❧ Epiphany

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Jimin

Nunca pensei que uma das melhores sensações que eu sentiria na vida seria a de minha mão se chocando contra o rosto de Mateo.

Um soco, um esplendoroso soco.

O estalido que ecoou em todo o ambiente, a textura de sua barba, as marcas de meus dedos ficando evidentes, tudo isso tinha composto aquela cena particularmente incrível. Mas a melhor parte, a mais impressionante de todas elas, era sua face contorcida em choque ao perceber o que eu havia feito. Ele não estava acostumado a me ver reagir, mas a verdade é que nem eu estava. O que aconteceu naquele ginásio, tinha parecido algum passo de uma coreografia improvisada, muito bem executado.

Claro que depois de ter passado uns bons cinco minutos o ouvindo dizer o quanto eu estava sendo exagerado quando o vi claramente me traindo com um outro cara – algum colega seu provavelmente, enfiando a língua na boca dele e tudo mais, ambos escondidos em um armário de limpeza do colégio – ele tinha sim merecido aquele soco e quem sabe até mais. Desse modo, vê-lo completamente sem postura havia sido uma das minhas maiores satisfações na vida.

O quão deprimente era ter esse tipo de satisfação?

— Você enlouqueceu?! — a voz irritadiça de Mateo penetrou meus pensamentos, mas ainda parecia abafada, como se não fosse comigo.

Não respondi.

Minhas reações estavam erráticas. Eu estava errático e tão surpreso quanto ele. Talvez realmente tivesse enlouquecido.

Haviam bolinhas holográficas de luzes coloridas se movendo em todas as direções, pareciam estar rodopiando em uma dança própria, elas se cruzavam, para logo depois se desfazerem novamente e o processo se repetia. Um baile de pré-formatura onde ele estudava, não era exatamente o que eu tinha em mente para diversão naquele final de semana. Só Mateo faria com que eu saísse de casa para me levar a um ambiente assim, no qual, eu estava claramente infeliz. Ele amava esse tipo de evento e eu não, mas... se me perdesse em um momento de prospecção, talvez eu percebesse que quase nunca fazíamos o que eu amava realmente.

Todos aqueles jovens tinham parado o que estavam fazendo para nos observar, seus copos com bebidas batizadas proibidas pelo colégio, repousavam no ar a meio caminho de suas bocas. Não éramos assumidos e talvez nunca fôssemos chegar a ser, na sociedade em que vivíamos estava fora de questão viver uma relação entre dois homens, então não consigo imaginar o que aqueles alunos tinham pensado enquanto brigávamos, talvez que fosse por uma garota, nunca iria saber. Mas aquela cena dramática, parecia parte de algum filme muito muito ruim.

E eu fiquei assustado, não pelo fato de que todos nos olhavam como que esperando algo mais acontecer, como se realmente estivéssemos em algum filme, ou o fato de que o relacionamento no qual estive por quase três anos estivesse acabado, mas sim, por que eu não estava sentindo absolutamente nada.

Simples assim. Um grande turbilhão de nada, com exceção, é claro, do prazer estranho em estapear o idiota do meu, a partir daquele momento, ex namorado.

Mateo, que antes me olhava com desdém, como se todos os meu protestos fossem insignificantes, depois do soco, passou a me olhar com raiva. Eu o tinha feito passar vergonha e provavelmente estava se sentindo humilhado. Ele realmente odiava isso.

Observando a sua face avermelhada e enfurecida se passaram em minha cabeça, diversos momentos em que abdiquei do que eu queria e gostava, por aquele garoto de caráter medianamente ruim a minha frente e finalmente percebi. Seus traços familiares, a covinha da bochecha direita, os fios negros como uma noite escura, nada disso me causava o formigamento bom de antes. Eu não o amava mais, e talvez nunca tivesse amado. Pensar sobre isso me fez ter uma vontade intensa e quase que insana de gargalhar, pois, que grande perda de tempo havia sido, não é mesmo? No entanto, o momento não parecia muito apropriado, para rir nem que fosse da minha própria desgraça.

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⏰ Última atualização: May 15, 2022 ⏰

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