Encantado Acaso

Ar Fresco

Willian Benedict Woonroth 

Poucas coisas na vida são capazes de tirar uma pessoa de seu juízo perfeito com tanta facilidade.

Mas atravessar a Europa em uma embarcação confortável, mas terrivelmente enjoativa para dar de cara com sua tia e três primas que pareciam olhar para ele como se admirassem um troféu, com certeza era uma delas. 

E foi justamente por esse motivo, que Lorde Willian Benedict Woonroth, ou simplesmente o futuro dono do condado de Woonroth bufou no exato momento em que os cavalos relincharam ao parar e ele pode ver o lacaio apressar-se para abrir a porta da grande e exuberante carruagem que lhe havia trazido.

—Vossa Graça – Curvou-se a tia, de maneira graciosamente forçada - Agradeço muito por ter aceitado meu convite para passar um tempo em nossa casa.

Willian trincou os dentes. A casa havia pertencido a sua mãe há muito tempo atrás e seria dele no momento em que seu pai desse o último sopro de vida. Sua primeira façanha seria tomar a propriedade e encaminhar aquelas quatro mulheres para o interior. Mas ao invés de falar metade dos xingamentos e blasfêmias que rodavam por sua mente, foi capaz de soltar um sorriso típico dos seus e levemente concordar com um embalar da cabeça. A mulher de traços perfeitamente destacados e cabelos levemente louros, com a pele tão clara que parecia brilhar abaixo do vestido amarelo simplesmente escancarou os dentes, nem se preocupando em disfarçar o que viria logo a seguir:

—Aqui – Disse ela, elevando a postura além do recomendado às damas- Minhas filhas e suas primas de terceiro ou quarto grau. Aveline, Dorianne e Leanicce. Estão em idade... você sabe, para o matrimônio. 

As jovens tinham aquela semelhança bem óbvia: Os mesmos olhos pequenos, boca pequena, cabelos fartos e dourados. Pareciam a cópia replicada da mãe, mas com tamanhos alternados. Os vestidos, decotados muito além do observado pelo conservadorismo, pareciam lhe oferecer convites nada discretos. Ele desviou o olhar e, como se ouvissem um sininho ao pronunciar seus nomes, cada uma das três endireitou-se muito além da simetria. Esticaram seus pescoços e sorriram todas com malícia. Ah céus, calculou, Serão as piores quatro semanas de minha vida.

***

E ele começara a se arrepender no exato momento em que se sentara para tomar o típico chá inglês, na sala leste de estar.

Sua tia – Como insistira o pai para que a chamasse – Era irmã da mãe de sua mãe. Simplesmente havia casado com um barão qualquer, e achara estar muito acima da família quando fez isso: Pôs tratou de queimar tudo que pudesse a identificar como uma Morrony, desde documentos até o tradicional selo de cartas com o brasão da família. Sua avó sofrera uma eternidade, e talvez por isso só tivesse dado a luz para uma menina e, finalmente só morrera quando descobrira onde estava Stefanne: Por mais que fosse difícil acreditar e muito, mas muito divertido perceber a ironia: Com uma mão na frente, outra com as três filhas e sem um tostão! O Barão afundara as propriedades no jogo e, ao não conseguir conceber nenhum herdeiro, passara tudo ao irmão mais novo. Que tratou logo de expulsar as quatro beldades, que tiveram de engolir o próprio orgulho e retornar para as origens – Que tão insistentemente tentaram apagar, vale lembrar.

E deram sorte, mesmo que seja difícil admitir: No leito de morte de sua avó, a mãe observou com os próprios olhos cinza-azulados as quatro com lágrimas nos olhos, seja verdade ou mentira, diz ela que viu honestidade uma única vez ali. Ela, a mais nova Condessa Woonroth cedera as quatro a casa onde até então morara, herdada por sua família, e foi com o marido para o centro do condado, em um palácio em uma das tantas propriedades deles. E, desde então, as quatro usavam e abusavam da generosidade da família.