Xadrez Azul - Parte 1

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1912 S Orange Ave, Orlando, Flórida, EUA.
12 de junho de 2016, sábado — 9hs pm.

A noite estava estrelada. O vento frio que cortava o meu corpo não era lá tão confortável mas, saber que ele estava lá dentro me esperando... "(...) tenho uma surpresa pra você! Não falte!", aquelas palavras aqueciam a minha alma, junto com a ansiedade de não saber o que ele tramava.
A gente já estava namorando a mais ou menos dois anos e meio, e pra mim, John era um cara totalmente incrível. Ele tinha feito tanto por mim durante todos esses anos — esteve do meu lado nos momentos difíceis que tive que passar e também fez parte dos dias mais encantadores e felizes, isso tudo sem perder aquele sorriso bobo que eu amava e o olhar carinhoso que muitas vezes me fazia enrubescer por ter tanto amor transbordando de ti. Adorava relembrar todas essas memórias, era ainda mais divertido quando eu conseguia eternizá-las com a minha câmera polaroid — não é à toa que meu mural estava cheio desses pequenos e preciosos fragmentos de lembranças. Confesso que no começo eu duvidei que poderia viver algo tão real e tão intenso. Ele parecia tão perfeito... ele é tão perfeito! É como um sonho, um sonho que desejo nunca acordar. E claro, sempre tem aqueles momentos em que a gente briga, discorda e perde a cabeça mas, de verdade, acho que isso só fortaleceu a nossa relação. Parece loucura, mas é a mais pura verdade: eu o amo, o amo com todas as minhas forças.

Outra ventania cortou o meu corpo e eu estremeci agarrando meu casaco. Encarei mais um pouco a fachada da casa noturna e, confiscando um pouquinho mais de coragem, entrei. Logo as luzes coloridas e o cheiro forte da fumaça me alcançaram, uma música reggaeton tocava bem alta enquanto vários e vários casais e grupos de amigos dançavam em um ritmo enlouquecido e divertido. Adentrei o local, olhando para todos os cantos: a casa estava lotada esta noite, complicando que eu enxergasse meio metro à frente, no entanto a multidão era espirituosa e isso me enchia de um sentimento bom. Foi quando, inesperadamente, duas mãos transpassaram a minha visão e tudo escureceu, a voz dele encontrou o caminho até meus ouvidos e eu arrepiei:

— Adivinha quem é! — Disse com um tom brincalhão.

Eu sorri, entrando na brincadeira.

— Quem será...? Rick...? — Provoquei.

Ele tirou as mãos dos meus olhos e me virou para si.

— Rick?! Tem certeza disso, Darry? — Falou com um bico enorme no semblante, fingindo estar ressentido.

— Hmm... parece que errei! — Disse, colando nossas testas e me enroscando ao redor do seu pescoço. John pegou minha cintura e me puxou para perto.

— E por acaso você preferia que fosse ele? — Me perguntou, olhando-me profundamente com aqueles lindos olhos azuis.

Me perdi naquele mar, inebriado. Minhas mãos não conseguiram se conter e começaram involuntariamente a brincar com suas madeixas negras. Tão macias.

— Não... nem um pouco. — Então ele rompeu o espaço que havia entre nós e me beijou apaixonadamente.

Nossas bocas se tocaram num ritmo intenso e carinhoso. Não havia fogos de artifício, muito menos aquele desejo sexual que muitas vezes move os casais no início de uma relação. O sentimento que me inundava agora, era muito mais real, muito mais profundo. Eu poderia compará-lo com uma chama, uma chama que queimava lentamente e crescia, quente e duradoura. Eterna.
Eu o agarrava à mim, enquanto ele me apertava contra si, e aquilo era recíproco, mútuo. O oxigênio necessário para a vida humana, logo começou a fazer falta. Nos separamos.

— Vamos? Eu reservei uma mesa para nós! — John falou meio ofegante, olhando-me carinhosamente e me puxando pelo braço para que eu o acompanhasse.

Comecei a segui-lo pelos vários ambientes modernos e aconchegantes da Pulse, uma boate local, amistosa e segura para a galera LGBT+.
As ambientações muitas vezes vinham com palcos para shows ao vivo e bares com diversas bebidas e petiscos, além disso, eram servidos jantares antes da madrugada, provavelmente era isso que John tramava para nós dois esta noite. Enquanto andávamos até a nossa mesa, eu havia notado que diferente do habitual, a casa hoje estava focando consideravelmente em músicas de origem hispânica, como: salsa, merengue e reggaeton. Parei bruscamente com a ficha caindo, John ao sentir que eu havia parado, me olhou confuso.

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