Black Sea

♜Psiquiatra. - Prólogo♜

I'm a sucker for pain
Pressure from the man got us all in rebellion
We gon' go to war, yeah, without failure
Do it for the fam, dog, ten toes down, dog
Love and the loyalty, that's what we stand for
Walk slow through the fire
Feeling the world go against us
So we put the world on our shoulders
— Sucker For Pain

O “TIC TAC” incessante do relógio me deixava quase em pânico, ainda que eu me mantesse calado e imóvel na sala de recepção extremamente requintada com uma decoração digna de revistas caras de decoração de interiores. Não menos o que se esperasse de Mads Mikkelsen em toda sua glória como psiquiatra de sucesso. Haviam mais pessoas alí, cada uma com seus devidos problemas e carmas frequentando um psiquiatra para fugir de suas próprias sombras e, bem, eu estava caminhando de encontro ao meu carma para me afundar em minhas próprias sombras.

Eu conheci Mads quando tinha por volta de dezessete anos, ele tinha seus vinte e dois, ele era amigo de amigos do meu irmão mais velho. Nós vimos pela primeira vez em uma festa de amigos que tínhamos em comum, eu era só um adolescente idiota que ficou fascinado com aquela áurea de sofisticação, mistério e sedução que ele amava por cada poro de seu corpo, e não demorou muito para que eu ficasse completamente jogado à seus pés. Eu não pensava em outra coisa além de Mads, não parava de acompanha-lo e, de um jeito ou de outro, eu dava um jeito de estar nos mesmos lugares que ele estava, eu não fazia o menor esforço para esconder o quanto eu gostava dele ou o achava incrível, e até ficamos algumas vezes, mas ele se recusou a triscar um dedo e mim, sexualmente, até que eu fizesse dezenove anos. Então após três anos de paixão platônica, e muita insistência, finalmente fomos para a cama. Aquele dia em diante fora minha ruína, se antes eu era apaixonado agora eu praticamente o amava. E foram mais anos assim: apenas escondendo tudo o que seria abaixo de uma casca fria de indiferença pois eu sabia que, se eu demonstrasse sequer uma grama de sentimento como eu fazia quando adolescente, tudo estaria acabado.

Mas eu não podia transforma-lo no vilão da história. Mads nunca me deu esperanças ou sequer uma centelha de que pudéssemos ter outra coisa além de sexo, eu nunca o vi em um relacionamento estável com ninguém, para ser mais exato. Talvez fosse isto que tanto me encantava e me deixava tão envolvido nesta paixão platônica: ele era inalcançável, mas não estes babacas arrogantes de grava ou jaquetas de couro, ele estava ao alcance de suas mãos mas você jamais poderia toca-lo. Eu tinha plena consciência de que isto que eu vivia era tóxico, principalmente de minha parte, mas eu não conseguia me desapegar ou esquecê-lo e, bom, ele e eu sempre voltamos a ficar, mesmo quando ele tentava se afastar. Se eu fosse romântico ou quisesse me iludir eu imaginária que isso é o destino nos mandando ficar juntos, mas eu sabia da porcentagem abaixo de zero para isto.

Eu tinha todos os sinais e motivos para ir embora, para deixa-lo livre da responsabilidade de me ter em suas mãos e, finalmente, me dar a chance de me apaixonar novamente. Dar a nós dois uma trégua. Mas cá estou eu, em seu consultório esperando por uma consulta marcada a mais de um mês. Deus, eu me sentia patético.

— Hugh, meu amigo! — a porta do consultório se abriu e eu prendi a respiração por um segundo, desviando os olhos do chão para encara-lo sorrindo para mim, o tipo de sorriso de quem tem uma nostalgia incerta. — Que surpresa vê-lo aqui, vamos entre.

Apenas fiz um “sim” com a cabeça e me levantei da poltrona de couro a qual estava sentado caminhando vacilante até o escritório de Mads. Com certeza foi mesmo uma surpresa me ver aqui, afinal, eu não lhe mandei mensagens ou nada assim, eu apenas marquei uma consulta com sua secretária e vim, embora eu soubesse que o t casual e alegre fora meramente sua máscara de psiquiatra acolhedor que ele fazia aos pacientes com problemas de verdade. Mas eu já estava aqui, sentado agora no divã de veludo negro de seu escritório, suando frio, e que os jogos se iniciem.