Salkantay: a Montanha, a Esposa e o Sonho.

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Depois de uma jornada de sete dias caminhando nos Andes, por volta das dezessete horas, da última sexta-feira do mês de março de 2011, ele chegava à estação ferroviária de "Aguas Calientes" que, como de costume, estava repleta de viajantes, uns cansados e outros animados. A maioria dos passageiros era de estrangeiros que haviam terminado ou aguardavam para iniciar um trekking1 nas montanhas daquela região.

O recém-chegado, um dos personagens principais desta pequena história sobre uma montanha, uma mulher e um sonho, era um homem aparentando não mais que sessenta e cinco anos; magro; cabelo curto do tipo usado por militares; barba rala; baixo, mas não da estatura de um nanico, talvez um pouco menos que um metro e setenta de altura. Leonardo Luiz era o seu nome, mas ele se apresentava como Leo e praticava, por hobby, esportes de montanhas.

Junto com Leo estava Ribas Cliotche, um guia profissional de expedições nos Andes, cujos traços fisionômicos já devem ser conhecidos de todos, porque se tratava de um peruano típico de pele morena, cabelos lisos e bem escuros. Os dois parceiros de montanhas se conheceram há três anos, quando Leo viajou pela primeira vez para os Andes.

Após verificar em seu bilhete o número da plataforma e do portão de embarque, o brasileiro e seu amigo peruano retiraram as mochilas das costas e, vendo muitas pessoas de pé e encostada na parede, sentaram-se no chão, porque os poucos bancos de madeira estavam todos ocupados. O trem que os levaria à Cusco estava previsto partir às dezoito horas e dez minutos.

Enquanto tentava tirar um cochilo, Leo, mesmo sem querer, ouvia a conversa de um pequeno grupo de franceses que estava próximo. Eles falavam sobre as dificuldades do trekking que tinham realizado. Foi ali naquele momento, sentado no chão e apoiado na mochila que o montanhista brasileiro ouviu pela primeira vez alguém falar sobre uma montanha chamada Salkantay. Na realidade ele compreendia muito pouco da conversa, pois não era fluente em francês. Depois do português preferia o inglês e o russo.

Durante a viagem de trem para Cusco, Leo quase não deixou seu amigo descansar, a todo instante fazia perguntas sobre Salkantay. Quando ele soube que

naquela trilha não se utilizava "porteadores2" para o transporte de material, e sim cavalos de montanha. O seu interesse aumentou.

— Na trilha Salkantay é possível levar cavalos com o fim específico de transportar pessoal? — Perguntou Leo ao amigo que estava sentado ao seu lado no trem.

— Sim, claro. Há expedições que adotam essa prática para, se necessário, transportar pacientes acometidos pelo mal da montanha3. — Respondeu prontamente o peruano.

— Você já esteve naquela montanha? Conhece a trilha? Qual a altitude máxima do percurso?

— Não só conheço a montanha, como já guiei diversas expedições naquela região. Quase toda a caminhada é realizada na altitude em torno de cinco mil metros. — Disse Ribas Cliotche demonstrando confiança no que falava.

— Posso saber por que essas perguntas sobre Salkantay? Acabamos de voltar dos Andes, concluímos sem dificuldades a Inca Trail4, uma das trilhas mais famosa do mundo.

— Claro que pode! Quando ouvi os franceses conversando sobre aquela montanha, fiquei bastante curioso. Estou pensando em programar uma caminhada até Salkantay com a minha esposa. Você topa nos guiar? — perguntou Leo.

— Sim. Precisamos combinar o período, pois já tenho diversos compromissos para esta temporada. — Respondeu o guia, apontando para a janela do trem que estava chegando à estação.

Eram cinco para as onze da noite quando os dois amigos se despediram. Ribas foi para casa, ele havia nascido em Cusco e lá sempre morou. Leo rumou para o Hotel Hatun Wasi, na Calle Plateros, bem próximo da Praça das Armas. E na manhã do dia seguinte voltou para o Brasil.

Salkantay: a Montanha, a Esposa e o Sonho.Where stories live. Discover now