O Preço de um Sonho

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Eu sempre fui fascinada por reis e rainhas, por princesas em seus vestidos coloridos em seus belos e imponentes castelos. Eu era uma garotinha de origem nobre, porém de uma família mais rica em título do que em ouro. Não éramos pobres, mas nem de perto éramos o tipo de aristocracia da alta nobreza que compunha a corte real.

"Se você pudesse fazer um desejo," Eu tinha dito cheia de empolgação infantil ao filho de um casal de servos da minha família, no auge dos meus oito anos de idade, "Qualquer desejo, mas só um! O que você desejaria?"

Não deixei que Victor respondesse, impaciente como sempre, impedindo sequer que ele tivesse tempo de abrir a boca. "Eu desejaria me casar com o herdeiro de Vossa Majestade, não seria maravilhoso? Um dia eu seria a rainha da França. Consegue imaginar quantos vestidos eu teria, Victor?"

"Com certeza seria maravilhoso, Mademoiselle." Ele tinha dito com aquele sorriso contido e praticado, sempre pronto para educadamente concordar com o que eu dissesse.

"Me responda, então, se você tivesse apenas um desejo, qual seria?"

Victor poderia ter respondido qualquer coisa que me agradasse, não é como se naquela idade eu estivesse esperando qualquer tipo de resposta profunda para minhas perguntas impulsivas. Porém, ele pareceu levar o questionamento a sério, tomando um tempo para pensar. Ele pareceu tão mais velho que seus doze anos naquele momento, um ar de certa forma sombrio caindo sobre seus olho escuros.

"Eu desejaria... Igualdade."

Franzi a testa, confusa. Eu esperava algum desejo mais material. "Como assim?"

Ele olha para mim com algo que eu não sabia identificar na época. Desdém. "Eu desejaria que a França fosse igual para todos. Que os pobres comessem o mesmo pão dos ricos, que não tivessem que morrer de fome pagando taxas para sustentar os vestidos de uma rainha."

Hoje, tantos anos depois, me pergunto o quanto Victor realmente me desprezou. A menina cheia de ignorância para a situação de miséria daqueles em situação social inferior, a filha mimada do homem rígido que nunca mostrou gentileza à família de Victor apesar dos anos de serviço.

Victor era uma criança taciturna, séria demais para sua idade e que falava muitas coisas que eu não entendia. Porém, minha mãe era doente, meu pai e irmãos mais velhos ausentes, e ele era o mais próximo de alguém que me dava atenção que eu tinha — mesmo que por um senso de obrigação. Eu gostava dele, mas não sei se um dia o sentimento foi recíproco.

"Mas... Igualdade. Como seria possível conseguir isso?" Perguntei, franzindo a testa.

Victor abriu um sorriso pequeno, porém mais verdadeiro do que aqueles que ele normalmente me direcionava, seus olhos fervendo de inspiração. "Com uma revolução! Com a união do povo pelos interesses do próprio povo, juntos para construir um lugar mais justo para vivermos."

Olhei para ele, sem entender muito bem, sem me importar o suficiente para tentar entender. Meu mundo era justo o suficiente. Eu desejava que minha mãe se curasse, claro, mas em minha casa tinha pão na mesa todos os dias, sempre muito delicioso, e pensar sobre injustiças da vida dos outros nunca tinha sido algo que passara pela minha cabeça.

"Mas em revoluções e esse tipo de coisa," Eu tinha comentado, entediada, "Tem muito sangue derramado, não? Vale mesmo a pena?"

Victor olhou para mim de forma incrédula, e disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, "É claro. Pessoas tem que morrer. Pessoas ruins."

Não me lembro bem o que aconteceu depois dessa conversa, mas essa breve interação era algo que persistira em minhas lembranças mais tarde. Anos se passaram, eu completei treze anos e minha mãe havia falecido há pouco tempo. Não sei se por isso Victor se tornou mais complacente comigo, mas eu sentia que ao menos seu comportamento era mais genuíno.

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