Quer brincar comigo?

120 26 9
                                    

- Preciso de mais bonecas.

Disse Hoseok ao passar pela porta que dava acesso à biblioteca, onde sua mãe passava a maior parte de seu tempo.

A progenitora demorou alguns segundos para, enfim, tirar seu binóculo e encarar o filho, que agora estava mais próximo de sua mesa, esta sempre coberta de mapas e livros.

- O que houve com as outras, meu bem? – perguntou a matriarca, percebendo o leve bico formado nos lábios avermelhados de sua criança.

- Eu enjoei delas. – disse dando os ombros e vasculhando curiosamente o ambiente. Hoseok odiava o cheiro daquele lugar. Afinal, nunca gostou de livros.

- Mas eu as trouxe na semana passada. Não posso jogar fora.

- Não se dê o trabalho, mamãe. Elas já foram embora. – fechou um livro que estava aberto na mesa para ver o título e revirou os olhos. Mais uma vez sua mãe repetia a leitura de livros iluministas.

- Espero que dessa vez não tenha tentado furá-las. – suspirou a mãe, levantando de sua cadeira e posicionando sua mão nas costas do garoto. Hoseok riu levemente e entendeu que estavam se retirando dali. Era hora do chá e a senhora Jung jamais permitiria qualquer resquício de bebida passasse por aquele cômodo. Fechando a porta, continuou: - Diga-me, filho. Qual era o problema com as bonecas dessa vez?

- Bustos enormes, nádegas gordas... São belas curvas mas já trabalhei muito com essas. Gostaria de algo diferente, delicado, sútil... – Hoseok queria dizer que precisava de um corpo masculino. Mas temia a reação da mãe pois as regras eram claras: homens eram proibidos no reino de Gwangju.


Já havia passado uma década desde o decreto da rainha. Fora uma decisão tomada devido uma suposta traição durante a guerra entre reinos. Gwangju havia se declarado inimiga de Gwancheon. Aliando-se à Daegu, Gwangju estava com a liderança nos conflitos. Tinham um grande arsenal de armas, estas vindas diretamente da Europa, e um exército unificado, com homens fiéis até então.

A rainha Jung estava grávida, esperando seu segundo bebê. Gostaria de ter um menino para que aprendesse os bons costumes e fosse um verdadeiro cavalheiro com todas as mulheres daquele reino. O rei Jung comandava as rotas de suas tropas juntamente com o Rei Min, este que tinha uma grande reputação por suas brilhantes táticas de guerra.

No dia 18 de fevereiro, além de dar à luz ao menino Hoseok, descobriu sobre a suposta traição de seu conjugue. Gwangju pouco a pouco perdia seus territórios e isso se devia ao envolvimento do Rei Jung com a princesa Kim, do reino de Gwancheon. O Rei Min, ao descobrir a traição, declarou guerra à Gwangju. A senhora Jung, ainda com suas feridas do parto, se colocou à frente da batalha, comandando seus exércitos, formado por mulheres, apenas. Seu ex esposo havia fugido com seus féis militares. Sabendo dessa informação, conseguiu se aliar novamente com a família Min e, juntos, assassinaram o rei Jung. Com uma jogada de mestre, conseguiu tomar posse do trono de Daegu, prendendo e matando os Min e expulsando todo o e qualquer homem daquele reino, agora grande e potente.


Só haviam dois homens em Gwangju. Hoseok, o príncipe "herdeiro e algum outro que Hoseok jamais havia visto.


Os dois permaneceram vivos devido à misericórdia da rainha pois, dependendo do povo, não existiria um hormônio masculino sequer naquelas terras.

Por esse motivo, Hoseok não podia sair do castelo. Conhecia o mundo através da janela de seu quarto e dos livros que sua mãe lia durante ocasiões festivas.


O chá fora agradável. A condessa de Ilsan estava na aldeia à convite de sua mãe. Sua filha também estava posta à mesa. Aparentava ser um pouco mais velha que Hoseok, este que tinha 15 anos de idade. Apesar de não conhecer tanto sobre o mundo, o príncipe sabia muito sobre as mulheres. Sempre viveu cercado por meninas, mulheres e senhoras então sabia decifrar bem cada olhar, gesto e ação. E naquela tarde, Hoseok vira que o olhar da garota era raso, malévolo, insinuativo e dissimulado. Era inconfundível pois esse olhar era o mesmo que via quando trocava a roupa de suas bonecas. Possuía o mesmo peso quando o garoto desatava o laço da manta brega de suas modelos, o mesmo suspiro aliviado quando afrouxava o corpete revelando uma cintura marcada.

The DollhouseWhere stories live. Discover now