— O que você... — Jeon tentou formular alguma frase que fizesse sentido, mas seus pensamentos, agora terrivelmente confusos e nebulosos, o impediam. Havia sido pego completamente de surpresa, motivo do porquê abria a boca vez ou outra, como quem estava morrendo para falar alguma coisa, mas não conseguia. Não sabia o que fazer, graças às vontades mistas que tomavam conta de seu corpo agora; sentia vontade de gritar para que fosse embora, de socar o rosto perfeitamente desenhado e de pular em Taehyung e o abraçá-lo para nunca mais ir embora. Sentia vontade de fazer tudo ao mesmo tempo, inclusive.
— Eu precisava vir falar com voc-
— Vai embora — o interrompeu, a voz um tom mais alta que a alheia. Era estranho ver Taehyung pessoalmente de novo depois de tanto tempo.
Talvez estivesse exagerando, mal havia se passado duas semanas, mas a saudade no peito do garoto de óculos passava a sensação de 2 longos anos pra mais. Sentia falta de Taehyung, mais do que imaginou que sentiria, caso algo inusitado viesse a acontecer na relação que tinham — seja lá qual fosse ela.
Era estranho ver novamente o cabelo grande e as madeixas quase pretas perfeitamente bagunçadas, mesmo com a pouca luz que vinha do poste da rua e da TV da sala ligada. Era estranho observar o mesmo brilho familiar no olhar alheio e a mandíbula marcada; a boca rosada e em formato de coração, que sentia falta da sua própria como alguém perdido no deserto sente a falta de água; a mesma calça jeans preta que Taehyung sempre usava, acompanhada da camisa estampada em tons de preto e vermelho.
Era a completa essência de Taehyung ali, em sua frente. E o que Jeongguk mais estranhava era o fato de não conseguir odiá-lo, ou de impedir que o seu coração pulasse 2 batidas enquanto fitava o homem que o fez perder noites de sono e arrancou-lhe suspiros e gemidos abafados. A saudade parecia fazer uma morada muito maior do que qualquer tipo de raiva ou rancor por essas semanas — o que irritava o garoto profundamente —, mas Jeon não iria deixar transparecer. Não agora.
— Por favor... eu sei que você deve me odiar, e que o que eu fiz foi um ato completamente covarde e babaca, mas eu não vou conseguir deitar a cabeça no travesseiro hoje a noite sem me explicar pra você, Jeongguk — suspirou ao fim da frase, que pesou em seus ombros muito mais do que as próprias palavras. Taehyung não sabia exatamente o que estaria fazendo; julgava, inclusive, como uma atitude completamente impulsiva e irracional de sua parte, uma vez que já havia convencido a si mesmo que se manter afastado de Jeon seria melhor para a segurança dos dois em questão. Entretanto, o poder que Jeongguk possuía sobre si era nada menos do que avassalador, sendo potencialmente uma das únicas coisas que Taehyung não conseguia controlar.
Jeongguk o tinha na palma de sua mão, mesmo sem saber disso.
— Eu acho que você já disse o suficiente com as suas ações. Agora, por favor... você tá atrapalhando o meu filme — tentou respirar fundo, mantendo a voz baixa antes de se afastar em passos pequenos e direcionar o olhar até o piso de madeira de sua casa. Se não fitasse Taehyung nos olhos, as chances de permanecer firme e sem distrações seriam maiores.
Kim pressionou ambos os lábios um contra o outro, inspirando profundo antes de passar a mão em seu cabelo num gesto claro de desespero. Sair dali sem, ao menos, se explicar para Jeongguk não era realmente uma opção. Já havia nadado por tempo demais para se afogar na areia agora.
— Jeongguk... — começou, a voz tão calma e baixa quanto a alheia, por mais que estivesse mil vezes mais nervoso. Se aproximou do garoto de fios escuros, não se importando pela falta de convite para adentrar a casa que já estivera outras vezes, e levou ambas as mãos até as maçãs de sua bochecha, o fazendo erguer o rosto para fitá-lo nos olhos. Seu toque não era estranho, e o fervor que se apossou de ambos os corpos era carregado de saudade e familiaridade — Me escuta por 5 minutos, é tudo o que eu te peço. Depois, você pode me chutar pra fora se você quiser, mas me escuta.
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innocence | taekook au
FanfictionJungkook nunca acreditou no velho conto dos gêmeos opostos até ver Taehyung, irmão gêmeo do seu melhor amigo, com seus próprios olhos. A inocência, tão comum em Jaewon, era escassa naqueles lábios que anunciavam a volta pra casa. Ali só existia malí...