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durante o outono inteiro, ela a esperou. finalmente, a colheita chegou.

sim, era o que era. nako e a avó. alguns suspiros, risadas e cheirinho de comida quente. yuri disse  que estaria lá, mas não havia machos de cabelos ruivos pela multidão ou algum cachecol listrado de azul e amarelo a dançar pelo pescoço de alguém.

segurou as lágrimas o tanto quanto pôde e passou a contar o dinheiro que a avó estava recebendo pelos serviços na barraca e pelo menos conseguiu sorrir minimamente por saber que elas estavam fazendo a parte delas na arrecadação. foi yuri quem ensinou nako a ser bondosa e sempre dar sem esperar receber de volta. mas tudo o que ela mais queria agora era que suas expectativas fossem atendidas.

as luzes piscando através das outras barracas, mesas e enfeites. pessoas felizes, agasalhadas e usufruindo de todo o festival da colheita. uma garota. nako. seu coração partido e suas mãos pequenas congelando de frio igual ao órgão prestes quebrar em mil pedaços. as lágrimas cristalizadas poderiam futuramente cortar sua pele.

ah, nako havia amado. havia amado muito. desde o inverno até ao outono. primavera e verão foram estações de transição de sentimentos e seu coração se tornou um prisma quando o arco-íris apareceu timidamente detrás do sorriso puro de yuri e então ela se tornou todas as cores.

por isso, não queria desbotar.

pediu licença a avó e se entrelaçou no meio daquela gente toda, infelizmente um caminho até que pudesse chegar à fonte central da praça onde várias pessoas durante o dia jogavam moedinhas acreditando que algum dia seus desejos poderiam se realizar.

nako não era mais uma criança e com certeza estava perdendo a fé em seus contos de fadas tão amados. a graça da vida era assim e depois se perde tudo? de repente ela se viu querendo voltar à infância como nunca.

ela não queria se forçar a fazer isso, mas tímida e vergonhosamente, retirou uma moeda dourada do bolso. passou a segurar com força, ainda incerta e com o coração dolorido dentro do peito machucando seu corpo.

"eu queria que yuri voltasse pra mim".

de olhos fechados com força, nako esticou a mão gelada na direção da água. estava pronta para derrubar a moeda. mas uma mão segurou seu ombro, distraindo sua atenção.

"nada pode ser realizado sem que se lute", a voz soou familiar através do coração partido, dolorido e esperançoso de nako e suas palavras foram tomadas de súbito.

o mundo parou.

logo em sua frente, com o cachecol listrado de azul e amarelo e cabelos ruivos dançando ao vento, estava yuri.

durante o outono inteiro, ela a esperou. finalmente, a colheita chegou.

e o seu amor também.

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𝐏𝐑𝐈𝐒𝐌𝐀𝐓𝐈𝐂 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓Onde histórias criam vida. Descubra agora