Depois de rolar pelo chão a cabeça decapitada faz pose para a foto. Encaixa-a de volta ao corpo, agradece pela gentileza de deixá-la tirar a foto e ambas seguem seus caminhos. Ela tinha conseguido mais uma foto para postar em sua página no Instagram.
Postou e logo conseguiu centenas de comentários e milhares de curtidas. Seguiu para casa e pediu para tirar foto de um homem - peixe que encontrou no caminho. Novamente, muitos comentários e curtidas.
Ao longo de sua "carreira" de fotógrafa, havia encontrado, fotografado e postado todo tipo de pessoa. Uma sereia, homem lagarto, homem carro, mulher camaleão, pessoas com membros a mais. Sempre tirou foto daquilo que queria ser visto: os padrões.
Nunca sequer se deu ao trabalho de tirar uma foto de si mesma. Não tinha nada diferente. Não era meio animal nem fazia qualquer coisa incomum com seu corpo.
Já havia ido a médicos, a fim de descobrir um procedimento para ser menos normal. Porém, nunca teve sucesso. "O padrão social de ser diferente é inatingível para pessoas como você", é o que sempre ouviu.
E então aceitou. Nunca tomou parte dos movimentos contrários a super-valorização do diferente, promovido por pessoas que, como ela, não têm qualquer peculiaridade, e lutam pela quebra dos padrões. Apenas começou a tirar foto dos diferentes e nunca tirou foto de alguém normal.
Nunca tirou foto de si mesma com seus 1,72 de altura, pesando míseros 50 quilos, seu corpo magro, sua pele branca, seus traços finos, cabelos loiros e olhos azuis. Ela era muito normal. E ela nunca será um padrão social.
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Conto iniciado com o mini conto: Depois de rolar pelo chão a cabeça decapitada faz pose para selfie, intitulado imagem, de Julio Dias.
Proposta de texto dada em prova trimestral de produção de texto.
Bebel⛤⛤

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Aquelas Noites Confusas
Short StoryAlguns textos, alguns contos, algumas histórias escritas em noites de confusão sentimentais, Eu deixaria para mim mesma, mas pensei: Porque não?