Era uma vez um garoto perdido.
Ou, na realidade, não era tão perdido assim, ele só se sentia dessa forma naquele pesadelo.
E neste sonho ruim…
Ele não acreditava mais que poderia ser salvo, somente um milagre para que essa salvação chegasse.
Mas da mesma forma em que ele ansiava por este milagre, por entre todo aquele pó, escombros e sangue que o cercava, ele não se achava merecedor…
Ele se perguntava se merecia continuar vivo quando todos os seus estavam mortos, se ele conseguiria respirar com toda a lembrança que o acompanharia enquanto ele estivesse vivo. O garoto imaginava se ele conseguiria suportar se lembrar de ver um por um, alguns que nem conhecia, alguns sendo as pessoas mais importantes de sua vida, serem massacrados.
Mas ele era só uma criança. E Ele queria viver, pensava.
“Por favor, me deixe viver.” Suplicava mentalmente junto as lágrimas e soluços.
Então…
Ela apareceu.
Entre a névoa densa e pungente que pairava no lugar que costumava ser sua casa, mas agora não passava de um amontoado de lixo e destruição, ele conseguiu enxergar uma silhueta, e conforme essa mesma ia avançando pode perceber os olhos brilhantes e vermelhos como sangue e chamas da pessoa que vinha em sua direção. Era uma mulher se aproximando, dona dos cabelos mais negros que ele já havia visto na vida, era como ébano reluzente…
Uma Deusa.
Com toda aquela beleza ela só podia ser uma Deusa, a sua salvadora, a divindade que escutou as suas preces.
Ele fez uma nota mental de agradecer a ela mais tarde, quando estivesse aquecido e alimentado, pois era para isso que ela estava ali, para salvá-lo e levá-lo embora e, neste momento, a exaustão e sua garganta, que estava seca e dolorida demais, o impediam que ele pronunciasse algo, até mesmo um pedido de socorro ou agradecimento.
Uma coisa era certa, ele seria seu mais fiel servo, iria ser seu escravo e guardião.
Sim. Já se decidira nestes poucos segundos. Iria venerar aquela mulher que agora se agachava para ficar frente a frente com ele.
De perto ela era mais linda ainda, como um anjo. Uma vez minha mãe havia me contado sobre anjos de fogo, que traziam em seus olhar a chama do mundo. Será que essa mulher é a Deusa deles? - O garoto se perguntou. Realmente ele acreditava que sim.
Ela sorri e lhe estende a mão.
E se ela estiver com ele? Pensou
Não.
Ela será a minha salvadora.
Ele pegou sua mão.
Quente.
Como a mão de sua mãe.
Sim.
Ela era uma Deusa.
Ele estava a salvo.
Ele se levanta ao mesmo tempo em que ela se ergue e a observa fazer alguns símbolos no ar. O menino maltrapilho já ouvira falar sobre aqueles símbolos, mas nunca os havia vistos, magia humana era o nome, era como sua mãe chamava, quando o ensinava sobre os mais diversos universos.
Um símbolo maior, como um emaranhado de luzes, se ergue no ar e ela assopra, até se alojar em meu peito.
O garoto começa a ficar leve, como se estivesse flutuando e, de repente… É como se eu estivesse entre dois lugares, o símbolo em seu peito brilhava como uma estrela incandescente.
Ele consegue vê-la ainda sorrindo, como se soubesse que isso o acalmava e no mesmo momento podia ver um recinto limpo e totalmente aconchegante, quente, com um barulho de lenha sendo queimada na lareira, também havia pessoas com o mesmo semblante da Deusa.
Pacíficos e sorridentes.
Ele estava sendo salvo.
Finalmente.
O menino sorri para todos eles aliviado.
Mas então…
O pesadelo do garoto toma o rumo que sempre o amedronta, ele já tentara mudar a ordem, já se esforçou de todas as formas para acordar no momento em que ele se sente seguro, mas não…
Ele começa a se debater entre as cobertas e suar até ficar encharcado.
O garoto está a salvo.
Mas a Deusa não.
Ele grita para que ela fuja.
Mesmo que sua garganta doesse demais, mesmo que a cada grito pronunciado sua cabeça parecesse que iria explodir, mesmo assim..
Ele tenta alertá-la.
O monstro está se aproximando com a mesma adaga.
A Adaga que perfurou o coração de sua mãe, a adaga que o monstro tirou de sua mão quando ele, tolo, fora tentar defender sua família.
O monstro sorri.
Não é como o sorriso dela.
O garoto tem medo.
Muito medo.
O ser maligno leva o dedo aos lábios, o instruindo a ficar em silêncio enquanto ele se aproxima da Deusa.
O menino se esperneia.
Tento alcançar a mão dela novamente, para que fujam juntos.
Mas ele não consegue, se sente um fracassado.
Fraco demais.
O garoto agora chora compulsivamente.
Ele se culpa e toda vez, a cada noite que esse pesadelo lhe faz companhia,ele sente a dor que a Deusa sentiu.
A dor de morrer. De dar a sua vida pela dele.
O garoto consegue despertar.
Este é o momento que ele sempre consegue acordar…
Quando o sangue do coração da Deusa pinga em gotas grossas no chão. Quando o ser desprezível sorri com sua bocarra reluzente atrás dela.
Quando o vazio lhe suga e ele desaparece lá.
Na realidade, pode se dizer que ele é um garoto perdido sim, não só nos pesadelos, mas em todo momento, quando percebe que ele é um sobrevivente, mas que leva infinitas mortes nas costas.
O que o consola é que eles irão se vingar.
A sua devoção é só um complemento para a sua união.
A Vingança é o elo que nunca irá separá-los.
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Breathe
FantasyCatarina Valloris não imaginava o que lhe esperava no futuro. Ela sempre imaginou que seria dona de grandes feitos na história, assim como seus pais, seus tios, avós e todas as outras pessoas que fazia parte de sua vida, mas o que ela não imaginava...