Insegurança era algo familiar para Eijirou. Ele estava afeito ao sentimento, visto que ele habitava sua mente há muito tempo, carcomendo boas memórias e agravando o ressentimento das ruins. Insegurança era como alguém que residia no mesmo corpo que ele, que sussurrava dúvidas em seus ouvidos nos momentos mais inoportunos possíveis.
Ele havia aprendido a conviver com aquele parasita, a ignorar os receios que ele plantava em seu cérebro, mas às vezes ainda era difícil coabitar com aquela parte obscura de si.
Houveram alguns casos notáveis desde que entrara na Academia Yuuei, casos dos quais se lembrava bem, mesmo depois de tantos anos.
Era difícil afastá-los no início, sem ajuda de ninguém, principalmente à noite, quando sua mente ia para lugares mais sombrios do que ele gostaria. Hoje, ele já não temia o sol se pondo, visto que tinha sempre alguém para dividir a cama e abraçar quando os pesadelos e as ansiedades insistiam em perseguí-lo.
Era estranho como depois de tanto tempo, Eijirou ainda se surpreendia com a capacidade de Katsuki em confortá-lo quando as inseguranças se tornavam pesadas demais para que ele carregasse sozinho. Eram momentos inauditos, inesperados. Quantas vezes o coração de Eijirou não se derretera com as palavras reconfortantes de Katsuki, quantas vezes não se surpreendera com suas observações? Katsuki parecia sempre saber quando o ruivo precisava de conforto.
Katsuki vez ou outra murmurava consolos para Eijirou, breves frases sem palavrões ou insultos, que já estava tão enraizados no vocabulário do loiro que seria impossível realmente tirá-los de lá.
Eram momentos excessivamente rápidos, pairavam no ar por alguns milésimos de segundo, desaparecendo como se nunca houvessem sido ditos. Átimos de amor com os quais Eijirou sabia que nunca conseguiria se acostumar. Não sabia quando estavam chegando, nem sabia o porquê, mas ele definitivamente se deliciava com aquelas palavras doces que deixavam a boca de Katsuki, contrastando completamente com seu palavreado usual.
Aquele era um daqueles momentos.
— Você não tem que saber o que pensar e o que dizer. — Ele murmurou, acariciando os cabelos ruivos de Eijirou. — Você não tem que tentar ser alguém que você nunca será.
O corpo de Eijirou balançava com os abalos sísmicos que seus soluços provocavam. Era como se houvesse um grande terremoto em seu coração, ameaçando destruí-lo por inteiro.
— Eu vou ficar aqui até você melhorar, você sabe. — Ele dizia, seus dedos correndo pelos fios ruivos de Eijirou enquanto seu outro braço o sustentava perto de si. — Vai ficar tudo bem.
Eijirou molhava o tecido da blusa de Katsuki, seus braços segurando-o firmemente, como se ele fosse desaparecer caso o ruivo não o abraçasse com força o suficiente.
Era tão estranho ver aquele tipo de delicadeza no rosto de Katsuki, tão diferente ouvir sua voz tão gentil. Aquilo fazia com que Eijirou ponderasse o que Katsuki via nele para agir daquela maneira, o que o tornava tão especial para fazer com que o loiro deixasse seus maneirismos de lado para poder confortá-lo.
Saber que havia alguém que se importava com ele daquela maneira fazia com que o coração de Eijirou contorcesse dentro de si, numa felicidade tão amargamente doce que lhe dava vontade de segurar Katsuki em seus braços e nunca mais soltá-lo.
Aqueles átimos sempre terminavam da mesma maneira, numa espécie de ritual que Katsuki decidira ser essencial para que os dois pudessem voltar à vida normal, sem fantasmas do passado ou do futuro assombrando-os.
O loiro colocava suas mãos no rosto de Eijirou, erguendo-o para que os dois pares de olhos escarlate se encontrassem. Seus polegares percorriam a pele banhada pelas lágrimas, suas testas se tocavam e seus lábios se selavam gentilmente, um breve roçar, como se qualquer força maior fosse despedaçar algum dos dois.
— Você é mais do que o suficiente. — Ele dizia. — Você é mais do que eu mereço, do que qualquer um merece.
Então, ele dava mais um beijo em Eijirou, suspirando ao separar-se do ruivo.
— Você é mais do que o suficiente. — Ele repetia. — Eu vou ficar aqui por quanto tempo você precisar, e por quanto tempo você quiser.
Eijirou sempre ria, respondendo: — Para sempre é muito tempo, você acha que aguenta?
— Eu não consigo pensar em ficar nenhum segundo a menos. — Era a resposta, não importa quanto tempo havia se passado. — Você não vai se livrar de mim tão fácil, Eijirou.
Eijirou estava começando a acreditar que aquilo era verdade. Katsuki não o deixaria, não depois de tudo que eles passaram juntos, não depois do tanto que cresceram um ao lado do outro.
Estarei aqui até você ficar bem
Deixe suas palavras soltarem a dor
Eu e você vamos compartilhar o peso
Que cresce e cresce dia após dia
Está tudo bem, venha para cá e fale comigo
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Átimos de Amor
RomanceÁtimo: Instante, período de tempo muito curto, momento breve. As formas mais gentis do amor de Katsuki sempre se davam em momentos excessivamente rápidos, mas conseguiam afastar as preocupações de Eijirou facilmente.