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As luzes dos holofotes bruxeleavam como um caleidoscópio infinito ao redor do teatro de Manchester, num bairro um pouco esquecido e que, na maior parte de seu tempo, ficava apenas coberto por penumbra, cadeiras estofadas vermelhas e esquecimento por trás de algumas várias outras camadas de pó. Louis realmente havia esquecido - depois do longo tempo em estádios, boates, casas de show barulhentas demais - como era bom cantar para pessoas que admiravam a música que ele fazia, e não a pessoa que ele era. Que queriam que ele fosse para além das palavras borradas no papel nas noites em que dormia mal. Muitas dessas noites.
A plateia não era enorme, não havia gritaria, luzes de aparelhos eletrônicos o cegando ou fazendo seus olhos arderem; a paz silenciosa era tão calma que ele poderia sentir seu corpo deitando-se sobre plumas macias, prestes a descansar enquanto sua boca escorria o trabalho - o trabalho que ele adorava -, música saindo dos seus lábios. Cada uma com um significado maior, abrangente, música clandestina que ninguém nunca queria gravar. Ele tinha uma coleção dessas. Realmente tinha.
Perdera as contas de quantas vezes a palavra "não" fora recaída sobre as notas que ele escrevia, às vezes. Não iria bombar. Não iriam ouvir. Não era animada o bastante. Triste demais. Louis realmente gostava de teatros desconhecidos, embora. Por esses motivos. Poder cantar melodramático para caralho, bebendo, vendo admiração enquanto suas cordas vocais sangravam notas que nunca estariam em CDs que concorriam a prêmios. A sua melhor arte era aquela que ninguém comprava e, certa vez, havia lido que um artista bom se pinta na tela e se ninguém comprava aquelas que Louis fazia, queria dizer muito sobre ele; Poetas ruins são poetas bons que deixam a poesia em si, em vez de num livro para ganhar dinheiro, não é? Louis faz isso com as músicas que não vendem. Ele deixa elas pra si ou para a pequena população inglesa que ainda admira música triste e sentimental, como se as veias ligadas ao seu peito sangrassem para fora.
Mesmo que, naquele momento, não fosse realmente a música que o inspirasse, ou o microfone contra as suas mãos que o fazia tremer por entre as roupas com o suor fino escorrendo um pouco no seu corpo esguio; era ele. Depois de tantos anos, bem ali, numa das poltronas vermelhas como se pudesse despir Louis inteiro de seus segredos apenas usando os olhos brilhantes contra a luz morna. Mirando cada detalhe dele. Como não tinha notado antes? Cantar realmente o cegava tanto assim?
A avalanche de memórias o atingiu como se ele estivesse no centro de um vulcão entrando em erupção, queimando todas as hastes do seu corpo. Ele poderia jurar a todos os anjos - e aos demônios, sim - que aquela sensação era a pior e a melhor de todas. Não era inteiramente boa, mas era mágica. Não era ruim, mas queimava como o próprio inferno contra os neurônios girando no seu cérebro.
Lembrou da banda, dos meninos, de Harry rindo contra seu pescoço no meio das entrevistas e das suas mãos emendadas às de Louis como elos de uma corrente; inseparáveis. E, falando sério, sua cabeça poderia ser maleficamente cruel em todos os aspectos que o remetiam. Remotamente ou não. Ele era sádico quando se tratava das suas memórias com Harry.
Mas o rapaz de cachos apenas continuou admirando enquanto Louis cantava (derramava-se nas palavras, meio desastrado e ansioso, era o que queria dizer), apesar de tudo e apesar do mantra maluco que a cabeça do mais velho repetia para aquilo não ser um sonho fértil demais, porque não acreditava mesmo - não queria acreditar - estar tão bêbado a ponto de imaginá-lo aqui depois de tantos anos, principalmente depois do modo como os dois acabaram. Harry ainda era o principal motivo por trás da inspiração para as músicas solitárias de Louis. Ah, ele era, sim. Aquelas sobre amor que nunca vendiam e das quais ele cantava clandestinamente em locais como aquele.
Por que se sentia culpado por isso agora? Era estranho. Era estranho vê-lo admirando-o daquela maneira, como se não fosse Louis, o Louis que um dia foi seu, que escrevia músicas sobre Harry, mas só um cantor. Um cantor bêbado e totalmente fodido depois de tudo que aconteceu com os dois - não que ele se arrependa de ter arcado com as consequências por Harry. Ele não é o tipo que faz essas coisas. Arrependimento.
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old lovers in dressing rooms • l. s.
FanfictionA avalanche de memórias o atingiu como se ele estivesse no centro de um vulcão entrando em erupção, queimando todas as hastes do seu corpo quando viu Harry. Ele poderia jurar a todos os anjos - e aos demônios, sim - que aquela sensação era a pior e...