Maria encarava as grades de sua cela pela terceira vez. Vinte e três parafusos. Estava tão entediada quanto é possível ficar quando se está um ano e cinco meses presa. Mas quem está contando? A ronda iria trocar daqui a poucos minutos. Havia memorizado todo o horário da troca de guardas, as direções as quais os corredores levavam e onde guardavam as armas e obviamente as chaves que destrancariam aquela maldita cela. A única prisão de força máxima do Brasil, feita especificamente para alguns criminosos considerados "risco em potencial"para os figurões que governam a merda toda. Porém, no nesse caso, são assassinatos. Puras transações comerciais. Muitos eram inimigos políticos e com excelentes gratificações. Alvos chamativos e estimados. Perfeito.
Deitada em seu colchonete, quando um dos guardas - um cara alto e musculoso- puxou seu braço, levando-a para fora do ar pesado da cela. A menina tinha sido açoitada há dois dias por ter agredido três vigias, mas o que ela podia fazer? Um nome assinado estava escrito em um documento no lado direito da mesa na sala de câmeras, o nome que adiantariam muitos meses de confinamento. Ela seria idiota demais se deixasse aquela informação escapar de seus dedos tão facilmente. Caminhavam por um corredor pouco iluminado, repleto de câmeras. O primeiro lugar que ela matou um daqueles guardas insignificantes. Quando pararam diante da nostálgica sala de interrogatório, Maria ainda tagarelava sobre o quão faminta estava e sobre a horrível decoração daquele lugar. O guarda a empurrou para dentro assim que a porta se abrira, sem dar chance para ela observar as inscrições sobre quem a esperava no monitor ao lado da porta. Idiotas. O local era amplo, mas sem nenhum móvel de metal, nada pontiagudo e muito menos janelas. Realmente eram precavidos, pensou Maria com sarcasmo. Deixaram apenas uma cadeira e mesa de plástico ridículas.
Um homem de grande porte prostava-se de costas para ela, encarando o nada. Agora, aqui sozinha, nada a impediria de silenciar os dois.Seria muito fácil desarma-los. Considerando as possibilidades, suas mãos estavam amarrada, mas ainda tinha as pernas e a cabeça. O que a impedira naquele momento foi a curiosidade: o que ou quem perderia seu tempo para tirá-la do seu exílio ridículo.Seus pensamentos foram brutalmente interrompidos, quando o homem que a aguardava virou-se com uma expressão divertida em seu rosto. Por um momento pensou até ter visto um traço singelo de alegria. O cara devia ter uns cinquenta anos, chutou Maria.Cabelo e barba perfeitamente alinhados. Terno e sapatos Prada. Tinha certeza. Provavelmente um alfaiate particular ou uma edição particular, talvez. Esse cara tinha dinheiro ou era muito bem patrocinado.
A curiosidade da menina aumentou mais ainda ao perceber a calma e sutileza nos movimentos do velho. Ao sentar-se, puxou um carimbo bastante famoso entre os figurões do crime no Brasil. Feito à mão, bulbo, com técnica impecável - marca registrada de um antigo artesão paraense. Concluiu, então, que ele não confiava em quaisquer mãos. Ela precisava sanar suas duvidas. Havia alguém que a mantinha lá, alguém que não a deixava morrer, não por tortura pelo menos. A maneira a qual foi pega foi realmente... diabólica. Mas qual o sentido de lhe prenderem aí e não matar? Ela definitivamente fugiria , mas tinha que averiguar mais. A menina lançou um sorriso gatuno para o homem.
— A quem devo a honra?
— Prazer em finalmente conhecê-la, senhorita Dilshad. Me chamo Carlos. Apertaria sua mão se pudesse.— disse ele finalmente. Seu nome podia ser fácil, mas a deixar vê-lo era um erro fatal. Podia caçá-lo em qualquer lugar. Ela sorriu em resposta.
— Imagino que esteja curiosa para saber o motivo da minha visita repentina.
— Talvez. Se for direto, posso ter mais piedade...
— Sim, sim.— gargalhou. — Sua personalidade é cativante, de fato.— Mais pistas, pensou ela.— Bem, tenho uma proposta a fazer. Não uma intimação...— Carlos fez um sinal para o guarda sair. O soldado vacilou um pouco antes de acatar as ordens. Ele só podia ser louco e queria realmente morrer. Ou tinha muita confiança em si mesmo. Burro.
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Sonhos Mortais- A Assassina do País
FantasyHavia alguém que a mantinha presa, que não a deixava morrer.Ela definitivamente escaparia... Maria Dilshad é uma assassina excepcional e mortal. E esse talento é definitivamente cativante neste Brasil que conhecemos.Contudo, mistérios deliciosamente...