Ela fechou os olhos sentindo o vento passear à sua volta. Por um mero segundo se sentiu leve, quase tão leve quanto o vento, e tentou sorrir uma última vez. Sentiu seus cabelos soltos acariciarem seu rosto frágil e cansado. Ela queria mais que tudo que aquele toque fosse algo de verdade, de uma outra pele com a dela. Sentiu o ar quente de sua boca ir embora com o vento, o que não era muito comum, mas ela estava nervosa mesmo que quisesse conter dentro de si e se manter calma. Ela estava nervosa e isso à deixava quente. Ela abaixou vagarosamente o rosto ainda com medo de abrir os olhos, sabendo que ao fechá-los de novo seria para não abri-los mais, então se manteve quieta. Sentiu a umidade das pequenas lágrimas no canto de seus olhos e não pôde conter um longo e doloroso suspiro que arrancou até as últimas moléculas de ar de seus pulmões fazendo seu coração doer. Também sentiu o choro que estava preso em sua garganta vibrar de tanta força que fazia para sair, como um nó que se formava a fazendo engasgar. Mas não, ela não queria chorar. Não agora. Não mais. Por isso tomou fôlego e o engoliu. Engoliu o choro e o nó, que poderiam ser os mesmos, mas que doeram como se fossem distintos e espinhosos, dando vontade a ela de cuspir tudo para fora, mas ela só tossiu de dor, sendo abafada por um soluço repentino que quase a deixou sem ar pela terceira vez na noite.
Com uma rajada de vento mais longa ela sentiu tanto medo quanto sentiu frio, como se a solidão e a escuridão daquela noite a abraçassem fazendo-a se sentir mal. Ela não queria a companhia da noite, mas sim a dele. Queria sentir seus braços em torno dela, queria sentir a força e a maciez deles a protegendo.
Estava ficando cada vez mais frio, causando arrepios na garota. Ela abraçou o próprio corpo tentando se aquecer, mas estava alto demais e a noite não ajudava. Ela queria tanto que ele estivesse ali, que ela pudesse sentir seu corpo quente mais uma vez em contato com o gelado dela, que a tranquilizasse, mas era quase impossível naquele momento. Procurou se distrair até ter coragem de tomar a decisão e então a atitude. Olhou para frente, para o horizonte, a cidade toda iluminada, tanto que nem parecia noite. Era tão bonito olhar tudo o que ela conhecia em meio as outras pessoas lá em baixo, visto de cima, mesmo o prédio não sendo muito alto. Se focou apenas em um ponto ao longe que nem soube distinguir bem o que era. Respirou fundo tentando se manter calma, até que um barulho soou atrás da garota fazendo-a se assustar. Quando mexeu minimamente para virar-se sentiu seus pés no parapeito escorregarem.
O grito dela ecoou fino e curto. E então era o fim.
Ela fechou os olhos tão forte quanto conseguiu, apenas esperando o choque do seu corpo com o chão, mas em um puxão sentiu seu braço ser fortemente agarrado, tão forte que com certeza estaria roxo minutos depois. Seu corpo se chocou com outra coisa e então sentiu algo apertar em torno de si. Foi tudo tão rápido que ela continuava de olhos apertados. Suas mãos gelaram e um vento frio contornou seu estômago, a deixando desconfortável. Sentiu sua mente dar uma volta e se sentiu enjoada, por medo se sentiria dor ao chegar, ao tão longínquo chão. Mas se sentiu frágil ao notar uma voz melodiosa e preocupada se espalhar pelo ar.
-Foi por pouco. -Ele suspirou ofegante.
Ela ouviu a voz tão doce dele, a voz que ela mais amava ouvir. Mas a voz dele estava tão fraca, tão baixa que deu uma pontada dolorosa em seu peito. Ele estava com medo, mas estava lá. Ele havia ido para ela, e havia a salvo. Ela sentia o calor de seu corpo com o dela lhe causando um arrepio. Sentia a respiração dele, e conseguia até ouvir o seu rápido coração, que ela sabia que estava rápido por sua causa, e se sentiu mal. Ela queria tanto que ele estivesse com ela, mas sabia o quão mal ela causaria se ele estivesse perto, como agora. Ele apoiou seu queixo na cabeça da garota e fungou. Oh, ela o estava magoando novamente.
-Eu não acredito que quase te perdi. -Ela o apertou mais o fazendo retribuir. Sua voz triste fez com que a garota se quebrasse em mil pedaços. Sentiu seu coração se encher e se contorcer em seu peito como se a angústia o estivesse invadindo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Antes Que O Sol Nasça
Teen Fiction"A eternidade é para quem acredita, assim como o amor"