Parte 1

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A garota esguia andava pela Rua Roland Barthes como se estivesse bêbada, trançando as pernas em um ritmo quase musical, sua maquiagem borrada nos olhos, tropeçando nos espaços entre os paralelepípedos. Aquele era um caminho bem antigo que a levaria até sua casa, onde já haviam pisado lordes, reis e duquesas, por isso era quase profano que ela pudesse pisar naqueles pedaços de rocha que foram colocados ali há mais de cem anos. A sua existência já era um fato profanador, pelo menos era o que passava pela cabeça de Arthur. Ele espreitava a garota magra de longe com seu humor diversificado, ora tendendo para uma vontade incontrolável de rir dos seus gestos tortos, ora tendendo para uma raiva daquele ser que não deveria estar ali, cuja presença era nada mais que um insulto.

Ao se aproximar dela percebeu que não havia cheiro algum de álcool no corpo da garota. Ela estava longe de estar bêbada, o que favoreceu um pouco o rumo do seu julgamento, ou pelo menos fez com que o rapaz alto de olhos azuis repensasse ligeiramente sobre o que faria com ela. Os dois se olharam um pouco, medindo cada centímetro um do outro, tentando descobrir o que significava a existência de cada um e por que os dois estavam sozinhos naquela rua deserta, exatamente no mesmo horário. A verdade foi descoberta em poucos segundos; a garota estava sob efeito de alguma das drogas que Arthur repugnava, e não sob o efeito de álcool, ou seja, mesmo assim ela profanava aquele ambiente com o seu ar de "ser inferior", nada diferente de todos os outros que foram suas vítimas anteriormente.

―Boa noite, senhorita ― ele falou em um tom suave e baixo, porém compreensível pela garota que estava agora viajando por planetas pertencentes a outras galáxias.

―Oi, moço ― ela respondeu sem conseguir o olhar nos olhos e sem parar de andar com suas pernas desengonçadas.

― O que uma mulher tão bela faz por aqui a esta hora da madrugada? ― Ele perguntou a fitando de cima abaixo, percebendo o contorno dos seus seios por baixo daquela blusa transparente. Era uma blusa preta com material grosso que ia até os pulsos, mas a parte do busto em tecido bem fino e vulgar.

― Eu tenho uma missão muito importante ― ela respondeu entre risos reprimidos.

― E qual missão seria essa? ― ele se divertia com a situação, mas continuava a examinando, agora com os olhos voltados para as pernas da garota, nuas por causa de sua saia curta. A presa poderia ser mais facilmente capturada do que ele imaginava, de forma indolor, rápida e tranquila.

― Preciso chegar à minha casa antes das dez, caso contrário meu namorado pode desconfiar.

Ele riu descontroladamente da criatura completamente tomada por drogas alucinógenas que não conseguia saber onde estava, que horas eram e provavelmente não sabia nem qual era seu próprio nome. A vítima perfeita estava bem à sua frente, como um presente de natal em plena madrugada do dia 24 para o dia 25. Ele olhou para o céu por alguns segundos, como se procurasse algum Deus lá nas nuvens e então quebrou o silêncio a voltar o rosto para a garota loira à sua frente.

― Qual o seu nome?

― Daniella Giusti, e o seu?

― Pelo menos isso, não é mesmo?

―O que?

― Nada não. Meu nome é Arthur Marau e nós vamos ter uma noite longa pela frente, somente você e eu, Daniella.

ArthurOnde histórias criam vida. Descubra agora