As lágrimas de um demônio

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Era uma tarde fria, apesar dos termostatos não marcarem menos do que 5°C negativos, a maioria das rua e avenidas estavam com um fluxo de pessoas muito menor do que o habitual, ao passo que, não era feriado nem final de semana. O céu azul perolado era minimamente encoberto por algumas nuvens, que iam aos poucos ganhando cor cinza-escuro e ficando mais numerosas, o que era um prenúncio de uma tempestade noroeste

O vento açoitava as janelas de seu apartamento com certa violência, como se tentasse lhe passar alguma mensagem. Quem passasse naquela rua e, deliberadamente ou não, olhasse para cima, veria a inigualável quantidade de plantas que povoavam a sacada do apartamento do décimo terceiro andar daquele prédio. As folhas verde jade das plantas dançavam ao sabor do vento, enquanto elas aguardavam o seu dono voltar de seja lá aonde estivesse. Elas não tinham olhos ou boca mas, se tivessem, certamente teriam muita história para contar sobre seu impaciente e irritadiço dono que não perdia a oportunidade de gritar com elas

  comportem-se ou eu juro que vou transformar todas vocês em salada! dizia ele

Depois de quase seis mil anos, ele não havia mudado nem um pouquinho, ainda que seu estilo de roupas e cortes de cabelo tenham oscilado de tempos em tempos, seu jeito de se comportar não tinha sido nem um pouco afetado, assim como sua paixão pelo seu Bentley 1926. Seu modo frio e irônico de falar eram, para algumas pessoas, sua marca registrada. Poderiam muito bem dizer que agia feito uma serpente as vezes, com sua voz sibilante e íris douradas cortadas verticalmente por uma pupila preta, acrescentavam a sua índole um ar duvidoso e não muito confiável
E quem diabos confiaria em um demônio?!

Bem, este era Anthony J. Crowley, um demônio muito mais velho do que se pode aparentar e, com uma lábia e modos que nenhum outro demônio tinha, tem ou terá. Tinha uma afeição considerável pelo século XX, e adorava imaginar que a cada dia, se via cada vez mais longe do século XIV. Agora vivendo confortavelmente em seu apartamento, cercado por suas adoráveis plantas e com uma vida razoavelmente boa, o que mais ele poderia desejar?

Se levantou de seu sofá, indo até a sacada da sala de estar, observando a paisagem urbana que o rodeava. Curvou seu corpo contra o parapeito de metal da sacada, cruzando os braços e soltou um longo suspiro. O vento lhe atravessou, fazendo esvoaçar as mechas curtas de seu cabelo ruivo, que estava ligeiramente bagunçado e despenteado. Refrescando-lhe a memória dos acontecimentos passados

Sua mente voava, dançando junto com o vento em uma sintonia maluca que deixava-o zonzo. Fechou os olhos, apertando-os com força, tentando firmar seus pés ao chão e aquietar sua cabeça
Mas isso era impossível

- você é um idiota - Crowley murmurou para sí mesmo, tombando sua cabeça para frente, deixando mechas vermelhas de seu cabelo caírem sobre a armação de seu óculos escuros

Se afastou lentamente da sacada, voltando para dentro daquela acanhada e solitária saleta. Deslizou a ponta de seus dedos sobre a madeira da mesa, se sentando na cadeira de espaldar alto, decorada em intricadas ornamentações douradas que rodeavam o estofado vermelho-rubi 

Fechou os olhos e respirou fundo, deixando o ar escapar lentamente de seus pulmões

Deixou sua mente fluir desimpedida. O tragando para as profundezas de suas lembranças, confinando-o no seu passado ao lhe fazer lembrar da sua vida perfeita quando ainda era um anjo...

. . .

Deus estava zangado

Sua fúria estava, aos poucos, se acumulando e crescendo a níveis épicos para com seus arcanjos

Mas, quem poderia supor que o Serafim mais perfeito e amado pelo Criador seria o responsável por tal ódio? Lúcifer, este era o nome do ser que iniciara todo aquele caos...

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⏰ Última atualização: Oct 09, 2020 ⏰

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Renegado ( Good Omens Oneshot )Onde histórias criam vida. Descubra agora