Conversa

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— Então, eu estava jogando um jogo.

— Um jogo.

— Beginner's Guide. É... um experimento bem interessante. Sobre um desenvolvedor de jogos apresentando os jogos de um amigo, pequenas coisas experimentais que são mais... conversas do que jogos no sentido clássico da palavra.

— Hm.

— E eu me perguntei... não, eu me vi bastante interessado nisso. Não houve perguntas, apenas... uau.

— Eu...

— Não, não fale. Eu só queria... por pra fora.

— Aqui.

— Perdão?

— Me pergunto se você é mais pretensioso do que realmente acha que é ou tenta apenas copiar a primeira coisa brilhante que chacoalham na sua frente.

— Então... essa é meio que a dúvida que temos desde sempre, não é?

— ...

— Não finja que não sabe. Nós compartilhamos esse problema desde sempre. Tentamos sempre ser destaques, que alguém venha ouvir o que temos a dizer e fique impressionado com a forma com que dizemos. Não é por isso que começamos a escrever?

— Você sabe que não sei a resposta.

— Sim, porque... é algo impregnado desde sempre na gente, não é? E... uau, uma série de diálogos apareceu na minha cabeça agora. As coisas que podemos escrever!

— E quantos deles acabam te julgando pelo que está fazendo agora?

— ...

— E o quão especial você quer se sentir por ter esses pensamentos? Por se sentir um artista atribulado pela vida?

— ...

— Você sabe que usa reticências demais em seus textos.

— Não importa o que aconteça, eu... eu quero publicar isso.

— Para as pessoas terem uma ideia melhor do que você quer passar.

— Eu não sei o que quero passar.

— Mas ficar perto de descobrir... te assusta, não é?

— ...

— Você nunca pronunciou isso. Eu nunca pronunciei isso. São apenas... palavras que apareceram agora. Quando você se deparou com a pergunta.

— Não seria a primeira vez.

— Claro que não.

— Eu... tenho que pensar um pouco no que você disse. As outras conversas em minha mente... não parecem tão atraentes agora. Não tanto quanto isso que estamos tendo agora.

— Mas você vai publicar esse texto, não?

— Vou, mas... não estou mais certo do que vão achar depois de lerem.

— Se lerem.

— Essa também é uma dúvida que sempre tivemos.

— Mas realmente importa?

— ...

— De novo.

— É só... nós aprendemos que realmente não importa. E aqui parece um bom lugar para parar de escrever.

— Inclusive, continuar depois da primeira frase meio que faz ela perder um pouco do peso.

— Não é essa uma de nossas maiores dúvidas? Sobre como passar melhor o que sentimos e ainda assim procurar uma perfeição na forma como passamos?

— Você sabe que a montanha russa de emoções já passou, não foi? Continuar agora só faz esse texto ficar fraco.

— Sim.

— Mas você quer continuar.

— Sim.

— Para sentir aquele medo de novo. Seus olhos marejaram. Você esteve perto de alguma revelação, obtida de maneira tão banal. E você quer se aprofundar nesse buraco.

— Quero.

— E você também encontrou enquanto escrevia.

— Sim.

— Quer contar?

— Talvez as pessoas me entendam mal. Não quero parecer que sou infeliz ou algo do tipo.

— Mas...?

— ...

— ...

— Mas você sabe como me sinto sozinho.

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⏰ Last updated: Jun 18, 2019 ⏰

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