Cesária

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Toc toc... quem é?
Não, espera, não diga nada,
Deixa eu me apresentar com jeito,
Com uma garra, de gato? Não!

Sou a negrinha da vila ali do lado,
É, essa mesma, que foi xingada ontem,
Pois é, deve ter sido inveja da minha pele,
Ela não queima no sol, sabe?

Agora vamos parar com a brincadeira,
Pois ela machuca, não bate, sufoca,
Mas eu sorrio, não acho graça,
O que me cabe, não em mais ninguém!

Me chamo Cesária, vim da...senzala,
Sim, essa mesma que você está pensando,
Vazia, fria, barulhenta e calma ao mesmo tempo,
Cheia de sofrimento e solidão.

E que melancolia entrei agora, repito,
Me chamo Cesária, vim da senzala,
Lembram de Mandela? Não, eu não estava com ele,
Ele só me lembra da vida.

Lutar pela liberdade e não poder usá-la,
Ser maltratada numa sela, ser judiada por estranhos,
É algo impossível de descrever algum dia,
Mas olha a geração de hoje!

Tem mais do que quem não tinha nada,
E ainda assim reclama, agradece negrinho,
Agradece aos teus tataravós e bisavós, agradece,
Olha para o céu e deixa a lágrima cair de gratidão!

Mas e aí tia, me apresentei bem?
Desculpa aí se falei demais da conquista,
É que a fortaleza me deu esperança e,
Claro, algumas lembranças no flash back.

E só vim aqui dizer que eu moro na vila,
Aquela ali do lado, vim dizer que minha pele
É negra e reflete no sol quente como café,
Ah, e eu me chamo Cesária que não vive mais na senzala!

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