Um desejo

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Ae pediu mais um copo para o barman que ele sabia, queria fechar o bar. Estavam apenas eles ali e já eram altas horas da madrugada. Mas ele não queria ir, ele queria beber e esquecer... Esquecer sua realidade, sua vida miserável. Saiu de casa cheio de sonhos e objetivos e agora era apenas mais um miserável das ruas suburbanas de Bangkok.

— Eu poderia vender minha alma, sabe – Sussurrou enrolado ao barman irritado – Venderia sem pensar duas vezes se com isso eu tivesse sucesso. Eu mereço cara, eu mereço!

— Você bebeu demais, mano. Vá embora ok? Vá dormir...

— Dormir? Dormir? - Ele se levantou rindo como um louco – Eu deveria terminar com isso, isso sim! Eu fracassei, cara, eu sou uma derrota...

— Talvez sim, talvez não - Uma voz soou próxima de Ae que se virou rápido demais sentindo o chão sumir dos pés e dois braços gelados o pegarem antes que terminasse de cara no chão. Ele se agarrou no homem e então olhou para seus olhos estranhos e para o sorriso cruel – Venderia sua alma em troca de sucesso, Ae? Repita lento para que eu possa ter certeza.

A voz lembrava um sibilar de serpente, mas sabia que era sua bebedeira lhe pregando pressas. O homem era bonito no final e Ae jamais foi cego...

Talvez o que ele precisasse fosse sexo aquela noite, para esquecer da sua vida vergonhosa.

— Você é bonito, sabe...

Sussurrou com sua melhor voz sexy embora soubesse que soava enrolado. Ele estava doido? Aquilo não era um flerte, não é? Ele nem sabia se o homem todo de negro e olhos focados nos seus, era gay...

— Repita, Ae, repita o que deseja...

— Sexo – Resmungou e então se deu conta que aquele cara lindo e estranho, que ainda continuava com os braços frios ao redor da sua cintura, sabia seu nome. Ele não tinha lhe dito seu nome... – Quer dizer, como sabe meu nome...?

— Eu sei de tudo o que me interessa saber – Ele o colocou de pé e levou os lábios até seu ouvido fazendo Ae gemer baixinho – E eu posso te dar o que quiser, meu anjo revoltado, em troca da sua alma, toda ela...

Foi então que Ae se deu conta de que aquilo não era coisa da sua mente bêbada.

Ele deu um passo para trás, mas já não estava mais no bar e sim em uma rua sem saída de um beco qualquer. O homem o olhava agora com uma tranquilidade sinistra enquanto Ae podia vê-lo por completo.

— Meu nome é Tin. Eu vim lhe dar um presente, meu ambicioso cantor. Eu te darei todos os palcos do mundo, te darei tanto sucesso quanto desejar, te darei riquezas inimagináveis e tudo o que precisa fazer é me dizer com todas as letras que sua alma é minha, sua vida me pertence e que obedecerá a mim e somente a mim por toda a eternidade. Diga que me pertence e eu lhe darei o mundo.

Ae tremeu e por alguns instantes pensou se não estava sonhando naquele balcão de bar, mas então, entendeu que se fosse real, ele teria tudo o que sonhou, o que era sua alma perto daquilo?
Então assentiu e disse ainda que meio enrolado:

— M-minha alma é s-sua e obedecerei s-somente você por toda a e-eternidade...

O mais alto sorriu satisfeito e tarde demais, Ae viu caninos nascerem em sua boca e um segundo depois tinha as presas cravadas em seu pescoço. Sentiu o mundo girar, dessa vez cem vezes pior que a bebedeira e se deu conta que tinha vendido sua alma a algo que não deveria viver nesse mundo...


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Meses depois


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Ae saiu do camarim ouvindo ainda os gritos da multidão delirante por ele. O show tinha acabado, mas ele ainda era venerado, venerado por milhões de fãs apaixonados.

Entrou na van ainda em frenesi pelo show que fez e foi outra vez recorde de bilheteria e se deu conta tarde demais que alguém incomum estava na van o esperando. Seu sorriso se apagou e ele olhou para a janela sabendo bem quem era e o que queria. Assim como sabia que seu motorista e empresário deveriam estar confusos ou desmaiados em algum lugar longe dali.

— Fugindo outra vez dos seus deveres, Aeae? O conde está chateado...

— Eu estive ocupado, Pete. Não é como se eu pudesse e...

— Voltaremos essa noite, Ae. Queira ou não. O conde te quer em casa.

Ae não rebateu, sabia que não adiantaria, ele era um bebê perto daquela criatura antiga que estava tranquilamente sentada a sua frente. Então ele teve sua mão agarrada e logo estava no salão principal da casa subterrânea do conde. Seu mestre, amo e senhor.

O homem que comprou sua alma a peso de ouro e de quem por mais que fugisse, sempre voltava ao ser chamado.

— Tão rebelde e ingrato esse meu escravo – Tin veio para ele até segurar seu pescoço com firmeza, mas sem machucar. Pete se colocou na lateral e logo o último deles chegou no local. Can. O primeiro escravo do conde – Esqueceu que me deve obediência, Ae?

— Desculpe, meu amo...

— Melhor assim – E ele soltou seu pescoço sorrindo suave – Vá para seu quarto e me espere. Quero seu sangue, hoje, Ae, até eu me satisfazer.

Ae saiu do salão xingando sua maldita boca por ter aceitado aquele acordo demoníaco e tremendo em expectativa ao mesmo tempo. Odiava aquele demônio, mas se desfazia nas mãos dele como um imbecil. Ele lhe dava mais prazer do que já teve em toda a sua vida até ali e sabia que era mesmo um escravo dele. Ele pertencia aquele monstro, completamente. Mas sua natureza era rebelde e por isso resmungou ao entrar no quarto designado a ele naquele lugar:

— Ainda te mato, conde, ainda te mato!

— Claro que sim, Aeae, claro que sim - E Can surgiu diante do seu caixão sobre a cama e veio para ele o abraçando firme e logo depois o beijando todo possessivo e agressivo lhe fazendo perder a linha de raciocínio. Aqueles monstros eram tão sedutores, tão sexys... – Ninguém pode salvá-lo, Ae, sua alma é dele, aceite.

Nunca!

Gritou internamente, mas logo cedeu a tentação e pulava no colo do outro que já o jogava na cama e o tomava selvagemente. Pete veio em seguida despindo a todos e por último o conde entrou silencioso, cobrindo seu corpo com o dele e roçando sua boca no pescoço do Ae.

— Você é meu, tudo o que pode fazer é aceitar e ceder. Agora pare de lutar e aceite.

Ele mordeu lentamente sua pele o chupando quase como se fizesse isso em outra parte do seu corpo ao invés dali e Ae choramingou sabendo que gozava mesmo sem ser tocado. Se odiava, odiava todos eles, mas ao mesmo tempo era cativo dos toques dos três, do corpo dos três, dos desejos do conde.

Era um imbecil!

Um dia mataria aqueles três... Um dia!

Mas não aquela noite, aquela noite ele voltava para os braços dos monstros que o desejavam, como sempre fazia desde que foi mordido e marcado. Como sempre desde que trocou sua alma pelo sucesso e sua vida por escravidão.

Aquela noite ele era cativo de suas próprias cobiças.

Como um pecador.

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