Capítulo 2

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     É sábado. Dali a pouco, a mãe sairia para ir ao médico. Era também dali a pouco que iria á biblioteca sem permissão. Sair á socapa para ir a uma biblioteca parece ridículo, sendo que a maioria dos adolescente fá-lo para frequentar festas.

    -Volto em duas horas Elliot.- disse a mãe já na porta.Olhava para o andar de cima, á espera de uma resposta que não veio.

     O rapaz não lhe falava desde a discussão sobre a biblioteca, fizesse ela o que fizesse. Tentou trazer lhe alguns livros, mas não adiantou. Com o tempo - pensou Grace- acabaria por esquecer.

   Dirigiu-se ao carro, fechando a porta de entrada com um estrondo e trancando-a de seguida.

  Elliot observa a mãe da janela, seguindo o carro com os olhos enquanto este se afasta. Mal deixa de ver o carro amarelo, - nada espalhafatoso - apressa-se a descer pelo telhado do alpendre.

     Na mala que carrega nas costas leva um pequeno banco desdobrável para lhe facilitar a subida ao telhado, além de dinheiro claro.

                                ****

    Já estava na livraria há 20 minutos. Escolher um livro era uma das decisões mais difíceis que alguém poderia tomar. Havia tantos fatores a considerar: a história parece boa? Recebeu boas críticas? Qual é o que tem melhor capa? Qual vai me prender a atenção mais rapidamente?É a situação perfeita para se dar em doido.

     Estava indeciso entre "Throne of Class" de Sarah J. Maas e "O Caçador De Pipas" de Khaled Hosseini quando uma voz feminina chega por detrás do seu ombro.

     - Se escolheres este, compra três embalagens de lenços. Acredita, vai te partir o coração. -apontava para "O caçador de pipas".

     Era uma rapariga alta, com cabelos castanhos presos em duas tranças laterais. Não poderia ser muito mais velha do que ele- pensou Elliot- talvez até tivessem  a mesma idade. Vestia o completo oposto do que ele esperava que alguém que frequenta livrarias vestisse: sapatilhas converse pretas, calças pretas largas com uma corrente a substituir o cinto e um crop-top com o logótipo dos ABBA.

     Ao ver o olhar espantado e assustado dele, a rapariga continuou.

     - Eu já li. Por isso sei o que digo. Mas "Throne of Glass" também é uma obra prima. A personagem principal é diferente de tudo o que já vi.- sorri.

      Elliot não lhe corresponde o sorriso, nem qualquer reação. Apenas a observa, como se tivesse á sua frente um marciano. Ela aborrece-se visivelmente.

     -Ok miúdo, leva o que quizeres.- Vira-se e dirige-se a outra secção.

      Elliot demorou longos segundos a processar o que havia acontecido. "Aquela rapariga começou a falar comigo, assim do nada?". Questionava-se se a sua mente lhe pregava partidas. Secalhar era o seu sentido de culpa por ter saído á socapa de casa.

   Ao ver a rapariga novamente, percebeu que era bem real. Depois finalmente se apercebeu de uma coisa íncrivel: aquela rapariga tinha falado com ele completamente do nada. Não podia deixá-la ir antes de conversar com ela. Tanto tempo a desejar um amigo e agora que tinha essa oportunidade, não a poderia desperdiçar.

     Corre atrás da dona das tranças, que lhe lembram uma guerreira mitológica. Toca-lhe ao de leve no ombro, como se estivesse a tropar a uma porta, mas em vez disso era um ombro. Não sabia bem se era assim que as outras pessoas iniciavam conversas, mas também não queria saber.

     Contudo nada disse, e os olhos escuros dela fitavam-no á espera de algo que fosse digno de a ter chamado.

     -Desculpa não te ter respondido, não tava á espera que alguém falasse comigo.-faz o seu melhor para esboçar um sorriso que emanasse confiança.Deve ter resultado pois ela responde-lhe logo.

     -Não te preocupes, mas da próxima vez tenta ultrapassar o teu choquezinho mais depressa, ou as pessoas pensam que fazem figuras de parvas. Qual é o livros que vais levar? Já escolheste?

     -Sim. O "Caçador de pipas" parece-me bem.

     Finge uma expressão de desespero, e põe as mãos atrás da cabeça.

     A rapariga aproxima-se.

    -Está tudo bem? Sentes-te mal?

     -Não. Não está nada bem. Eu não...- deixa os braços cairem-lhe perto do corpo, um sinal de rendição a uma força superior . Ela arregala os olhos, preocupada.- Não tenho lenços.

    -O quê?

    -Disseste que precisava de vários lenços se fosse ler aquele livro. Mas eu não tenho lenços. É isso: preciso de comprar. Vens comigo comprar os lenços?

      Por um momento nada disse. Apenas o olhou. Depois começou a rir. Não era um riso estrondoso. Era um riso íntimo e doce, pensou Elliot. O facto de ele ter feito alguém rir encheu-o de felicidade. Parece fácil, mas já tinha tentado imensas vezes e nunca teve sucesso. Uma vez decorou várias piadas e declarou-as ao homem do talho , enquanto a mãe tratava dos seus afazeres. O homem mandou-o calar e levantando a sua faca, ameaçou-o que se não se calasse, esventráva-lhe os intestinos. Não acreditou que este realmente o fizesse, mas afastou-se por precaução.

      -Porque não?-diz finalmente. Não tenho nada programado para as próximas horas, e já agora dias. Claro que vou comprar lenços contigo.-ela fala de forma troçista, mas ele não se importava.

     Os dois sorriam. Elliot sorria devido áquela situação. A rapariga sorria pois ia comprar lenços com alguém que havia conhecido 10 minutos antes. Só a ver é que acreditava.

      Elliot pagou o livro antes de saírem da livraria. Entre esta e o supermercado mais próximo, haviam apenas uns 200 metros.

     De súbito, a sua recente amiga parou.

     - Olha lá rapaz. Sem querer te ofender mas tu és um estranho para mim. Não sei quanto a ti, mas a mim sempre me disseram para não falar com estranhos, e muito menos andar lado a lado com eles. -olha-o de alto a baixo e fica a pensar.

     Estende-lhe a sua mão.

    -Hannah- apresenta-se.

     -Elliot- diz. Aceita o aperto de mão.

     -Agora já não somos estranhos,por isso posso ir contigo comprar os... tais lenços.

     Dito isto, continua a caminhar. O rapaz segue-a.

                      

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⏰ Última atualização: Jul 20, 2019 ⏰

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