Uma espessa neblina circulava entre as lápides e sepulturas naquela noite. Ela trazia consigo uma sinistra aura que, ao lado do perturbador silêncio, tornava aquele cemitério o lugar mais assustador para se estar. Os túmulos variavam de simples cruzes de madeira fincadas no chão a vultosos mausoléus de pedra. Dois garotos eram as únicas almas vivas que caminhavam ali.
— Por que está tão frio? Isso não é normal! — disse o que vinha atrás. Sua respiração e fala geravam uma fumaça branca. Ele abraçava e esfregava os próprios braços, além de olhar por cima do ombro com uma frequência nervosa. — O que há com essa névoa, Johann? Estava quente há um minuto atrás!
— Christopher, cale a boca! Se quiser ir embora, fique à vontade. É melhor do que ficar choramingando no meu ouvido. Além disso... nem está tão... frio... — Johann tentava mostrar hombridade enquanto sua fala era cortada por seu ranger de dentes. — Pode voltar. Mas aí todos vão te chamar de mulherzinha pelo resto da vida. Já eu, eu vou até o final desse maldito cemitério e vou provar que não tem demônio coisa nenhuma.
Christopher ponderou que não teria coragem de voltar sozinho. Por isso, continuou seguindo seu companheiro. Chegaram até uma pequena e modesta capela. Dentro dela, havia apenas um altar com uma pequena cruz de madeira.
— Viu? Chegamos. — disse Johann. — Agora só precisamos pegar essa cruz como prova e esfregá-la na cara daqueles chorões otários!
Assim que terminou de falar, um barulho de correntes ecoou pelo local. O som repetia-se em intervalos, como se alguém chacoalhasse as correntes enquanto dava passos ritmados. Empalidecidos de medo, os garotos olhavam desesperadamente ao redor, tentando encontrar a origem do som, mas a tarefa era impossível; o barulho se espalhava por todas as direções. A única certeza era que quem ou que o criava estava se aproximando, pois ele ficava mais alto a cada nova chacoalhada.
Súbito, duas correntes de ferro emergiram da branquidão da névoa e agarraram os pulsos de Johann como se tivessem vida própria. Os braços do garoto começaram a ser puxados em direções opostas, como em uma perversa tortura.
— Socorro! Ajude-me! Ajude-me! — Johann berrava e chorava copiosamente enquanto gritava. — Eu quero a minha mãe! Socorro!
Sem conseguir tirar os olhos embotados daquela visão macabra, Christopher caiu de bunda e se arrastou até se chocar contra uma lápide. Os gritos de seu amigo já não eram mais distinguíveis; não passavam de choro e berros. Emitindo um forte som, os braços do menino foram arrancados na altura dos ombros, que jorraram sangue imediatamente.
Christopher ainda ouviu os gritos por um tempo enquanto corria na direção oposta. Os berros só cessaram após ele escutar dois hediondos barulhos de carne sendo perfurada com algo que não havia sido feito para perfurar. Com a cara melada de lágrimas e ranho, e o suor do corpo fazendo-o quase congelar, ele correu até sentir algo gélido como a morte agarrar os seus tornozelos. Gritando e deixando marcas de unha no chão, foi arrastado até desaparecer na neblina.
***
— Então... Qual é o seu nome verdadeiro?
Hannah tentou quebrar o silêncio. A freira de olhos puxados que andava à sua frente não era exatamente do tipo falante.
— Por que a pergunta? Você sabe bem que é Irmã Emma.
— Não! — Hannah suspirou. — Me refiro ao nome que tinha antes de fazer seus votos. — Descalça, ela andava com dificuldade, principalmente quando pisava em uma das raízes de árvore que invadiam a trilha. Ela mal conseguia acompanhar os passos rápidos de Emma.
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Idade das Trevas
FantasySe você gosta de séries como Vikings, livros como Crônicas de Gelo e Fogo e Senhor dos Anéis ou, ainda, se você é fã de animês shōnen e seinen, especialmente Berserk e Claymore, então essa história é para você. Em um mundo onde há bruxas, lobisomen...