5 de outubro de 2019
Início do registro médico
A coisa tá feia lá fora. Não sei quando poderei sair. Os pacientes já estão aqui e eu estou tremendo... tremendo como um cão. Nossa como o mundo tá doido hoje em dia, no jornal somente mais e mais pessoas doentes chegando aos hospitais. Cada vez mais mortes registradas e documentadas... E meu expediente vai varar a noite novamente.
Me encontro encarcerado na ala de doenças infecciosas com três pacientes nas bolhas de quarentena e mais oito nas macas ao redor da sala. Ambos apresentam bons sinais de infecção, embora estejam aqui, já começam a apresentar sintomas que não durarão muito mais tempo exceto... Bom, temos que ter fé não é mesmo?
Paciente número 1 – Eric Norton, infectado em praça pública, apresenta fortes dores musculares, passa grande parte do dia deitado e respira por meio de aparelhos, seu rosto está cada vez mais cadavérico e os olhos fundos como círculos sem fim.
Paciente número 2 – Nora Elizabete, infectada em casa pela própria mãe – essa realmente estava sem sorte – apresenta pústulas e manchas escuras por toda a pele, um exame interno mostra que somente o coração, os pulmões e os rins estão em pleno funcionamento. Os demais órgãos estão enegrecidos e enervados segundo o exame. Ela possui forças somente para gemer de dor e virar a cabeça para a direita para me olhar por alguns segundos.
Paciente número 3 – Douglas Michel, infectado em seu quarto, não possui registros de ter tido qualquer contato com pessoas infectadas anteriormente. Não aparenta estar com a infecção, uma vez que seu corpo, tanto externa quanto internamente, não apresenta sinais da doença. O paciente pediu que lhe trouxesse alguns livros para que pudesse ler enquanto eu termino os registros e informo ao Centro de Doenças Infecciosas como as coisas estão aqui. Em grande parte do tempo ele conversa comigo e me admira através do plástico transparente, isso enquanto não está absorto em histórias fantásticas dos livros ao seu redor.
Espero poder ajuda-los a se recuperarem, o mundo fora desse hospital não está às mil maravilhas, mas creio que é melhor do que morrer aqui dentro.
Nota: Para minha querida Maria, espero que esteja à salvo...
Fim do registro médico
9 de outubro de 2019
Não sei o motivo de terem me trazido para cá. Estou em perfeita saúde, o médico mesmo já disse isso, embora eu esteja tentando gritar isso a plenos pulmões ele parece não me ouvir.
Simplesmente consigo vê-lo andando de um lado para o outro, mas em breves momentos, quando não estou olhando para o teto.
Essa maldita dor nas pernas! Não para de latejar o tempo todo!
Eu grito: Doutor! Doutor!
Mas tudo o que ele sabe fazer é ficar indo para a bolha do lado, a bolha daquela maldita mulher que não para de gritar e gemer, sou capaz de jurar por Deus que se eu não estivesse amarrado aqui eu já a teria matado.
O outro cara pelo que ouvi o médico dizer somente está com os livros que tanto ama, pena que eles não te podem salvar não é, seu idiota?
Nós vamos morrer aqui, vamos sim, isso parece até lindo demais para ser verdade!
Me livrar dessa dor, dessa agonia de não poder levantar, não poder me mexer. O médico diz que eu não tenho forças, mas me sinto ótimo. Tá certo que apareceram algumas coisas nos raios-x que fizeram, mas... Isso não é nada com uma aspirina e uma boa descansada eu fico cem por cento.
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Eles
Science FictionO que você faria se o seu pior inimigo fosse você mesmo? Nesse mundo novo algo está mudando as pessoas e como se isso não bastasse o ser humano não consegue perceber essa mudança. Até onde você chegaria para poder manter viva a esperança de salvar a...