Único

115 11 9
                                    

Ele não lembrava de quando acordou ali, ou do que estava fazendo dentro do mar naquela altura. Não sabia se estava próximo à costa, ou tão distante dela que não havia escapatória. Assustado, desesperado, resolveu bater as pernas e os pés o máximo que podia, tomando um ritmo para lugar nenhum, de lugar nenhum.

Só havia azul. Um límpido azul, independente de para qual lado olhasse. Azul no céu, na água abaixo de si, no encontro entre as cores no horizonte e o gosto do líquido na boca. Ficava aterrorizado toda vez que um novo ruído surgia por perto, iria morrer caso algum animal aparecesse e resolvesse atacá-lo de repente.

No entanto, não parou. Continuou movimentando-se mesmo que parecesse não ter saído do lugar, continuou pela distância que queria atravessar e encontrar alguma coisa, já que o desespero o possuiu aos poucos, cansando seu corpo e roubando o oxigênio de seus pulmões. Por mais que ainda estivesse na superfície, sentia a voz do fundo o chamando, o convidando a desistir da próxima braçada. Quando o fez, quando resolveu parar todo o esforço, sentiu a queimação nos braços, sentiu a falta de ar o engolir por afundar. Olhou para cima, para a luz que ia sumindo aos poucos, percebendo que estava ali, no seu fim.

Pensou que talvez fosse uma piada. Talvez alguém viesse salvá-lo, alguma lenda? Mas nada aconteceu, nenhum som além do ar que expeliu pela boca e trocou pela água que inspirou pelo nariz. Nada além da compressão da quantidade absurda de água. Nada veio ajudá-lo, também não achou necessário fazer nenhuma prece. Não havia aceitado e a sensação perfurou em seus ossos, mas de nada podia fazer agora.

Havia se afogado naquele mar de angústia, sem coragem de ir além e tentar um pouco mais.

Afogando-seOnde histórias criam vida. Descubra agora