Chapter 6

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6:37 am — 113 dias antes da final

Kaspbrak abriu seu armário pela milésima vez para conferir se havia pego tudo o que precisava, sua pochete já estava lotada com seus frascos de comprimido e seu kit de primeiros socorros.

— Será que estou esquecendo alguma coisa? — Murmurou para si, analisando dentro dos compartimentos de madeira.

— Eddiezinho, você esta esquecendo seu casaco, segunda porta. — Sua mãe chegou em seu quarto com uma bolsa nas mãos.

— Claro, era isso. — Disse enquanto pegava a blusa e revirava os olhos.

Eddie não gostava de pensar assim, mas quando começou a entrar na adolescência passou a se sentir sufocado por Sonia Kaspbrak, e por vezes desejava que a mãe fosse chamada para trabalhar em algum lugar fora de casa em tempo integral, mas para sua infelicidade a mulher não estava procurando emprego, recebia uns trocados por suas costuras e o dinheiro que obtivera após a morte do pai de Eddie era suficiente para os dois. O garoto se sentia estranho tinha um tempo, completamente perdido, e não tinha ninguém para conversar, achava que Sonia era a melhor pessoa de sua vida, que a mãe o amava acima de tudo e faria qualquer coisa pelo filho. Tudo isso era verdade, ele não podia negar, mas com o tempo foi perdendo um pouco da inocência que o mantinha nessa bolha de felicidade e percebeu como a mãe podia ser manipuladora e que era uma mulher tão carente e sem expectativa de vida alguma que precisava manter o pobre menino debaixo de suas asas para se sentir acompanhada e amada. Eddie tinha medo de sua mãe, nunca assumira, mas tinha, principalmente quando a mulher parava e o olhava fixamente enquanto ele fazia alguma coisa, ou quando escondia a chave para que ele não pudesse sair de casa. Claro que ela nunca admitiu que fazia isso, apenas usava sua melhor cara cínica e dizia que o filho era tão distraído que deixava a chave por ai, mas certo dia Eddie precisava sair para comprar uma cartolina para um trabalho de escola e não encontrava suas chaves de jeito algum, revirou o quarto, a bolsa, as gavetas da estante e nada! No entanto, com um descuido, a mãe cochilou e acabou deixando a mostra as chaves que escondera no vão dos seios presas no sutiã. Depois daquele dia a ficha de Eddie caiu e passou a ver as coisas de outra forma quando se tratava de Sonia.

— Meu filho, por favor, toma cuidado ta bom? Quando for sentar entende a toalha que eu coloquei na sua bolsa porque você sabe que a grama te da alergia. E pelo amor de Deus, cuidado com os formigueiros, você é tão desatentozinho. — Disse a mulher se aproximando dele e apertando suas bochechas.

— Mãe! Não fala comigo como se eu fosse criança. — Ele disse desviando dela e seguindo para a cozinha.

— Eu já disse Eddie, você vai sempre ser meu bebê.

O garoto bufou disfarçadamente abrindo a cortina e olhando pela janela.

— Essa van não chega logo, eles falaram 6:30. — Eddie olhou no relógio impaciente, não aguentava mais a mãe no seu ouvido.

— Senta aqui, termina de tomar seu café, já está esfriando. — Ela estava indo pega-lo pelo braço, mas uma buzina o fez saltar.

— Olha, chegou!

Kaspbrak saiu pela casa pegando suas coisas e abriu rapidamente a porta, e meio desajeitado saiu pelo gramado, quando estava no meio do caminho sua mãe gritou por ele.

— Eddie! Não está esquecendo nada?

— Beijo mãe, até mais tarde. — Virou-se para ela soltando um singelo beijo no ar e voltou a andar.

— Eddie! — Disse mais firme que da primeira vez.

O garoto fechou os olhos por alguns segundos murmurando suplicas antes de se virar e caminha novamente para a porta de casa. Parou no degrau abaixo do batente e se aproximou da mãe, apertando os lábios em seu rosto observando a expressão satisfeita que ela fez quando se afastou.

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