CAPÍTULO 6 - O INVASOR

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Quando ele se aproximou, tapei a boca com as mãos a tempo, evitando assim que saísse um baita de um grito. Enquanto o mirava aturdida e com medo, o homem me olhava com misto de vergonha e divertimento. Sem esperar reação, ele estendeu a mão de maneira amigável, percebi que não havia arma ou faca nela, e se apresentou. Seu nome era Santiago e disse que era... namorado da mamãe!

Sabe aquela trilha sonora da Maysa, "Meu mundo caiu"?! Pois então, era exatamente essa música que tocava na minha mente naquele instante. Pensei: até minha mãe namorava, transava, saía e eu... bem, na melhor das hipóteses, estava livre por opção, e na verdadeira hipótese... Encalhada!

Sorri amarelo para o tal do Santiago, ainda pensando que dona Sônia estava me devendo uma explicação, afinal era sua filha única e acho que deveria existir alguma regra implícita, na qual ela deveria pedir permissão a mim, antes de trazer o namorado pra casa, né? O quão idiota isso soava até para mim mesma? Tinha mais de trinta anos, já não era nenhuma criança para precisar ser consultada... A verdade era dura, mas eu estava morrendo de ciúmes, e talvez, apenas talvez, com uma pontada de inveja de minha própria mãe... "Caramba! Minha falta de vida social estava realmente afetando meu senso de ridículo! Se toca, Solena!"

Enquanto minha mente divagava, o pobre coitado ficava me fitando sem jeito, quiçá julgando se eu teria sérios problemas mentais, verbais ou ambos. Então me apressei para escapar daquela estranha situação.

— Ah! Oi, Santiago, é um prazer conhecê-lo. Sou Solena, filha da minha mãe (dã! não... filha da minha tia... pareço uma personagem de filme pastelão), digo, da Sônia, fica à vontade. É... Já estava voltando ao quarto, só vim procurar o Sardinha, quer dizer não a comida, o gato!... — expliquei idiotamente, querendo que abrisse um buraco no chão para me tragar. Ele agora ria sem conseguir controlar, devo ter causado uma ótima primeira impressão.

Ele retribuiu a saudação e ficou me observando divertido, enquanto ia me afastando de costas em direção ao meu quarto. Em uma escala de idiotice, em que nível deveria parecer uma mulher da minha idade com pijama amarelo dos Minions, agachada na cozinha à noite, chamando por Sardinha, e que não sabia nem falar de modo adulto com o namorado de sua mãe sem gaguejar?

Quando estava no meio do corredor, já próxima ao meu quarto, eis que surge o gato miserento e traidor, correndo pelo passadiço desvairado, quase me matando do coração e me fazendo dar um grito estridente. Torci para que eles não viessem ver o tinha acontecido. Estava muito tensa, só podia ser esse o motivo para me assustar tanto em um único dia.

Não reparei em nenhum sinal de minha mãe e o tal do Santiago já devia ter ido novamente para o quarto dela, pois agora a luz da cozinha estava apagada e tudo reinava no mais absoluto silêncio. Ainda estava digerindo meu novo "pai", "padrasto", "amigo colorido", "papi", ou sei lá o que ele era. Meu Deus! Tinha um homem ali no quarto com ela... Argh! Nem queria saber o estavam fazendo, tomara Deus que não ouvisse nada através das paredes, isso me levaria direto para consultório psiquiátrico! Dormi um sono agitado, com pesadelos dos quais não lembraria ao amanhecer. Cheguei à conclusão, depois dos últimos acontecimentos que precisava virar o jogo da minha vida urgentemente!

No dia seguinte, saí de fininho com antecedência para o meu trabalho. Chegaria antes de todos, mas e daí? Dane-se! Pelo menos assim adiaria um pouco o confronto com minha mãe. Bem, no fundo, sentia-me feliz por ela, afinal é a minha mãe, né? Eu mais do que ninguém sei o quanto sofreu com a morte precoce do meu pai. Cara, amo aquela mulher pra cacete, com certeza, sei que ela merece ser feliz, todavia tinha um diabinho que ficava tizicando com ideias tolas de ciúmes e inveja. Nada a ver, né? Mas essa sou eu, e como não domino muito bem os paranauês sentimentais conflitantes dentro de mim, ajo como uma bela covarde e... fujo!

Virei o Jogo (Degustação) em pré-venda pela The Books editora.Where stories live. Discover now