Capítulo Único

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Vou te situar no tempo e no espaço porque a história já é antiga (não tanto quanto eu, mas já tem mais de 20 anos do ocorrido...).

Bom, não sei se você conhece o Rio de Janeiro, pra ser mais exato o centro do Rio. Então, pra entender melhor o ocorrido: Há 23 anos atrás, eu fazia faculdade de Informática na UFF(Universidade Federal Fluminense), mais precisamente no centro de Niterói, (pra nós cariocas, a cidade que fica do outro lado da Poça, também conhecida como Baía da Guanabara), só que os campi da UFF não ficam num bairro só como a UERJ por acaso, a porra é toda espalhada por Niterói inteira, então a gente ficava andando pra lá e pra cá com aulas em campi diferentes.

Eu já estava no terceiro período, já não era mais calouro, mas ainda tava agarrado em Física I (ô matéria do inferno) e nós tínhamos aula prática no laboratório além das aulas teóricas. E as aulas de laboratório eram em horário diferente das aulas teóricas. Pra ser mais exato as aulas de laboratório eram às sextas-feiras as 2 da tarde (meu curso era manhã e tarde, então a maioria das aulas eram pela manhã, mas tinha algumas que só pra sacanear, eram a tarde, e só pra sacanear mais ainda, as de laboratório eram sexta a tarde, dia que a maioria de nós, pobres universitários deveria estar enchendo o pote de cerveja no DCE da facu, mas não... Estávamos sofrendo na porra do laboratório...).

Um agravante era que a porra da aula de laboratório dava meio ponto na média final e a professora só dava tolerância de 15 min de atraso, além do prédio de Física ficar no campus de São Domingos, não no campus do Valonguinho que é no centro de Niterói. Sendo assim... Prossigamos o relato: na quinta feira antes do dia da aula, caiu um temporal de alagar o Rio de Janeiro inteiro, alagou a porra toda, caiu árvore pra tudo quanto é canto, lama pra todo lado, tava o caos completo na cidade, naquela época, qualquer chuvinha já inundava tudo, mas choveu mais que as águas de março fechando o verão... E olha que era setembro...
Por conta dos alagamentos, as aulas que eu teria na sexta-feira pela manhã foram suspensas, mas a de laboratório não... Pra que eles iriam suspender as aulas? Pra dar mole pra nós, pobres universitários??? Nem fudendo... Universitário tem mais é que se lascar mesmo...

Então, que maravilha... Podia dormir até mais tarde e depois ir pra aula de laboratório tranquilo, certo??? Só que não...

Por conta do temporal, o trânsito tava um inferno, era preciso sair mais cedo de casa pra não correr o risco (quase certo) de ser mais um atingido pela Lei de Murphy:

"Onde uma coisa pode dar errado, tenha certeza que dará errado, muito mais do que você imagina"...
Aí, vai o Guto, todo tranquilo, como todo carioca, pensando: vou sair de casa umas onze da manhã, pra não correr risco de atrasar, almoço no Plaza (shopping no centro de Niterói, onde 10 entre 10 alunos da UFF iam pra vagabundear entre as aulas), fico bundeando por Nikity até dar a hora da aula.

Foi o que eu fiz. Só que da minha casa, na zona norte do Rio, mais precisamente no Engenho de Dentro (aquele da música do Jorge Benjor: "Engenho de Dentro, se não saltar agora só no próximo baile em Realengo". Já vi que tu vais ficar com a música na cabeça, foi mal... ) até a faculdade são mais de 40 Km, só de ponte são 13...

Em um dia normal, o ônibus do meu bairro até o centro do Rio levava 40 a 50 minutos, mas com chuva... Nem Deus sabe...

Saí de casa 10:30, desci minha rua até o ponto de ônibus, cheguei no ponto e fiquei esperando o ônibus que deixava na Praça XV, pra que eu pudesse pegar a barca Rio-Niterói, porque pela ponte, com o caos que estava, ia levar no mínimo umas 4 horas pra chegar...

O ônibus demorou um pouco, mas antes de 11 eu já estava a caminho, espremido que nem sardinha em lata, porque parecia que todo o subúrbio resolveu pegar aquele raio de ônibus naquele dia, tava saindo gente pela janela de tão cheio.

Murphy é Implacável - ou Como passear pela Baía de Guanabara estando atrasado!Onde histórias criam vida. Descubra agora