)

POV Alba

Não sou apaixonada por ela, essa é uma das certezas mais fortes que tenho. Não a necessito, ou me sinto sufocada pela sua ausência. Não sinto insegurança quando alguém a olha com desejo, ela não me pertence. Não sinto meu coração apertar doloridamente quando penso nela, e também não acredito em sua perfeição.

Ouço uma nova cadeira sendo arrastada para o lado da que eu já estava sentada, de frente para o celular pronto para nos filmar, e sorrio quando a vejo com o violão na mão. Nos custou decidir fazer isso, mas seria bonito, nada conseguia realmente nos representar tanto quanto a música, então valeria a pena.

--Ainda dá tempo de mudar de ideia....- ela disse já sentada, passando a mão em minha bochecha, daquele jeito tão delicado, tão dela.

--Sabe que isso não vai acontecer, Nat, tá tudo bem! - a acalmei sorrindo. -Além do que mais, eles estão merecendo por diminuírem a quantidade de surtos cada vez que nos veem juntas.

Ela não me respondeu mais, apenas me sorriu de volta e posicionou o violão em suas pernas. Era inevitável a sensação quente no meu peito cada vez que a olhava, seus traços tão bonitos e reais, seu sorriso com alguns dentes levemente tortos, a pequena pinta perto de seu lábio... Seus olhos estavam brilhando intensamente e me perdi neles por um momento, até me lembrar de que ainda precisava ligar a câmera do celular para começarmos.

O som dos acordes da música que tantas vezes escutamos juntas começou a soar através do violão, por seus dedos tão delicados e habilidosos. Hace tiempo que olvidé el sabor a agua salada, he vendido ya mi alma, al diablo por la plata....Y ahora me muero de sed. Ela era tão talentosa, certamente sua voz era minha favorita em todo o mundo, e foi inevitável sorrir sentindo minhas bochechas esquentarem numa sensação incrivelmente boa e familiar enquanto olhava pra baixo na direção das minhas mãos. Ela era minha pessoa favorita. Pedacitos de La Habana, he bailado mil guajiras a la luz de la mañana. Un disparo al corazón...Guan..Guantanamera. Me senti grata por incontáveis coisas enquanto escutava como a letra da música era cantada por sua voz suave. Me senti grata por tudo que havia conquistado e estava conquistando com o esforço do meu trabalho, grata pelos amigos que conquistei nos últimos anos, pelas pessoas que demonstravam tanto amor e admiração por mim...e grata por ela. Grata por tê-la em minha vida e por tudo ser tão simples entre nós. Tão simples e tão forte. E verdadeiro.

Y soy un goodfella', la vida en la plazuela. Mi cara en las monedas, la sangre se me altera, quiero resucitar.... Finalmente levantei minha vista para a câmera do celular, cantando o verso que foi repartido a mim, e eu consegui sentir. Seu olhar estava sobre mim agora, e novamente sorri. Ela era tão boba. Pa' sobrevivir me adentré en el humo de tus cigarrillos acabamos hasta el culo, pintame la piel, angelito oscuro. Sua voz se juntou a minha e dessa vez notei cada célula do meu corpo estremecer. Eu não conseguia e nem podia negar o quanto nossas vozes se encaixavam, como soavam bonitas juntas. Dessa vez meus olhos pousaram nos dela, e outra corrente elétrica me fez estremecer por tudo que enxerguei ali. Y has quemado la ciudad, mamasita dame alas que me quiero ir a volar... En las Cuevas de Cañart, la vida es tan bonita que parece de verdad. Novamente cantei sozinha o verso, mas não pude desviar meus olhos dos seus, que dessa vez olhavam seu violão para que não errasse os acordes. Eu não cansava de admirá-la. Toda ela. Tudo dela. Pa' sobrevivir me adentré en el humo, de tus cigarrillos acabamos hasta el culo, pintame la piel, angelito oscuro. Nossas vozes se juntaram novamente, e voltei a olhar para minhas mãos. Sabia que estávamos deixando todo o nosso naquela música, naquele vídeo, e não haveria mais volta atrás depois que fizéssemos aquilo. E pela primeira vez senti totalmente que não me importava. Sabia que aquilo seria mais que uma confirmação do que tanto evitamos falar - não por medo, mas por não querermos confundir nossas vidas pessoais e profissionais. Mas eu não me importava. Dessa vez queria que as pessoas sentissem tudo que sentíamos... uma pela outra. Y has quemado la ciudad, mamasita dame alas que me quiero ir a volar... En las Cuevas de Cañart, la vida es tan bonita que parece de verdad. Suavizamos a voz no final do verso, ouvindo os acordes finais, e não conseguindo desconectar nossos olhares. Meu coração batia forte, e minha respiração estava visivelmente alterada, assim como a dela. Continuamos nos olhando, até que me lembrei que dessa vez precisava desligar a câmera. Aquilo tinha sido intenso, como tudo que nos envolvia. Cada pedaço da nossa história era intenso, desde o início, quando nem tudo era fácil.

A maior certeza que tenho é de que não sou apaixonada por ela. E não poderia ser. Eu a amo, mais que amei qualquer ser humano e não podia ser comparado com o peso de paixão nenhuma. Não me sinto sufocada com sua ausência, pois sei que sua volta é certa. Não sinto insegurança quando alguém a olha com desejo, pois apesar dela não me pertencer, é a mim que sempre vai desejar. Meu coração não aperta de forma dolorosa quando penso nela, pois só consigo me sentir leve quando seu rosto atravessa minha mente. E não, ela não é perfeita, mas todas as suas imperfeições se tornaram pequenas perto de todas as qualidades que tinha.

A única certeza que tenho, é que eu a amo com toda alma que é minha.

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⏰ Last updated: Sep 24, 2019 ⏰

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Guantanamera - OneshotWhere stories live. Discover now