Era um fato conhecido que os Deuses e Soberanos eram pessoas quase normais, que viviam como qualquer outro habitante da Terra.
Há alguns anos os Antigos, que eram os atuais Deuses, decidiram se aposentar.
Hilário não é?
Como seres extraordinários que criaram tudo que existe poderiam almejar algo tão banal como se aposentar e parar de comandar tantos seres e mundos que criaram? Pois é, eu me perguntava isso e hoje os entendo perfeitamente.
Mas os caras eram Deuses, então simplesmente queriam e ponto.
Foi então que à partir daí nós, os descendentes dos primeiros salvadores da humanidade pegamos, que no meu caso foi sem escolha mesmo, a responsabilidade de gerir e cuidar das engrenagens dos mundos, e toda a trabalheira que com esse cargo vem junto.
Claro que usaram uma desculpa de que se eles não houvessem passado as responsabilidades para nós, eu morreria e todos iriam sofrer com a minha perda e blábláblá…
Não sei se agradeço ou se insiro eles na minha lista negra.
Ah sim, eu tenho uma lista negra. Não se pode imaginar a chefe do submundo, que no caso aqui neste mundo é uma mulher e não um homem como em várias outras dimensões, sem um caderninho com o nome de seus inimigos.
Meio infantil, eu sei, mas não ligo.
Posso me dar o prazer de ser estranha no meu mundinho fechado e demoníaco.
Eu também gosto de imaginar que eles devem ter feito uma festa quando se certificaram que eu continuaria tendo um único suspiro de vida restante em minha alma. É sempre mais fácil imaginar paranoias para nos fazer bem e saciar nosso ego, digo por experiência própria, sou a senhora do egoísmo como muitos dizem. E estou começando a aceitar de bom grado mais esse adjetivo menosprezante, já sei muito bem usá-lo e tantos outros que recebi em meu favor, em minha mente, na maioria das vezes, mas isso não vem ao caso no momento.
Onde eu estava?
Ah!
Na parte da festa de arromba em que eles devem ter dado enquanto eu estava me acabando no poço da amargura, no meu novo lar.
Lá no inferno.
Quente.
Sufocante.
Digno para se curtir uma fossa.
Aliás, acho que eu deveria abrir exceções, deixar com que pessoas vivas entrem lá de vez em quando, tipo uma excursão da desgraça. Todas aquelas pessoas que amam ouvir músicas melancólicas e comer porcarias gordurosas quando estão se martirizando com algum tipo de desconforto, poderiam fazer isso no lugar ideal.
Tá.
Me perdi de novo.
Ah lembrei!
Lista negra, festa bombástica, novo lar…
Bom, mais um fato mas que não é de conhecimento público é que com certeza eu sou a única que entende, é que carregar a morte nos ombros, é uma bosta.
Na minha mente, não gosto de imaginar que sou a personificação dela, passo longe de ser uma velha caquética com um manto preto e um nariz horrendo e pontudo com uma verruga na ponta, se bem que acabei de descrever uma bruxa de contos de fadas, mas é assim que a morte se parece em minha cabeça, na realidade mesmo, eu sei que sou a morte, a ceifadora, como alguns me chamam, ou a Senhora Morticia como os idiotas dos irmãos adoram me apelidar para implicar com a minha sanidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Breathe
FantasyCatarina Valloris não imaginava o que lhe esperava no futuro. Ela sempre imaginou que seria dona de grandes feitos na história, assim como seus pais, seus tios, avós e todas as outras pessoas que fazia parte de sua vida, mas o que ela não imaginava...