Capítulo Único

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Capítulo Único - Pizza.

Narrado por Dakota Johnson. 

Hoje é um dos dias mais importantes da minha vida pois completo sete anos de namoro com Victor, minha grande paixão.
Além do mais é dia dos namorados, uma das minhas datas prediletas do ano pois sempre é comemorada por mim e Victor com muitos beijos, presentes e guloseimas. 
- Está quase tudo pronto, Eloise! - Falei fazendo um verdadeiro malabarismo para segurar o telefone ao mesmo tempo em que preparava o jantar romântico - Fiz o prato favorito do Vic, a sobremesa favorita dele e até comprei uma lingerie muito sexy para usarmos esta noite, se é que me entende. - Comentei maliciosa pondo o telefone no viva-voz sob a mesa e experimentando uma colher do molho branco que estou preparando. 
Uma das coisas que mais gosto de fazer na vida é cozinhar e comer, é claro.  
Não é a toa que sou formada em gastronomia e trabalho como chef de um dos restaurantes mais famosos de Nova York.  
Quando adolescente tive problemas de peso por causa da minha compulsão por doces e frituras, mas quando me apaixonei por Victor, capitão do time de futebol americano do colégio, decidi que faria o que fosse preciso para que ele se sentisse atraído por mim e para isso mudei todo o meu visual, perdendo mais de vinte quilos no total.
Só então Vic me enxergou como mulher de verdade, me pediu em namoro e desde então estamos juntos e felizes, quer dizer... Nem tanto. 
Minha mãe, Melanie, que mora em Nova Orleans não apoia muito nosso namoro. Ela diz que Victor não gosta de mim de verdade, apenas me deseja e só me quer hoje porque estou magra pois se ainda estivesse gordinha não estaria nem aí pra mim, mas Victor sempre diz que me ama e sempre preferi acreditar nisso, mesmo de vez em quando sentindo certa desconfiança desse amor. 
- Sorte a sua, Dak. Já eu, mais uma vez irei passar o dia dos namorados sozinha já que Luke ainda está no Japão e pelo jeito, não vai conseguir arrumar tempo livre para vir me ver de novo. - Lembrou referindo-se a meu primo, Luke, que trabalha como executivo e mora no Japão, mas mesmo estando do outro lado do mundo mantêm uma relação a distância muito bonita com Eloise, minha amiga de infância. 
- Sinto muito, Elô. - Lamentei temperando a comida com um pouco de orégano - Vamos terminar a conversa pessoalmente? Que tal vir aqui em vasa? Preciso desligar agora pois vou ligar para Victor a fim de saber onde ele está. 
- Você sempre fazendo marcação cerrada com ele ligando todo o tempo, hein? - Ri - Okay, estou chegando aí! Beijos! - E desligou. 
Lavei as mãos e peguei o telefone novamente, discando para meu namorado. 
Uma tentativa. 
Duas. 
Três. 
Dez...
E nada dele atender.  
- Merda. - Resmunguei jogando o telefone na mesa - Onde será que Vic está? - Perguntei-me mordendo os lábios de ansiedade. 
[...]
Começei a fazer a sobremesa de Victor que é pudim, o prato favorito do moreno desde sempre.
Depois fui fazer o suco, mas revirei os olhos quando percebi que o açucar acabou. Pensei em usar adoçante, mas Vic detesta adoçante e hoje quero que tudo seja extremamente perfeito e a gosto da minha paixão. 
O jeito vai ser pedir para minha vizinha, Leah. 
Tirei o avental, soltei os cabelos e caminhei para fora de casa. Bati na porta da casa de Leah e nada dela atender também. 
Não somos amigas, mas também não somos inimigas. 
Só conversamos o necessário e as vezes, pedimos algo emprestado uma a outra como alimentos e utensílios domésticos. Continuei batendo na porta, já meio impaciente até que... 
- Dakota? - A morena de olhos puxados arregalou os olhos ao me ver - O que faz aqui? - Deu um sorriso visivelmente nervoso. 
Eu hein? 
- Bom dia Leah, poderia me emprestar um pouco de açu... - Distraída, demorei para olhar atentamente para minha vizinha, mas quando realmente olhei, meus olhos se encheram de lágrimas. 
Leah estava usando somente uma camiseta, mas não era qualquer camiseta. 
Era uma camiseta cinza, a camiseta de Victor.
Tenho certeza que pertence a ele porque ela tem uma costura na barra do braço feita por mim, quando a mesma rasgou enquanto Victor jogava futebol americano com os amigos meses atrás. 
Reconheceria aquela roupa mesmo se ela estivesse em meio a um milhão de outras.  
- Dakota? O que você tem? - A vadia agiu como se nada estivesse acontecendo, mas está. 
Nesse exato momento o meu pior pesadelo está acontecendo perante os meus olhos. 
- Sua vagabunda... - Xinguei a empurrando e entrando em sua casa.
- Está louca, Dakota? Como ousa entrar na minha casa assim? - A pilantra indagou mas a ignorei caminhando até seu quarto, abrindo a porta e comprovando perfeitamente minha teoria. 
- Dak? - Victor estava nu em cima da cama da minha vizinha, mas assim que me viu cobriu-se com o lençol, envergonhando-se - Não é nada disso que você está pensando. Eu posso explicar! Calma! 
- Acha que sou idiota, Victor? Acha mesmo? - Fui para cima dele, despejando um tapa em sua cara com toda a força que possuía - Como teve coragem de me trair? Que tipo de homem você é?! Minha mãe estava certa o tempo todo. Você é um idiota! Céus... Como pude ser tão burra?! - Falei desesperada dando vários tapas e pontapés em Victor que tentava me conter segurando meus braços, mas eu estava tão surtada que ele não estava conseguindo se proteger muito não. - Filho da mãe! Eu preparando nosso jantar de dia dos namorados e você enchendo a minha testa de chifres? Desgraçado! - Passei a tacar tudo que tinha na minha frente em cima dele - Isso não vai ficar assim!!   
- Está quebrando minha casa, sua doida! Para! - Leah teve a audácia de tentar me repreender.  
Azar o dela. 
- Estou quebrando é? - Peguei um vaso que tinha na cômoda dela e joguei no chão - Oh, foi sem querer! - E ri da cara dela que foi para cima de mim mas antes que pudesse me atacar, a ataquei primeiro tacando meus cinco dedos naquela cara de sonsa dela. - Vagabunda! - Xinguei. 
- Dak, por favor, se controle! - Victor pedia enquanto se vestia e tentava contornar a situação.  
- Não me chame de Dak! Está tudo acabado entre nós, entendeu? Se aparecer na minha casa de novo vou acabar com a sua raça, seu hipócrita! E você... - Olhei para Leah com ódio - Nunca mais dirija a palavra a mim ou vou acabar te batendo tanto, mas tanto que você vai ficar sem nenhum dente nessa sua boca imunda! - E pisquei cinicamente para ela. 
De cabeça erguida, saí da casa daqueles traidores mas quando cheguei do lado de fora, simplesmente desabei. 
Victor, o homem que amava, me traiu com a vizinha na maior cara de pau. 
Eu pensava que ele me amava e na verdade, me traía com ela e sabe-se lá com quantas outras mulheres. Como teve coragem de fazer um negócio desses comigo? Como? 
Chorando de joelhos no chão, senti uma mão sob meu ombro. 
- Venha, Dak. - Eloise disse me ajudando a levantar para voltar pra casa, enquantos os demais vizinhos me observavam após acompanharem o barraco de longe. 
[...]
- Não fique assim, Dak. - Horas depois, Eloise ainda estava me consolando na sala de estar da minha casa. - Victor não merece nenhuma das suas lágrimas. 
- É, você está certa. - Respirei fundo, saindo do colo dela e secando meu rosto com meu lençinho - Não vou mais chorar por aquele canalha não. 
- Tem certeza? - Eloise olhou seu relógio de pulso - Porque já deu minha hora, tenho que voltar ao trabalho. - Levantou-se do sofá. 
- Tenho sim, obrigada por cuidar de mim amiga. - Agradeci beijando a bochecha da loira que sorriu para mim - Qualquer coisa te ligo. 
- Combinado. - Eloise pegou sua bolsa - Vou indo então. - A acompanhei até a porta e segundos depois, ela foi embora me deixando sozinha. 
- Que ódio... - Resmunguei depois que ela se foi, trancando a porta - Isso não vai ficar assim, Victor. 
Subi as escadas até o quarto e abri o armário. Tinha dezenas de roupas de Victor que antes de tudo acontecer, vivia dormindo aqui e por isso até escova de dentes do desgraçado tem na minha casa. 
Joguei as roupas e sapatos dele no chão, peguei uma tesoura na gaveta da cômoda e passei a picotar peça por peça do filho da mãe, cortando tudo em mil e um pedaçinhos. 
A sensação de cortar as coisas do infeliz era muito boa, confesso, e por isso não deixei uma peça sequer inteira. Quando estava picotando a última peça, ouvi batidas na porta. 
- Dak, abre a porta, vamos conversar. - Victor dizia calmamente. 
Da janela do quarto mesmo, o respondi. 
- NÃO! VOCÊ NUNCA MAIS VAI ENTRAR NA MINHA CASA, MUITO MENOS CONVERSAR COMIGO. ACABOU, VICTOR! A MAMATA ACABOU! - Afirmei.
- Okay. - Ele revirou os olhos - Poderia ao menos devolver minhas coisas? 
- Claro. - Respondi sorrindo. Saí da janela, peguei os restos das roupas do salafrário e voltei para a janela - Aqui, infeliz! - E joguei tudo da janela mesmo, em cima dele lá embaico. 
- QUE ISSO? - Victor olhava para o que sobrou de suas coisas perplexo - VOCÊ ENLOUQUECEU, DAKOTA? - Se ajoelhou no chão, tentando em vão salvar alguma peça. 
- Você ainda não viu nada. Se não ir embora agora da frente da minha casa, a próxima coisa que irei picotar serão suas partes íntimas, querido! - Ameaçei mostrando a tesoura para o moreno que assustado, deixou tudo ali mesmo e saiu correndo. 
- Que barraqueira... - Uma das vizinhas comentou da janela dela onde acompanhava o barraco de camarote. 
- Sou mesmo! - Assumi - Fui corna e não vou levar desaforo pra casa mesmo! - E fechei a janela com raiva de tudo e de todos. 
Furiosa e muito abalada ainda, voltei a chorar. 
Dessa vez, sozinha. 
[...]
- Hum... - Murmurei mordendo um pedaço de chocolate branco.  
Era a minha vigésima barra de chocolate. 
Se continuar assim, vou engordar mas não adianta, quando estou triste ou nervosa, acabo descontando mesmo na comida. 
[...]
- É sério mesmo, Eloise? - Enquanto comia e assistia um filme água com açucar na televisão, conversava com Eloise ao telefone já a noite - Luke veio do Japão só pra passar o dia dos namorados contigo? 
- Sim e estou muito, mas muito feliz por isso amiga. Vou ter a melhor noite da minha vida, vamos jantar no restaurante onde você trabalha e depois, passear no Central Park! Pena que é sua folga e não vou poder comer as delícias que você sempre prepara. Ops, esqueci que você está tendo um péssimo dia. Me desculpa, ta? 
- Imagina! Mesmo estando triste com o que Victor me fez, estou muito feliz por você Elô. Espero que tenha uma noite maravilhosa com meu primo e já sabe, se der casamento quero ser madrinha okay? - Brinquei e ambas rimos. 
- Claro que vai ser, Dak. Luke está te mandando um beijo aqui! 
- Manda um para ele também. - Respondi de boca cheia.
- Está se entupindo de comida, não é? A compulsão voltou? 
- Sim, mas não briga comigo por favorzinho. - Fiz bico. 
- Ta, não vou brigar. Preciso ir, Dak! Já sabe que qualquer coisa é só me ligar, okay?
- Okay, beijos. - Desliguei de novo.  
[...]
Já era tarde da noite, mas não estava conseguindo dormir de jeito nenhum.  
Toda vez que fechava os olhos, lembrava da cena horrorosa de Victor na cama de Leah. 
E mais uma vez, senti fome. 
Levantei e caminhei até a cozinha, abrindo a geladeira. 
- Droga... Não tem nada gostoso aqui. - Resmunguei fechando a geladeira - Já sei! Vou pedir uma pizza! Uma pizza com muito queijo, tomate... Hum... É tudo que preciso agora. - Falei indo até a sala e discando para a pizzaria onde fiz um pedido de uma pizza a delivery. 
[...]
Minutos depois, a campainha tocou. 
Tinha acabado de tomar banho e vestia  somente com uma camisola curta preta, a mesma que estrearia com Victor esta noite se ele não tivesse me traído, mas mesmo assim resolvi abrir a porta porque estava com preguiça de me trocar. 
Girei a maçaneta e tive uma grata surpresa. 
Sempre que pedia pizza, o que costuma acontecer com uma frequência absurda, a maioria esmagadora dos entregadores eram feios demais, mas o de hoje é simplesmente o homem mais lindo que já vi em toda a minha vida. 
Mais lindo até que Victor. 

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