Unique

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Os raios solares se esgueiravam pelas frestas da janela, como uma melodia convidativa e alegre em um dia de verão. As cortinas tentavam diminuir a luz e aprisioná-la, de certa forma, mas falhavam miseravelmente na sua missão de conter o Astro de apresentar seu espetáculo na grande Berlim.

Espetáculo esse que poderia ser visto pelas lentes de uma câmera e no olhar apaixonado e sensível de um fotógrafo. Ah, a grande magia que era a fotografia. Captar momentos, sensações, emoções, sentimentos, cores, texturas, expressões, paisagens, fenômenos e a vida no geral.

O êxtase que o ângulo perfeito gera ao seu criador seria como o tom perfeito que o pintor imaginou ou a melodia exata que o músico sonhou. O prazer em conseguir traduzir tudo e nada em apenas uma imagem, chegava a ser demais para si às vezes. Era a grande paixão da sua vida. Às vezes chegava a ser doloroso o tanto de amor que nutria por sua profissão.

Através das lentes de uma câmera poderia criar um mundo novo, expressar o seu, analisar o dos outros, experimentar um diferente e brincar com as paisagens "reais" deixando elas à seu gosto. Poderia enaltecer outras formas artísticas usando a sua, poderia enaltecer formas e corpos com base na sensibilidade do seu olhar, poderia enaltecer o que quisesse encontrando o ângulo e a luz perfeita.

Hoje seu trabalho o levou à um estúdio comum para tirar fotos de algum famoso para uma marca de roupas. Sinceramente, ele não era grande fã de ter que trabalhar seguindo determinações. "Tem que ter esse tom", "precisa ter pelo menos uma desse jeito", "é um ensaio fotográfico, tem que sair do jeito que eles querem".

Esse era o tipo de foto que ele menos gostava de tirar, as que pareciam um filme com roteiro, luz e fundo. Sem espaço para improvisos ou espontaneidade. Apenas entregar o serviço do jeito que foi encomendado, sem poder colocar muito do que quer. Só o que eles precisam que a foto expresse.

Respirou fundo e decidiu caminhar até o estúdio que não era tão longe (de acordo com o mapa que encontrou) e a rota ainda permitiria passar por alguns pontos turísticos da cidade que ele definitivamente estava empolgado para conhecer.

Seus olhos encontraram o Portão de Brandemburgo completamente iluminado pelo Sol e olhou para baixo. Contemplando o fato de seus pés estarem exatamente no local em que foi o muro de Berlim um dia. Tinha que admitir que era uma cidade magnífica, assombrosa, grandiosa, esplêndida e simbólica.

Símbolo de força e regeneração. Símbolo de superação e redenção. Símbolo de guerra e paz, de dor e perdão. Berlim poderia facilmente induzir seus turistas e cidadãos a uma reflexão profunda sobre sobrevivência.

Não importa o quão tudo esteja destruído e fodido, sempre existe uma forma de se reerguer e consertar as coisas. Voltando das cinzas, dos restos, dos escombros, da guerra e sendo capaz de se mostrar viva, intensa, colorida, integrada, reconstruída.

Antes que percebesse seus olhos se tornaram lentes e seu dedo parecia fora do controle da sua mente, clicando sem parar e sem limites. Não que alguma coisa estivesse sobre seu controle definitivo, era instintivo, não precisava de nenhum segundo pensamento. Ele se movia guiado pelos seus instintos entrando em seu mundo particular e apenas trocando a "realidade" como se troca a lente de uma câmera.

Em algum momento entre devaneios e clicks seu estômago exigiu um café da manhã. Atendendo ao pedido seguiu para a cafeteria mais próxima e de lá para o estúdio, já que se ele se deixasse levar provavelmente se perderia em inspirações e chegarei super atrasado.

Berlim (Ziam Mayne)Onde histórias criam vida. Descubra agora