O dia que eu te vi pela primeira vez não está marcado na minha memória, honestamente por algum tempo você não foi ninguém para mim. Uma escola nova cheia de crianças, algumas que eu conhecia, algumas que não, você era uma dessas. Não éramos da mesma turma, não tínhamos os mesmos amigos, tudo o que compartilhávamos era a aula de educação física e a de espanhol. Sendo a última a única em que eu reconhecia a sua existência. Mal nos classificaria como conhecidos.
Nossa primeira interação, é claro, foi uma briga e foi completamente estúpida, fomos divididos em duplas uma aula espanhol, os ganhadores receberiam uma caixa de bombons como recompensa da atividade que consistia em ouvir a música e montá-la com os papéis que nos foram entregues. Minha mãe é parte mexicana e parte árabe, eu tenho grandes conhecimentos de músicas incomuns e a professora escolheu uma que eu conhecia, mesmo que aos onze anos não falasse espanhol, eu tinha uma memória boa o suficiente para ter gravado algumas palavras em ordem.
Eu e minha dupla terminamos antes, ele riu de você, vocês eram amigos há alguns anos, mas nós nos conhecíamos desde os 4 anos quando entramos no maternal.
A sua dupla e melhor amigo na época, por quem eu tive uma paixonite anos depois, nos cumprimentou pela vitória enquanto você nos acusava de ter roubado - já que eu conhecia a música. O professor riu de você também, dizendo que não era culpa dele que eu tivesse mais interesse que você no assunto. Nós ganhamos os chocolates, tiramos dois cada um e distribuímos o restante para as outras duas duplas para que eles escolhessem um, eu te pulei e você me xingou de algo que não me recordo, mas acredito que fosse uma gíria, talvez me chamando de má ganhadora ou prepotente, eu lhe dei a língua e recebi um um abraço do seu melhor amigo que riu bastante.
Durante o restante da aula você ficou mau humorado e nós abrimos os chocolates barulhentamente, ele era seu amigo, mas gostou de te ver irritado também. Quando o sinal tocou, eu peguei o último chocolate da caixa e deixei sobre sua mesa no meu caminho para a porta, nunca vou saber sua reação, uma vez que na época não me importava. Eu só queria te punir por me acusar de roubar, nunca realmente não te daria um chocolate.
Mas nesse dia, eu calculo, começou nossa estranha relação de morde e assopra, eventualmente transformando-se em uma pequena amizade, até o dia em que você me fez chorar porque ia embora.
Nossa próxima interação marcante também foi uma briga, mais de um ano depois, não tenho tanta certeza sobre o quê, mas você debochou de mim e eu peguei uma borracha e joguei-a entre suas pernas, errei meu alvo por muito pouco e você se assustou. Os presentes riram e o professor, que também se divertia com o acontecido, pediu para que eu não o levasse a sério e continuamos a aula calmamente, mas nós dois trocamos olhares irritados durante a maior parte do tempo.
Hoje eu penso que talvez se eu tivesse sido um pouco menos agressiva, nem seríamos amigos, mas com certeza não teríamos tido tantos problemas. Por outro lado, as pessoas tendem a se culpar e eu não sei mais no que acreditar.
Tem quatro meses que eu não te vejo e não abro as mensagens no nosso grupo de amigos para não ter que ler seu nome. Você sabe que eu não tenho seu número salvo? Você se importa?
Pare de se convencer que sofrer é romântico. Não isso não é bonito.
Ninguém mais aguenta essa mesma ladainha, sei disso muito bem, nem eu mesma aguento isso mais.
YOU ARE READING
Monster
RomanceMonstros são assustadores, todos eles, a pesar de a maioria ter um rosto comum e um sorriso perfeitamente arquitetado para fazer com que suas presas sintam-se confortáveis, ou até felizes, com sua presença. Eu cresci com um monstro e essa é a histó...