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JOSH

Eu estava lá em casa, jogando com meus amigos, quando meu pai bate na porta e entra, desligando meu computador e dizendo que se eu não fosse com ele e minha mãe até o aeroporto pra buscar minha host sister, iria ficar de castigo.

- Pai, eu não tenho mais 10 anos, eu tenho 18!!! Não posso ficar de castigo, ainda mais por uma bobagem dessas! Eu vou ficar em casa, depois talvez eu conheça ela.

- Você já tem 18 anos sim, mas continua morando sob o meu teto, então enquanto não se mudar vai ter de seguir as minhas ordens. Vá se trocar, você não vai pro aeroporto de pijama Joshua!

- Não vejo a hora de sair do seu teto então, puta que pariu, criatura chata...

- Joshua Kyle Beauchamp, olha o respeito com o seu pai! Veja lá com quem está falando, eu não sou nenhum desses seus amigos idiotas!

- Ah, tá bom, só cala a boca e sai da merda do meu quarto! - Digo, fechando a porta sem paciência alguma. Eu odeio isso, ser obrigado a fazer alguma coisa pelos meus pais. Eles não entendem que eu não sou mais um bebê há mais de 15 anos!

Me arrumei, escovei os dentes e saí do meu quarto com a cara emburrada de sempre, acho que já tem meses que não dou um sorriso. As pessoas pensam que sou tímido por isso, mas a verdade é que eu começo a falar e não paro mais, sou totalmente hiperativo. Desço as escadas calmamente, com o humor um pouco melhor, mas ainda meio irritado com o chato do meu pai. Nós não nos damos bem, na verdade, o máximo que eu já fiz com ele foi ir assistir a uma partida de baseball quando eu tinha uns 4 anos, na qual saímos brigando porque eu estava com fome e ele não quis se dar ao trabalho de pagar $1 por um saco de pipocas.

Essa nossa relação de gato e rato, sendo sincero, começou quando nos mudamos, lá de Ottawa, no Canadá, pra vir morar em Los Angeles, pois meu pai havia recebido uma proposta do seu chefe, e ele só seria promovido se viesse morar aqui, então aqui estamos nós há mais ou menos 12 anos. Eu era pequeno na época, tinha só 6 anos e não entendia direito o que estava acontecendo, mas lembro que uma das coisas mais difíceis pra mim naquele tempo, foi quando minha irmã morreu. Eu devia ter uns 5 anos e meio, e a Lily tinha 4. Ela morreu devido a um acidente, foi atropelada e a cirurgia não foi bem sucedida. Foi horrível, porque a Lil era minha única companheira, minha melhor amiga, a única que me entendia, mas principalmente, ela era minha irmã. A pessoa que eu mais amava no mundo. Por isso, me fechei de um jeito inexplicável com todos os meus amigos, familiares... Minha mãe me ajudou, mas meu pai não, ficou me culpando, pois na hora do acidente eu e ela estávamos atravessando a rua para ir comprar sorvete, e meu pai estava no carro com a minha mãe, nos esperando. Mas infelizmente não vimos o carro que vinha, e nós fomos atingidos em cheio, eu consegui sair dali e chamar os meus pais, só que minha irmã ficou incosciente por ter sido atingida da nuca, e teve que ir pra cirurgia, porém os médicos não conseguiram salvá-la. Meu pai por muito tempo ficou dizendo que eu deveria ter tomado cuidado, que se não fosse por mim Lily ainda estaria aqui, enquanto minha mãe me consolava, foi uma loucura... Então meu pai agarrou essa oportunidade de nos mudarmos para também recomeçarmos nossas vidas, e assim foi feito. Até hoje visitamos seu túmulo no Canadá, mas fingimos que ela nunca existiu, pois meu pai quis assim. Ele é um ser humano horrível, não sei como ainda consigo olhar pra sua cara. Coitada da Any, a menina que virá morar conosco...

Bom, chega de falar disso. Quando nós chegamos no aeroporto, mais ou menos uma hora antes de ela chegar, pelo que havia nos comunicado, peguei um papel e escrevi "Bem vinda ao seu novo lar, Any Gabrielly!" e enfeitei com alguns corações e estrelas. Devo confessar que eu estou meio ansioso pela sua chegada, porque além de eu ter visto suas fotos, e ela ser bem bonita, quero lembrar da sensação de ter uma irmã mais nova. Any tem 17 anos, minha irmã teria 17 anos agora. Eu só quero lembrar da sensação gostosa de poder compartilhar os meus segredos com alguém sem ser julgado. Não que eu vá contar de cara todos os meus segredos pra ela, afinal, eu nem a conheço, mas, quando ficarmos mais próximos sei que poderei contar com sua amizade.

Eu estava sentado decorando a placa, e quando acabo me levanto e fico de pé ao lado da minha mãe, com o meu cachorro, o Tommy, do meu lado. Mas não durou muito essa companhia, ele logo começou a correr por aí... Eu tava pensando em coisas aleatórias, até que ouço um "hi" de uma voz desconhecida, e dos meus pais também. Fiquei com vergonha, então apenas fiquei segurando a plaquinha e de cabeça baixa. Senti que ela ia se aproximar, mas o Tommy pulou em suas pernas, e sua atenção se voltou a ele. Minha mãe fala alguma coisa, mas eu só presto atenção quando ela me manda cumprimentar a garota. Quando eu olho pra ela, percebo que passa um tempo e ficamos nos encarando, ela é muito mais linda pessoalmente... Até que eu resolvo dizer uma coisa, demora uns dois minutos.

- Oi... Pode me chamar de Josh. - Dei um sorriso pela primeira vez em meses...
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𝗠𝗮𝗶𝘀 𝗤𝘂𝗲 𝗨𝗺 𝗢𝗹𝗵𝗮𝗿 | 𝗕𝗲𝗮𝘂𝗮𝗻𝘆Onde histórias criam vida. Descubra agora