Um amor devoto

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Ainda lembrava daquela noite, ela havia sido marcada a ferro quente em sua memória, juntamente da cicatriz que foi obrigado a carregar. Foi a morte da mãe a faísca que fez seu ódio explodir, foram os gritos que rasgavam seus tímpanos que fez seus instintos mais obscuros e cruéis acordarem. Foi aquela noite que o transformou em uma fera selvagem.

O cheiro de sangue fresco, os gritos por clemência, o punhal da faca que encaixava tão perfeitamente em sua mão. Tudo isso o satisfazia, tudo isso preenchia o pedaço do coração que havia sido arrancado com a morte da mãe.

Mas agora, não era o suficiente, mas agora não fazia sentido ceifar vidas. Não via graça, não divertia como antes. Talvez tivesse sido essa a razão para abandonar a carreira como assassino, por isso entrou no exército. Esperando que lutar por uma causa ajudasse seu coração a bater como antes.

Entretanto, era entediante e incrivelmente fácil. Abater os inimigos era simples, tudo que precisava era uma mira precisa e o bom uso do campo de visão. Não demorou para subir de patente, ou para ter que encarar os olhares de desagrado dos demais soldados. Pela sua súbita evolução.

Foi lá que o viu pela primeira vez, foi lá que pela primeira vez sentiu seu coração bater de verdade. Vestia um raro jaleco de médico, era justo, deixando o corpo bem cuidado a vista para qualquer um admirar, o cabelo loiro penteado para trás, as orelhas se mesclavam com a coloração do cabelo, a cauda estava entrelaçada em seu braço recebendo carinho e aquela famosa postura de um leão.

Odiava aquela espécie, sempre se sentindo tão superiores e tudo que tem são apenas músculos nada mais. Porém, Erwin tinha uma postura diferente, não possuía o famoso sorriso ordinário, ou o olhar que sempre tentava demonstra superioridade. Não, aquele leão tinha curiosidade, como se quisesse desvendar os segredos mais enigmáticos do universo.

Passou por ele, dando a saudação que era instruído a fazer. E não pode evitar de encarar quele azul inabalável, que parecia o convidar para descobrir mais de seu dono. Era hipnótico, era incrível. E antes mesmo que notasse Levi estava preso na força gravitacional que existia entre eles.

-O Que está fazendo seu cão sarmento? Vá andando! Chispa!

Era a voz de Pixe, aquele velho leopardo era mesmo irritante. O encarou pelo ombro antes de voltar aos seus afazeres.

Erwin o seguiu com o olhar até ele sumir do seu campo de visão, logo depois virou para encarar Pixe.

-Eu teria cuidado se fosse você, aquilo não é apenas um lobo Erwin- Chamou a atenção do loiro.- Era um assassino profissional, com mais de 50 mortes em suas costas. O melhor no ramo.

-Como pegaram então?- Realmente parecia interessado no que Pixe dizia.

-Não pegaram. - Respondeu de forma breve, abaixando as orelhas ao relembrar aquele dia- Ele se entregou. Queriam o condenar a morte, no entanto ele ameaçou abrir a boca, várias figuras de importância haviam contratado seus serviços. Então resolveram o mandar pra cá. - Pegou um charuto e acendeu, dando um longa tragada.- Se fosse pelo menos uma bela mulher Cereal Killer com lindas curvas eu não me importaria, mas isso? Apenas está aqui para me dar trabalho, não sei como lidar com esse problema.- Soltou a fumaça e encarou o céu com uma face sonhadora.

Erwin levantou uma sobrancelha, antes de tirar um papel de dentro de seu jaleco.

-Pois bem meu amigo, acho que estou aqui para resolver o problema.-

Pixe retiro o charuto da boca, e segurou o papel em uma das mãos. Deu rápida lida antes de encarar Erwin assustado.

-Tem certeza disso? Logo aquele homem? Posso lhe dar soldados mais capacitados do que um "caçador de recompensas", sabe disso Erwin.-

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