Capítulo 1.

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Eu sou igual a você.

Lógico. Tenho dois olhos, duas orelhas, um nariz e uma boca. Ah, não posso me esquecer das sombrancelhas e as pintinhas espalhadas pelo meu rosto. Eu sou um ser humano normal que leva uma vida normal.

Tenho um pai e uma mãe. Juntos, ambos me fazem o adolescente mais feliz do mundo. Chega até ser constrangedor dizer isso mas é a verdade. Eles me fazem muito bem, e sei que posso contar com eles para tudo.

Também tenho uma irmã que a amo muito, mesmo que eu não vá dizer isso pessoalmente para ela. Talvez minha irmã seja uma maníaca obcecada por culinária e agora viramos cobaias dela. Então, eu tenho o papel de irmão mais velho em elogiar suas guloseimas – mesmo que elas estejam horríveis.

E claro que não posso esquecer dos meus amigos, meus fieis companheiros. Devo conhecê-los faz anos, ou quem sabe desde a minha ida a escola. Em pleno ensino fundamental.

Viu só? Tenho uma vida completamente normal. Exceto por uma única diferença a qual pretendo manter segredo: eu sou gay.

Não que isso vá mudar todas as coisas. Eu continuo sendo Kim Taehyung. Um adolescente normal prestes a entrar na faculdade, e que tem um sorriso peculiar quadrado.

Você deve estar se perguntando o porquê de eu não me assumir. Mas, não me leve a mal. Ocorrer toda a história da "saída do armário" não é algo que eu queria enfrentar justo agora. Falta pouco para eu me formar, e quando eu entrar na faculdade, é lá onde pretendo ser eu mesmo. O verdadeiro Kim Taehyung completo.

Serei o mais gay de todos.

Ou talvez nem tanto assim, não é algo que anseio. Ser só eu e assumido para quem eu quero já me basta.

Quando o alarme toca ao lado da minha cabeceira vejo que passei tempo demais em minha cama pensativo, e agora, estou atrasado.

Me levanto em um pulo, correndo igual um louco para me arrumar. Não posso chegar atrasado na casa do Donghan. Não queria o mais novo reclamando em meu ouvido que chegou atrasado em mais uns dos seus treinos, colocando a culpa em cima de mim. Provavelmente Nina iria repreende-lo para me defender e logo a guerra em meu carro estaria feita. O pensamento me faz rir quando desço as escadas correndo.

— Tae, não irá comer? — minha mãe pergunta em meio a minha correria.

Aceno que não, roubando uma maçã da cesta de frutas.

Meu carro não é lá o mais caro do mundo porém me serve em não ir andando todos os dias para a escola. Do outro lado da rua, aceno para o vizinho no qual tenho uma quedinha antes de entrar no automóvel. Minhas bochechas estão quentes e me sinto toda vez assim sempre que tento algo contato a mais com ele.

— Merda! — bato as mãos no volante, acertando sem querer a buzina. Isso me assusta e me faz pular do banco.

Eu sou um desastre.

Sem delongas para lamentações, ligo o carro e vou em busca dos meus amigos. A primeira casa de quem eu passo é a do Donghan que aparentemente estar de bom humor. Ele me comprimenta com um "toca aqui" antes de se acomodar no banco de trás.

— Bom dia, Donghan.

Sorrio. Ele está tão alegre que parece outra pessoa.

— Bom dia, Taehyung. Hoje é o dia.

— Dia do quê?

— Jogo. — diz ele feliz.

Começo a rir do meu amigo que é um bobão por jogos. Quando dou ré no carro, já paro na casa de Nina, que ocupa o banco ao lado do meu.

— Bom dia flor do meu jardim.

Nina sorri para mim e comprimenta Donghan com um "Olá", mas sua atenção não está totalmente em nós e sim no seu pequeno aparelho eletrônico em mãos. Resolvo não dizer nada enquanto comento com Donghan sobre seu sonho estranho.

Em pouco tempo meu carro novamente é ocupado por mais uma presença. Nina volta a brincar com a gente dizendo que devo começar a cobrar deles por ser um motorista tão compromissado. Dou risada, apesar de ser verdade.

O horário na escola passa tão devagar que chega a ser enjoante. Admito que, não era tão fã assim dos estudos, mas também não chegava a ser um estudante que vêm apenas para encher o saco dos professores. Ainda me pergunto como deve ser um já que os atuais parece ser intocáveis. Nada parece acontecer com eles.

— Alguém sabe me dizer qual é o valor de X e T baseado na fórmula que passei? — o professor de matemática diz, na frente da lousa.

Por instinto, ergo minha mão. O professor me olha com esperança.

— Sim, Kim?

— Posso ir ao banheiro?

Ele parece decepcionado e me responde com um "Vá rápido". Sorrio. Não aguentaria mais um minuto alí mesmo se eu quisesse.

Espero o horário passar preso ao banheiro enquanto me distraio com um joguinho em meu celular. Logo, o sinal toca. Finalmente posso sair do banheiro despreocupado e em caminho de casa. Não é toda vez que faço isso mas sempre há uma primeira vez.

Minha mochila está separada em um canto da sala vazia e com os materiais guardados. Faço uma nota mentalmente que não sei se vou cumprir para agradecer o aluno — provavelmente obrigado pelo professor — que juntou meus pertences. Quando estou indo em direção ao meu carro, meu celular vibra no meu bolso. É uma mensagem de número desconhecido.

Desconhecido: Olá.

Desconhecido: Isso realmente é estranho, lol.

Desconhecido: Espero que esse número esteja sendo utilizado.

Taehyung: Olá? Quem é?  

Com amor, Taehyung. Onde histórias criam vida. Descubra agora